Colunas>Selvino Heck
|
29 de junho de 2019
|
11:07

Fé e Política: 30 anos de um movimento

Por
Sul 21
[email protected]
Fé e Política: 30 anos de um movimento
Fé e Política: 30 anos de um movimento

 Selvino Heck (*)

“Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos fazer de Pilatos e lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política porque a política é uma das formas elevadas de caridade, porque ela procura o bem comum. A política é um compromisso de humanidade e santidade.” São palavras justas e orientadoras do Papa Francisco.

Voltando no tempo: “Em 20 de dezembro de 1988, em Petrópolis, o grupo estava convicto de que aquele algo novo exigia nascer. Neste sentido, foi organizado um Seminário ampliado para os dias 24 e 25 de junho de 1989 no Rio de Janeiro. Aí então, entre foguetes e fogueiras de São João que iluminavam os céus do Rio de Janeiro, nasceu finalmente a criança, batizada com o nome de ‘Movimento Fé e Política’. Pais e mães, padrinhos e madrinhas dela são todos aqueles e todas aquelas que participaram do longo período de gestação. Esta criança vai precisar de uma família que a ame e que a queira ver crescer saudável e robusta. Por isso, todos aqueles e todas aquelas que sentirem em seus corações despertar o comprometimento com a fé e a política farão parte desta grande família que permitirá a esta criança ser jovem e depois adulta. Assim como nós o queremos, também o queira Deus, Pai e Mãe” (Márcia Miranda, Um Tempo fecundo de Gestação, em Movimento Fé & Política , Histórico, Princípios, Natureza, Organização e últimos encaminhamentos, outubro de 1991).

Em Princípios do Movimento Fé e Política, documento deliberado no Rio de Janeiro em 24 de junho de 1989, Festa de São João, está escrito: “O Movimento Fé e Política é um movimento ecumênico, não confessional e não partidário. Ele está aberto para todas as pessoas que consideram a política como campo preferencial da vivência de sua fé e que consideram a fé como fundamento último de sua utopia política.

O Movimento tem como objetivo fazer avançar a reflexão política e a vida espiritual daqueles que estão comprometidos com uma prática política e social. Trata-se daqueles e daquelas que, atuando em movimentos sociais, organizações populares ou partidos políticos, assumem a causa dos pobres e dos oprimidos; que conferem prioridade à conscientização e organização popular de base; que recusam a manipulação das bases e rejeitam qualquer vanguardismo; que afirmam as classes populares como sujeitos da sua história, na construção de uma sociedade democrática e socialista.”

São, pois, tempos de celebração dos 30 anos do Movimento Fé e Política. Um dos momentos fortes de Encontro e Celebração acontecerá no XI Encontro Nacional, que vai acontecer nos dias 12 a 14 de julho em Natal, Rio Grande do Norte, com o tema: DEMOCRACIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E ALTERNATIVAS SOCIAIS: SINAIS DOS TEMPOS NA CONSTRUÇÃO DO BEM VIVER (Informações, contatos, inscrições: www.fepolitica.org.br; [email protected]).

São, pois, tempos proféticos e de urgência. Escreveu Frei Betto, um dos fundadores do Movimento Fé e Política, em ‘Os 10 Mandamentos da Relação Fé e Política’, em 1991, no décimo Mandamento: “A política é tanto mais popular quanto mais a gente se encontra ligada à luta do povo. A fé é tanto mais evangélica quanto mais a gente se liga ao Deus da Vida através da comunidade cristã.”

A ‘grande família’, nas palavras de Márcia Miranda, chegou à maturidade. Nos tempos e conjuntura atuais, de ódio, intolerância, de perda direitos dos mais pobres e trabalhadores, de ameaças à democracia e à soberania, de criminalização da política, as palavras do Papa Francisco, os Mandamentos de Frei Betto, os 30 anos do Movimento Fé e Política são esperança, são luz.

A resistência dos anos 1970, que fez surgir as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), pastorais como a da Terra, a Operária, a da Juventude, o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), cimentadas pela Teologia da Libertação, continua viva. A Igreja em Saída, na proposta do Papa Francisco, os jovens e as mulheres na rua, lutando e exigindo igualdade, democracia, direitos, soberania, o Movimento Fé e Política vivo e forte são sinais de futuro e de uma sociedade do bem viver.

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Fundador e Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora