Colunas>Sérgio Araújo
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26 de fevereiro de 2015
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11:33

Governar é coisa séria

Por
Sul 21
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Cada pessoa tem sua própria personalidade. Seu estilo próprio. E seu modo particular de ver e levar a vida. Natural, em se tratando de individualidade. Eu, por exemplo, não sou adepto do humor desaforado do Rafinha Bastos. Nem do humor escrachado do Zorra Total. Prefiro as piadas inteligentes do Jô Soares, que me fazem rir e pensar. Mas trata-se de preferência pessoal. E como bom democrata respeito a individualidade dos que não pensam como eu. Agora, quando o assunto é coisa séria, que envolve o interesse coletivo, não me permito fazer graça. E nem acho graça nos que assim procedem. Ainda mais quando se trata de lidar com o dinheiro dos outros.

É por isso que não acho divertido quando um governante usa subterfúgios humorísticos para tratar assuntos de grande relevância social. Acho que as comparações entre política e futebol utilizadas por Lula, por exemplo, não contribuem para o esclarecimento de questões de interesse nacional. O contrário, como a demora do posicionamento de Dilma sobre a Operação Lava-Jato, também é prejudicial aos interesses maiores da sociedade.

Faço essas referências para chegar a resposta dada pelo governador Sartori à uma pergunta formulada por uma repórter na reunião-almoço promovida pelo Palácio Piratini com a imprensa. Ao ouvir do governador um relato sobre a gravidade das contas públicas do Estado e saber que Sartori pretende percorrer o território gaúcho apresentando aos prefeitos uma radiografia da situação, a jornalista indagou-lhe quais as medidas que ele pretendia anunciar. Sartori sorriu e respondeu: “Um metro e setenta e dois”. Como se a pergunta se referisse as suas medidas corporais. E complementou dizendo estar um pouco acima do peso. E nada mais acrescentou.

Ora, convenhamos que apesar de se tratar de um encontro descontraído a pergunta nada tinha de comicidade. Pelo contrário, sintetizava uma angústia que assombra os gaúchos, por conta das ameaças recessivas divulgadas pelo próprio governo, e que apesar de quase dois meses de atuação ainda não foi respondida. Isso, somado a uma campanha eleitoral onde não houve quase nenhuma exposição de intenções, faz de Sartori uma incógnita de feições dramáticas e não humorísticas.

Por outro lado, surpreendeu-me não ver o fato salientado nos espaços da imprensa. Será que que o comportamento do governador já está sendo encarado naturalmente como uma questão de estilo e não de conduta? Como reduzir tamanha ausência de conteúdo a uma risada coletiva sem maiores consequências? Tal qual a política, comunicação também é coisa séria. Os eleitores e leitores merecem um tratamento de respeito por parte dos seus representantes. Mesmo que Sartori diga que não vai mudar seu jeito de ser e de se comportar.

Em meio a essa pantomina de enigmas e versões desencontradas nada de prático sobe ao palco. Sartori não foi nenhuma vez à Brasília. Dilma não demitiu ninguém na Petrobrás. E Lula continua discursando apenas para o PT ouvir. Por isso não me surpreende os protestos que a cada dia que passa tomam conta das ruas. Um povo sem liderança é um povo sem rumo. E qualquer caminho é destino.

Sergio Araujo é Jornalista e Publicitário.


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