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19 de fevereiro de 2015
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11:01

Impeachment? Por quê e para quê?

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Impeachment? Por quê e para quê?
Impeachment? Por quê e para quê?

Por Sergio Araujo

Quinze de março de 1990. Os brasileiros, na sua maioria adeptos ou simpatizantes dos partidos de direita, saem às ruas para comemorar a posse de Fernando Collor de Mello como primeiro presidente eleito pelo voto popular após a redemocratização. A bandeira que o conduziu ao Palácio do Planalto? O combate à corrupção. Vinte e nove de dezembro de 1992. Dois anos, nove meses e quatorze dias após assumir a presidência da República, o “Caçador de Marajás” renuncia ao cargo para fugir do impeachment que lhe fora instalado pelo Congresso Nacional com o apoio da maioria da quase totalidade da sociedade brasileira. O motivo da saída? Corrupção política.

Quinze de março de 2015, vinte e dois anos após a renúncia de Collor, a direita brasileira voltará a se reunir para pedir a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O motivo? O fim da corrupção no governo petista. A acusação? Envolvimento nas denúncias de fraude na Petrobrás. Mas que democracia é essa que justifica a queda de um presidente da República por uma suspeita de participação ainda não comprovada? Aliás, que governo passou impunimente seu período sem ter sido alvo de suspeita de corrupção? Até mesmo no período governado pelos militares houveram denúncias e suspeitas de corrupção. Nos de FHC e Lula, então, nem se fala.

Mas o que significa então esse radicalismo? Que a corrupção é um vírus impregnado na política tupiniquim, que contagia quem quer que esteja no poder? E que o remédio para extirpar a doença instalada é o impeachment? Fosse verdade, como explicar a continuidade das denúncias de corrupção nos governos que sucederam Collor de Mello? Ou será que vamos nos transformar no país do impeachment? Foi para isso que lutamos tanto pelo direito ao voto? Dúvidas são contornadas com fatos. Suspeitas, com comprovação. Condenação, com provas. E não simplesmente pela troca pura e simples de presidentes.

No caso específico da ojeriza ao PT, a razão maior está na comparação do passado com o presente do partido. Quando na oposição, o PT se apresentava à sociedade como um partido imune à corrupção e outras mazelas praticadas pelos partidos que dominavam a política brasileira. Uma vez alçado ao poder, passou a praticar os mesmos equívocas antes condenados. Resultado? Tornou-se, aos olhos do cidadão, mais do mesmo. E foi isso que acabou encorajando a direita a sair da contemplação e passar para a ação. Mas isso é um problema do PT e não do povo brasileiro.

Mas se é verdade que na história político-partidária do Brasil não existem cordeiros, só lobos, o que justifica que Dilma, em apenas dois meses e meio do seu segundo mandato, tenha se transformado em terrível vilã, a ponto de ser apontada como a próxima vítima de um impeachment? É isso que a sociedade se pergunta. E é isso que divide as opiniões. Até que as verdadeiras razões sejam transparentemente apontadas, o protesto de 15 de março se apresenta mais como uma atitude revanchista, de quem não aceitou a derrota nas urnas, do que uma ação moralizadora.

Se existem dúvidas sobre a participação da presidente nas fraudes praticadas contra a Petrobrás, cabe a Polícia e a Justiça Federal esclarece-las. Talvez com a ajuda do Congresso Nacional, através de uma CPI, já criada. São nesses fóruns qualificados e não nas ruas que a verdade irá prevalecer. Mas não há como negar que uma mobilização popular, quanto feita por uma boa causa, é sempre bem-vinda. Que o digam os protestos pelas Diretas Já e de Junho de 2013.

Por isso, se os manifestantes de 15 de março desejam realmente contribuir para a melhoria do país, quem sabe começam defendendo causas objetivas, como a melhoria dos serviços públicos, o combate à inflação, o fim da corrupção no serviço público e a reforma política. Caso não sejam atendidos, tem todo o direito de substituir os seus representantes. Nas urnas. É assim que se constrói um Brasil desenvolvido e democrático, e não um país alicerçado no casuísmo e/ou no oportunismo.

Sergio Araujo é Jornalista e Publicitário


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