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19 de março de 2015
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11:16

A tática do avestruz pode fazer o PT perder a cabeça

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A tática do avestruz pode fazer o PT perder a cabeça
A tática do avestruz pode fazer o PT perder a cabeça

Por Sergio Araujo

Sou cético com medidas tomadas sob o clima de forte emoção. Por exemplo, não confio integralmente na delação premiada de quem utiliza esse benefício legal apenas para reduzir sua pena prisional e não por estar arrependido pelo erro cometido. Desconfio, também, da veracidade de confissões obtidas mediante tortura física ou psicológica, seja através de uma simples chinelada ou de uma agonia no pau-de-arara.

É por isso que, à priori, não vejo com bons olhos a repentina onda de humildade da presidente Dilma, do PT e do PMDB, manifestada após os protestos do último dia 15. Fosse algo consciente, tal atitude já deveria ter sido tomada em 2003 quando importantes lideranças petistas foram expulsas ou abandonaram a sigla por não concordarem, segundo eles, com às políticas econômicas e sociais direitistas do então presidente Lula.

Nova oportunidade surgiu no final de 2012, já no governo Dilma, quando lideranças partidária de grande expressão dentro do PT foram condenadas por participação no escândalo do Mensalão. E o que Lula e Dilma fizeram? Negaram a existência do Mensalão e saíram em defesa dos companheiros. Inconformados com essa atitude e desconfiados de superfaturamento nas obras da Copa do Mundo, Dilma foi hostilizada pela primeira vez em público, na abertura da Copa das Confederações.

O descontentamento cresceu e em junho de 2013 ocorreu a primeira grande mobilização popular e, novamente, o clamor era pelo fim da corrupção e a melhoria da qualidade dos serviços públicos, especialmente nas áreas de responsabilidade da União, qual seja, educação, saúde e segurança. Às vésperas do período eleitoral, Dilma prometeu rigoroso combate à inflação, reforma política e melhorias na qualidade de vida da população. Tais medidas, entretanto, ficaram apenas no arremedo das boas intenções.

Então vieram as eleições de 2014 e em meio a elas a realização da Operação Lava-Jato, com gravíssimas denúncias de corrupção envolvendo a Petrobrás. Bilhões de reais, diz a Procuradoria-Geral da República, foram distribuídos pelos prestadores de serviço da empresa petrolífera para políticos e partidos. E o que fez Dilma? Disse desconhecer o fato e demora demais para substituir a direção da empresa. Falou também que a corrupção não nasceu nos governos do PT e que nenhum outro governo combateu tanto a corrupção como o seu. Ou seja, mais da mesma retórica e nada de ações concretas.

Resultado? Dois meses e meio após tomar posse do seu segundo mandato, uma massa ainda maior de brasileiros, descontentes com o resultado de novas etapas da Operação Lava-Jato e do expressivo aumento do preço dos combustíveis e da energia elétrica, dentre outros, foi para as ruas manifestar seu descontentamento e sua desilusão com os rumos da nação. E as palavras que mais se ouviu foi impeachment, corrupção, fora Dilma e fora PT. Independente das motivações a leitura é clara: Do jeito que está não dá para ficar.

E o barulho das vozes das ruas foi tanto que ultrapassou as fronteiras do país e alcançou a mídia internacional. E o dólar disparou e os investidores internacionais passaram a ver o Brasil como um investimento de risco. Ou seja, desta vez foi tsunami e não marolinha. E a presidente e sua base aliada, tal qual faz o avestruz, tiveram que tirar a cabeça do buraco e encarar a dura realidade.

Pois bem, ciente da gravidade da situação (finalmente) a presidente Dilma lança um pacote de medidas para combater a corrupção. Várias delas requentadas. Mas antes isso do que nada. Pena depender de aprovação de outra instituição também combalida pelo descrédito popular, como o Congresso Nacional. Aliás, seguindo o exemplo do Palácio do Planalto, o PMDB ressurge das sombras e apresenta uma proposta de reforma política. “Até tu Brutus”? Mas como desta vez parece que que a coisa vai mesmo engrenar, o mais aconselhável é redobrar a atenção para saber o que vem por aí. É que muitos dos que irão votar a reforma são suspeitos de terem se beneficiado com o uso indevido dos recursos públicos. A começar pelos presidentes da Câmara e do Senado.

Agora, se a sua intenção é fazer crer que existe solução para o atendimento do brado das ruas, é recomendável que Dilma se empenhe pessoalmente nesse esforço. A começar por admitir a existência do Mensalão e do Petrolão. Respeitar a decisão da Justiça, exigindo a expulsão partidária de quem for condenado. Chamar o ministro da Fazenda e fazê-lo entender de que a última palavra é e sempre será da presidente e que recessão não combina com desenvolvimento. Mas se ela realmente quer fazer crer que a mudança será verdadeira, que por favor elimine do seu vocabulário a expressão ufanista “nunca antes nesse país”.

Sergio Araujo é jornalista e publicitário.


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