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27 de novembro de 2014
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11:30

Menos corrupção e mais educação

Por
Sul 21
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Menos corrupção e mais educação
Menos corrupção e mais educação

Por Sérgio Araújo

Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações.

A casa caiu. Perdeu. Duas das mais conhecidas manifestações utilizadas pelos criminosos em seu assaltos podem ser aplicadas aos envolvidos no escândalo do Petrolão, desmascarados recentemente pela Operação Lava Jato da Polícia Federal. São senhores engravatados, de invejada posição social, grandes empreiteiros, executivos de primeira linha da maior estatal do país, a Petrobras, doleiros e ao que tudo indica, políticos. Tudo gente fina, da melhor qualidade, mas com um comportamento compatível com a de um reles ladrão de galinhas. Tal qual os bandidos, só são valentes na hora de praticar o crime, pois ao serem presos agem como covardes, traindo a confiança dos seus comparsas. Ou a delação premiada não é uma caguetagem?

Fico imaginando como deve estar se sentindo o servente que diariamente teve que aguentar calado as humilhações dos executivos flagrados pela PF, com medo de perder o emprego e não poder sustentar sua família com seu baixo salário. Ou a vizinha que se orgulhava de ver seus filhos se relacionando com os filhos do bem sucedido e competente empresário. Ou o humilde cabo eleitoral que comia pão com mortadela com a certeza de estar contribuindo para baratear a campanha do seu candidato. Ou a imensa maioria dos brasileiros que acreditavam que a falta de recursos era realmente o motivo para que o governo não realizasse as obras e serviços imprescindíveis para a sua comunidade.

Lesa pátria é pouco para classificar esses bandidos do colarinho branco. Foram tantos e tão volumosos os recursos desviados dos cofres públicos que o Mensalão, até então considerada a maior fraude do erário federal, ficou parecendo mesmo uma simples mesada. Compreensível. Se a estimativa é de que o Mensalão movimentou R$ 140 milhões, o levantamento inicial da PF aponta que o valor da fraude do Petrolão já ultrapassa os R$ 10 bilhões. Dez bilhões em propina. Sabem lá o que isso? É muito, mas muito dinheiro.

Isso me fez lembrar um episódio onde um velho diretor de uma estatal portuária, servidor de carreira, com quem eu trabalhava, ao ser indagado por mim sobre o fato dos estivadores saírem da área sem serem revistados, me disse: “Esses não me preocupam, podem até estar levando algum contrabandozinho na sacola, o que me preocupa são os que circulam pelo porto, bem vestidos, sem carregar nada nas mãos”. Como uma fraude do porte do Petrolão pode ser executada durante tanto tempo sem que ninguém se desse conta? Essa é a explicação que a população aguarda das nossas autoridades? Onde estava a fiscalização? O controle? O zelo pelo dinheiro público?

Essa é a questão. Claro que os culpados devem ser exemplarmente punidos. Óbvio que devem ser tomadas medidas internas na Petrobras para que tais fatos não mais ocorram. Mas e nas outras estatais? O que está sendo feito para evitar situações semelhantes? Se é que já não estão sendo praticadas. De nada adianta se jactar por estar investigando um crime já realizado. Governo eficiente age preventivamente. Começando por indicar as pessoas certas para as funções de maior responsabilidade. Depois, impedindo que a política interfira nas áreas técnicas. Se partido é uma parte da sociedade ele não pode fazer valer seus interesses numa área que pertence a sociedade como um todo.

Embora essas cautelas precisem urgentemente serem adotadas, não há como negar que a corrupção, ao que tudo indica endêmica no Estado brasileiro, tem suas raízes antropológicas na cultura do país. Na aceitação pacífica da chamada Lei de Gérson. Na exagerada prevalência do Eu sobre o Nós. Da consciência de que o progresso se conquista com o trabalho e não com a facilidade ou o famoso jeitinho brasileiro. E isso começa em casa, na família. Com o exemplo repassado pelos pais aos filhos. Aliás, você tem conversado com seus filhos sobre isso tudo? E tem seguimento na escola. Mas não a escola chata e desinteressante. Mas a escola que ensina para a vida. Que faz pensar e refletir. Por falar nisso, você tem se preocupado com a qualidade do ensino prestado ao seu filho(a)? Se a resposta a estas duas perguntas for não, você está cometendo o mesmo erro dos nossos governantes. Não está prevenindo a proliferação de novos maus cidadãos.

Educação. Tudo passa por ela. E quanto de melhoria teria sido possível promover com os R$ 10 bilhões descobertos pela Operação Lava Jato. Mas se a solução é investir em educação não tem como não parecer irônico que os recursos previstos para que ela finalmente se transforme na prioridade nacional venham do Pré-Sal. Em outras palavras, da Petrobrás.

Sérgio Araújo é jornalista


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