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22 de janeiro de 2015
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10:56

A transparência da realidade

Por
Sul 21
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A transparência da realidade
A transparência da realidade

Por Sérgio Araújo*

Todas as atitudes, gestos e declarações realizadas pelo ex-governador Tarso Genro e seus companheiros de governo, além de toda a bancada petista, estão a indicar que o terceiro turno da eleição irá durar os quatro anos do governo Sartori. Preparado para se defender dos ataques contra a sua gestão, as primeiras medidas anunciadas por José Ivo Sartori encorajaram Tarso e seus parceiros a irem além, utilizando a conhecida tática de que a melhor defesa é o ataque. Apesar do poderio bélico das manifestações petistas, o novo governador preferiu não polemizar, mantendo a mesma postura adotada na campanha eleitoral.

Ora, isso para o PT, especialista em fazer oposição, é como bater em cego. Quem conhece o PT sabe que oposição construtiva é uma questão secundária. De retórica. O PT é especialista na construção de obras políticas e leva a sério a máxima de que um partido político existe para conquistar e, se possível permanecer, no poder. Se isso é politicamente errado é outra questão. O que importa é que tem dado certo. E contra um adversário dessa envergadura e com essa determinação não dá para calar e muito menos se omitir.

Mas o pior disso tudo é a guerra de números e dados controversos que confundem a cabeça do cidadão e prejudica sua expectativa de melhora de vida. Isso nos primeiros dias de um novo governo é preocupante. Claro, pois o eleitor escolhe um candidato pela esperança de que ele vá fazer mais e melhor do que o seu antecessor. E cá entre nós, as primeiras medidas anunciadas pelo novo governador são um tanto desalentadoras. Na cabeça do contribuinte a leitura é clara: O que aconteceu de tão grave que fez com que a normalidade financeira de dezembro tenha virado um caos financeiro de janeiro?

Toda essa confusão tem uma razão de ser. Falta informação. Ou sobra informação desencontrada. De um lado Tarso diz ter deixado recursos e financiamentos para pagar fornecedores e construir estradas. Do outro, Sartori declarando que a situação financeira é tão grave que não tem como pagar em dia os prestadores de serviço e nem chamar concursados. E seu secretário da Fazenda não afasta a possibilidade de um dia não ter como pagar integralmente a folha do funcionalismo. Se é assim, por que ainda não foi apresentada uma radiografia completa da situação financeira do erário? Isso acabaria de vez com a dúvida.

Sem opinar, considero importante a explicação sobre algumas questões. Por exemplo, como serão ressarcidos os saques dos depósitos judiciais, utilizados em abundância pelo governo Tarso? Outra, como fica o combate à crescente violência se a polícia, por ter tido suas horas extras cortadas, não mais atuará fora do horário de expediente? E outra mais. Qual a real situação financeira do IPE-SAÚDE, que não está conseguindo sequer pagar os médicos e demais prestadores de serviço? E o pagamento de precatórios terá continuidade? E como ficarão os investimentos em infraestrutura?

São questões como essas que assombram o futuro do Rio Grande e dos gaúchos. E essa incerteza já deveria ter sido afastada. Ou pelo menos amenizada. Afinal, todos os candidatos que concorreram ao Governo do Estado prometeram valorizar a transparência como ferramenta de trabalho. Urge, pois, que isso saia do discurso e passe para a prática. Mais de 11 milhões de pessoas aguardam por isso. Mostrar a realidade financeira do Rio Grande, mais do que uma informação, é um serviço público.

Aliás, o Tribunal de Contas do Estado, dias atrás, numa louvável iniciativa, chamou os secretários de cada área do governo estadual para entregar-lhes um levantamento das precariedades de cada órgão, baseado nos relatórios técnicos formulados pelos técnicos do TCE. Se isso não bastar, tem ainda os apontamentos realizados pela Contadoria e Auditoria-Geral do Estado (CAGE), obtidos em rigorosas inspeções da máquina pública. São dados fidedignos e isentos que certamente poderão contribuir para o fim do impasse gerado pelas informações contraditórias de parte a parte.

Por que então a demora na apresentação da realidade da situação financeira do Estado? Os gaúchos tem o direito de saber o que tem dentro dessa caixa preta. Em outras palavras, quem afinal está falando a verdade? E que futuro nos aguarda?

*Sérgio Araújo é jornalista e publicitário


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