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26 de março de 2015
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10:39

Fim da corrupção depende dos partidos

Por
Sul 21
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Por Sergio Araujo

Para que serve um partido político? Pode existir democracia sem a figura do político? Talvez nunca antes na história contemporânea da política brasileira tais questões estiveram tão em voga. Tão publicamente expostas. Que o digam os cartazes expostos nas grandes manifestações populares realizadas desde junho de 2013. E a razão ao que tudo indica é uma só. O descrédito e a consequente perda de credibilidade dos partidos e dos políticos.

Se é verdade que partido significa parte da sociedade, representada por uma associação de pessoas que comungam do mesmo ideário político, e que têm a pretensão de alcançar o poder político, ou influenciá-lo tanto quanto possível, para que o Estado possa ser conduzido em consonância com esse conjunto de ideias, nunca o segmento apartidário foi tão majoritariamente atuante e crítico. E isso pode ser detectado não apenas pela rejeição à participação de agremiações partidárias nos protestos de rua mas, especialmente, nos crescentes índices de abstenções, votos nulos e brancos, nas últimas eleições.

E não é por menos. Nunca antes nesse país se viu tantos fatos negativos envolvendo políticos. Com ou sem mandatos. E o pior é que aos acusados de corrupção quase sempre foram imputados a prática de formação de quadrilha. Ou seja, a existência de crime organizado. E organização na política significa partido. E aí é que está o X do problema. Tudo o que envolve o político envolve também o seu partido?

Bem, ai entramos num debate de causa e consequência. A resposta correta, ao meu ver, é não. Fosse assim não haveria instituição preservada. Errar é humano, já diz o ditado. Desumano é acobertar o erro. E é assim em qualquer atividade humana, e não apenas na política. Além do que seria penalizar com a injustiça os políticos éticos e probos que estão presentes em todos os partidos. Então a prudência recomenda muita cautela na acusação fácil e oportunista.

Vejamos, pois, como se comportaram os três principais partidos envolvidos nos casos do Mensalão e do Petrolão. O PT, na contramão dos fatos, preferiu negar a participação da sigla, apostando no descrédito das denúncias e na defesa da inocência dos filiados nelas envolvidos. Nem mesmo os dirigentes da Petrobrás, em meio a Operação Lava-Jato, foram demitidos dos seus cargos. Receberam a oportunidade de se exonerarem voluntariamente. Como resposta ao clamor popular pelo fim da corrupção, o partido e sua principal representante, Dilma Rousseff, se manifestaram favoráveis a implantação de um pacote de medidas anticorrupção e a priorização da tão postergada reforma política. E ficou nisso.

O PMDB, por sua vez, manteve sua tradicional postura de neutralidade. Faz de conta que nada tem a ver com as fraudes denunciadas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela imprensa. Apesar de ser governo e de ter várias de suas lideranças envolvidas nas suspeitas de corrupção. Tamanha passividade leva a crer que sua resposta ao clamor das ruas é o silêncio e a omissão, o que lhe coloca como parceiro fiel do poder e não da vontade popular.

Também o PP, outra sigla que teve filiados envolvidos nos escândalos de corrupção, pelo que se observa nas atitudes do comando nacional do partido, se abstém de uma análise mais aprofundada do problema. Nem mesmo um gesto de grandeza partidária o seu presidente nacional foi capaz de fazer, renunciando ao cargo por estar relacionado como beneficiário da propina distribuída pelo Petrolão. Mas ao contrário do PT e do PMDB, surgiram focos internos de descontentamento. O diretório do Rio Grande do Sul, por exemplo, afirmou em nota oficial que não será guardião de possíveis mal feitos ou desvios éticos comprovadamente praticados por filiados. É que espera lideranças como a senadora Ana Amélia Lemos, que condiciona seu futuro na sigla à separação do “joio do trigo”.

A grande indagação que se impõe é por que após a repercussão negativa do Mensalão os partidos nada fizeram para moralizar seus quadros. Sim, pois a raiz da perda da credibilidade partidária está justamente nos malfeitos praticados por pessoas. Por que então não adotaram critérios mais rigorosos para o ato de filiação? Por que não afastaram dos cargos diretivos pessoas sob suspensão moral e comportamental? Por que não expulsaram das fileiras do partido aqueles que foram condenados pela justiça? Tivessem feito isso talvez não surgissem novos casos de corrupção. Ou será que se julgam impunes? Não bastaram as condenações e a repulsa popular?

De nada vai adiantar implantar uma reforma política, regulamentando o modus operandis de uma campanha eleitoral, se os partidos não apresentarem à sociedade uma nominata de candidatos confiáveis e realmente comprometidos com a causa pública. Essa sim seria a verdadeira reforma política tão desejada pelos brasileiros. Menos artistas da mentira, do engodo e da desfaçatez, e mais cidadãos de bem.

A recuperação da credibilidade dos partidos e o fortalecimento da democracia dependem, fundamentalmente, dos próprios partidos, que ao contrário do que significa a expressão, devem se unir pela nobre causa do bem servir e não do servir-se bem. O tempo urge, creiam, e a questão é de sobrevivência. Salve-se quem puder.

Sergio Araujo é jornalista e publicitário


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