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1 de janeiro de 2015
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19:07

Queijo parmesão ou polenta?

Por
Sul 21
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Sartori | Foto: Tonico Álvares
Sartori | Foto: Tonico Álvares

Vai ser bonito de se ver. De um lado o governo que sai dizendo que vai entregar as finanças do Estado melhor do que quando recebeu, quatro anos atrás, e do outro, o novo governo, que se diz preocupado com o déficit que irá herdar, a ponto de projetar problemas para o pagamento do funcionalismo público já nos primeiros meses de gestão. Tarso fala muito. Sartori fala pouco. Mas quem está com a razão? É isso que interessa aos gaúchos? Ou o importante não é o passado e sim o futuro?

Tudo indica que estamos entrando numa guerra de versões. E aí é que se encontra a importância da comunicação. O PT já provou que entende do riscado. Até mesmo para tornar uma meia verdade em verdade absoluta. Dizem que de tanto repetir uma mentira é que se constrói uma verdade. Eu não acredito. Sou cético. Para mim falso é falso, verdadeiro é verdadeiro. Ou como dizem os mais antigos, “mentira tem perna curta”. E eu acrescento, mas tem língua e braços longos.

Uma das palavras mais utilizadas na campanha eleitoral foi a transparência. Pois bem, se os verdadeiros números forem divulgados, saberemos quem está dizendo a verdade. É por isso que o governo que entra tem obrigação de cobrar transparência do que sai. E os gaúchos, a transparência das ações pretendidas pelo governo que entra. Falar de mais sem comprovação é gerar dúvida. Não disser a que veio e o que pretende gera mais dúvidas ainda.

Mas essa batalha tem prazo de duração. Tem que ser nos primeiros meses de 2015. Afinal, o Rio Grande há muito espera por um governo que seja realmente proativo e empreendedor. Quando o eleitor manifestou sua vontade na urna eletrônica o fez na esperança de dias melhores e não de chorumelas. E todo novo governo tem a obrigação de fazer mais do que o seu antecessor. Senão não haveria motivo para a troca. Além disso, temos a experiência do embate político levado à efeito durante todo o governo Yeda, que pouco contribuiu para a solução dos graves problemas estruturais enfrentados pelo Estado.

E essa é a expectativa dos gaúchos. Ainda mais porque o vencedor das eleição quase nada antecipou do que pretende. Nem na campanha e nem no período de transição. Mas o papel a ser desempenhado pelo PT na oposição já é de todo conhecido. Será duro e inflexível. As entrevistas dadas por Tarso Genro à imprensa após a eleição comprovam isso. E mais, ele já mostrou que está fardado para a luta. “Defenderei o meu legado”, afirmou, mostrando que para o PT o dia 1º de janeiro de 2015 será o primeiro dos 1.460 dedicados ao esforço para retornar ao Palácio Piratini.

Mas e o governo Sartori? Como será? E que ritmo irá imprimir? Já há quem esteja preocupado com a demora na composição do segundo escalão, ainda não anunciado, e que será montado com o “trem” em andamento. Além disso, cresce a expectativa para as primeiras medidas a serem anunciadas. Claro que existe a tolerância natural de quem assume. Mas isso não pode se dar de maneira tão vagarosa que pareça dúvida e nem tão acelerado que pareça afobação.

Em recente entrevista à imprensa o governador eleito declarou que pretende fazer um governo simples, que converse com a comunidade e saiba se integrar, que enfrente os problemas com orientação segura, firme e que tenha coragem e determinação. Trata-se, não se pode negar, de boas intenções. Mas é preciso transformá-las em ações objetivas. E condições para isso Sartori tem. E mais. Tem a credibilidade de 3.859.611 votos, tem um secretariado formado basicamente por políticos experientes e tem uma ampla maioria governista na Assembleia Legislativa.

Com esse crédito, a sociedade gaúcha pode e deve esperar avanços do novo governo. Entretanto, a preocupação com a saúde financeira do Estado, apesar de plenamente justificável, não pode absorver toda a energia operacional. Dinheiro é importante mas não é tudo. Existem questões urgentes, localizadas em áreas de responsabilidade direta do Executivo, que precisam ser atacadas de imediato e que dependem muito mais de um gerenciamento qualificado do que de recursos. A questão prisional, por exemplo. A qualificação do ensino básico prestado pelas escolas estaduais e a melhoria na prestação dos serviços do IPE-SAÚDE.

Por tudo isto é que o governo Sartori vai assumir com o desafio de cumprir o compromisso de prestar melhores serviços públicos à população. Cuidando das pessoas. Como um gringo faz com a sua família. Para isto não precisa apresentar uma mesa farta, como gostam os italianos. Pode ser um feijão com arroz bem temperadinho, como gostam os brasileiros. Ou quem sabe até um bom menarosto, prato típico comido pelos imigrantes italianos nos tempos difíceis da colonização do Sul do país.

Buon lavoro e molto progresso, Sartori. Que Nossa Senhora do Caravaggio te ajude e proteja o Rio Grande.

Sérgio Araújo é jornalista e publicitário


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