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14 de março de 2019
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13:08

Marielle Vive!

Por
Sul 21
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Marielle Vive!
Marielle Vive!
Quadro de Marielle no MARGS. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Selvino Heck (*)

Um ano atrás, catorze de março de dois mil e dezoito, em pleno Fórum Social Mundial em Salvador, estourou a bomba, estourou a dor: assassinaram Marielle Franco, vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, e seu motorista Anderson Gomes. Comoção geral, manifestações mil, exigência imediata de apuração dos assassinos e seus mandantes.

Marielle vive, presente em todas e todos nós que amamos a vida.

Marielle vive em cada gesto de amor e bondade de cada ser humano que cuida das outras e dos outros e quer o bem da humanidade.

Marielle vive em cada esquina em que alguém grita liberdade.

Marielle vive em todas as quebradas em que alguém estende a mão para quem precisa de uma mão estendida, especialmente os mais fracos e desvalidos.

Marielle vive onde a mentira é desmentida, e onde a verdade aflora e sobrevive à luz da lua e da manhã.

Marielle vive na luta do sem terra por seu chão, dos sem teto por seu espaço, dos perseguidos porque quererem direitos e pão.

Marielle vive na voz da criança que pede paz.

Marielle vive no grito do jovem exigindo participação, vez, voz, democracia.

Marielle vive onde os pobres se juntam, se organizam e não abrem mão de seu pensamento e palavra.

Marielle vive onde e quando as mulheres não se curvam aos poderosos de plantão, seja em casa, seja na cidade, na rua, em qualquer lugar que for.

Marielle vive na hora de juntar as mãos, de rezar a todos os deuses, deusas e orixás abraçados num abraço universal.

Marielle vive no amor que se revela amor verdadeiro e puro, amor de todas as formas, amor, simplesmente amor.

Marielle vive nos corações, mentes e almas livres de preconceitos.

Marielle vive e está onde estamos, onde cantamos, onde sonhamos, quando amamos, quando estamos juntos, quando choramos nossas dores, onde e quando não soltamos a mão de ninguém.

Mariele vive quando há fé e caridade, quando há justiça e igualdade, quando acontecem a partilha e a solidariedade.

Marielle vive onde e toda vez que se proclama e anuncia que um outro mundo ainda é possível, e não só possível, mas urgente e necessário.

Marielle vive no sonho sonhado por milhões de um tempo sem violência, de um tempo de fraternidade e paz.

Marielle vive para além de tantas mortes, estupros e assassinatos de mulheres e jovens negros, vive na vida dos sobreviventes e ressuscitados.

Marielle vive onde e quando a esperança não se entrega.

Marielle vive no canto da Mangueira na avenida: “Brasil, o teu nome é Dandara/ e a tua cara é de cariri./ Não veio do céu,/ nem das mãos de Isabel./ A liberdade é um dragão no mar de Aracati./ Salve os caboclos de julho,/ quem foi de aço nos anos de chumbo./ Brasil, chegou a vez/ de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês.”

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Em catorze de março de dois mil e dezenove

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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