Colunas>Selvino Heck
|
6 de julho de 2019
|
13:06

Uma outra economia acontece

Por
Sul 21
[email protected]
Uma outra economia acontece
Uma outra economia acontece
Divulgação

 Selvino Heck (*)

“A ecologia humana é inseparável da noção de bem comum, princípio este que desempenha um papel central e unificador da ética social. É o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição. Nas condições atuais da sociedade mundial, onde há tantas desigualdades e são cada mais numerosas as pessoas descartadas, privadas dos direitos humanos fundamentais, o princípio do bem comum torna-se imediatamente, como consequência lógica e inevitável, um apelo à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres. Esta opção implica tirar as consequências do destino comum dos bens da terra, mas – como procurei mostrar na exortação apostólica Evangelii Gaudium – exige acima de tudo contemplar a imensa dignidade do pobre à luz das mais profundas convicções de fé. Basta observar a realidade para compreender que, hoje, esta opção é uma exigência ética fundamental para a efetiva realização do bem comum.”

São palavras do Papa Francisco na Carta Encíclica ‘Laudato Sì’, sobre o cuidado com a Casa Comum e a proposta de Ecologia integral. São palavras que dialogam diretamente com a vigésima sexta FEICOOP – Feira Internacional de ECOSOL (Economia Solidária) – e a décima quinta Feira Latino-americana de ECOSOL, a realizarem-se de 11 a 14 de julho em Santa Maria, Rio Grande do Sul, com o lema ‘Construindo a sociedade do BEM VIVER: Por uma Ética planetária’. E afirmando: ‘Um outro mundo é possível, uma outra Economia acontece’.

A capa da Agenda Latino-americana/2019, ‘As grandes causas… no pequeno’, diz: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouto importantes, consegue mudanças extraordinárias (provérbio africano).” A Economia Solidária é um destes espaços onde a ‘gente simples’ reúne-se em grupos, em Cooperativas, em Associações, em Feiras e Comunidades. Planta sementes de vida todos os dias. Constrói o novo e a esperança. Especialmente nestes tempos em que vicejam o ódio, a intolerância, o individualismo, a ganância e o lucro desmedidos.

Dom Pedro Casaldáliga (de quem está sendo lançado o livro ‘Um Bispo contra todas as Cercas – A Vida e as Causas de Pedro Casaldáliga’, de Ana Helena Tavares) e José Maria Vigil escrevem, em ‘As grandes causas… no pequeno’: “Mas ‘o político não é tudo’, efetivamente. Nem o macroeconômico, nem as reformas estruturais, nem as Grandes Causas, são capazes de nos revelar tudo o que na realidade é genuinamente ‘grande’: em valor por si mesmo, em dignidade, ou, em outro nível, em outra longitude de onda – mesmo que seja algo ‘pequeno’ em tamanho, em número, em aparência, ou em eficácia política. As ‘Grandes Causas’ estão em jogo também – não apenas -, no ‘pequeno’ de todo dia…”

A transformação acontece no gesto cotidiano de quem luta por dignidade, por direitos, no esforço de quem produz o necessário para comer e viver bem, de quem, não soltando a mão da vizinha e do vizinho, da companheira e do companheiro, junta-se para trabalhar junto, de quem troca experiências e práticas com quem está a seu lado e partilha vivência e sabedoria. O aparentemente ‘pequeno’ torna-se ‘grande’ na Economia Solidária, porque a ação local articula-se com a ação global, porque os gestos e as ações se multiplicam, espalham-se pelo mundo, frutificam flores e frutos de bondade, de paz, de fraternidade, de justiça, de igualdade.

O Papa Francisco disse, em Encontro com José Graziano, que está entregando o cargo de Diretor Geral da FAO, o órgão da ONU para a agricultura e alimentação, e lembrando do Programa Fome Zero: “Fome se combate com compaixão e vontade política”. A Economia Solidária e seus valores de fazer coletivo, de amor ao povo, de dar pão a quem tem fome, de partilhar bens e saberes, mostra este cuidado com a outra e o outro, o cuidado com todos os seres humanos e todos os seres vivos. E demonstra a decisão e o compromisso com os excluídos, os mais pobres, os esquecidos da história, e com a Casa Comum.

Um outro mundo é possível. Uma outra economia acontece, diz, mais uma vez, a FEICOOP, a Feira De Economia Solidária de Santa Maria, para o Rio Grande do Sul, para o Brasil, para a América Latina, para o mundo. A solidariedade é plantada diariamente e cresce. O Bem Viver indígena, a harmonia com os seres humanos e a natureza vivem, fazem florescer e espalham uma ética e valores que são de todo planeta terra, de toda humanidade.

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990).

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora