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5 de fevereiro de 2015
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11:00

Assim caminha a criminalidade

Por
Sul 21
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Por Sérgio Araújo

Estarrecedores mas não surpreendentes os números divulgados pela Secretaria de Segurança Pública o Rio Grande do Sul sobre o avanço da criminalidade no território gaúcho. Estarrecedor porque em qualquer sociedade civilizada é inadmissível que uma pessoa seja assassinada a cada três horas. Não surpreendente porque as estatísticas comprovam que os homicídios dolosos tem uma incidência crescente ano/ano. No período 2013-2014, por exemplo, o crescimento desse tipo de crime foi de 23 por cento, passando de 1.914 para 2.346 homicídios. Isso sem falar no avanço de outros tipos de crimes, como o roubo de veículos à mão armada, que teve um crescimento de 16% em apenas um ano, alcançando a marca de 18.787 veículos, equivalente ao roubo de um veículo a cada trinta minutos. Ou das 226 mil pessoas que são roubadas ou furtadas anualmente, numa proporção de uma vítima para cada cinco habitantes.

Claro que a culpa é dos governos (municipal, estadual e federal). Não do atual ou de algum outro em especial. Mas de uma histórica política de segurança pública inadequada e ineficiente, fruto da falta de comprometimento governamental com áreas não menos importantes, como a educação e a saúde. Ou seja, de gestão. Ou melhor, de prioridade. E não me refiro a tão badalada vontade política, mas de responsabilidade social. Se governar é eleger prioridades, pode haver primazia maior do que a proteção à vida, bem maior de um ser humano? Então por que tão pouco investimento na complementação dos efetivos policiais? Por que o descaso para com a qualificação e modernização desses efetivos? Por que a morosidade da Justiça criminal e o descontrole nos presídios? E tantos outros por quês.

Mas o que mais surpreende e estarrece é o fato de que a sociedade parece estar se acostumando com o clima de insegurança – se é que isso seja possível -, banalizando o medo. Prova disso é a transformação de lares em casamatas domésticas. Para os sobreviventes do crime as notícias da imprensa, retratando o avanço da criminalidade, não abalam mais como antes. E tudo isso tem contribuído para a construção de uma sociedade ditada pelo medo e pelo descrédito para com as autoridades.

Óbvio que a saída não está no enfrentamento direto do cidadão com o criminoso. Mas também não está na transformação do contribuinte em refém da insegurança. Viver em liberdade é ter o livre arbítrio para ir e vir em segurança. É poder usufruir dos bens conquistados legalmente, pelo trabalho. É dormir com a tranquilidade de que seus filhos e netos voltarão são e salvos para casa. E isso convenhamos é fundamental para se ter qualidade de vida.

Então por que não cobramos mais efetividade dos nossos governantes na prevenção e combate à criminalidade? Perdemos a oportunidade de fazer isso durante a campanha eleitoral. Mas temos a opção dos protestos. Na mídia, nas casas legislativas e nas ruas. Ordeiramente, como convém a quem clama por ordem e segurança. Ficar reclamando comodamente pelas redes sociais não vai resolver o problema. É hora de tomarmos as rédeas do nosso destino. Melhor, das nossas vidas. A começar cobrando fortemente que os governos pratiquem sua lição de casa, fazendo funcionar bem o pouco que existe. Para que episódios como a prisão de um comissário de polícia que dava segurança à um traficante nunca mais se repita.

Como estímulo a essa necessária reação popular vale a pena relembrar os versos do poeta Eduardo Alves da Costa:
“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite já não se escondem, pisam as flores e matam nosso cão.

E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho na nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca- nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.”

Sérgio Araújo é Jornalista e publicitário


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