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8 de fevereiro de 2019
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12:48

Um partido das trabalhadoras e dos trabalhadores

Por
Sul 21
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Um partido das trabalhadoras e dos trabalhadores
Um partido das trabalhadoras e dos trabalhadores
Foto: Marco Weissheimer/Sul21

Selvino Heck (*)

Não podia ser diferente do ponto de vista das elites brasileiras antidemocráticas. 6 de fevereiro de 2019: Lula é condenado mais uma vez sem provas, 4 dias antes do Partido dos Trabalhadores completar 39 anos, fundado em 10 de fevereiro de 1980. E quando ganha corpo sua indicação e crescem as possibilidades de Lula ganhar o Prêmio Nobel da Paz.

Na segunda metade dos anos 1970, a ditadura estava se enfraquecendo. A grande campanha da Anistia e o Movimento de Luta contra a Carestia envolviam a sociedade. Betinho, Paulo Freire, Brizola, Arraes, Darcy Ribeiro e tantos outros voltavam ao Brasil. Aconteceram grandes greves, como as do ABC paulista, as dos bancários e construção civil no Rio Grande do Sul. Havia muito trabalho de base, formação política por todos os lados, primeiras ocupações no campo, movimento sindical combativo, novos movimentos sociais surgindo, movimento estudantil, ONGs, pastorais, Teologia da Libertação, a sociedade em ebulição.

Todas e todos da base popular, que faziam mobilizações e estavam na organização do povo, muitas e muitos dos que lutavam contra a ditadura militar, lutadoras e lutadores em geral não tinham, porém, um partido político que podiam chamar de seu, construído a partir de tudo que estavam fazendo e do que estava acontecendo nas vilas, nos bairros, nas fábricas, nas escolas, nas comunidades.

Foi o contexto em que surgiu o Partido dos Trabalhadores, com seus Núcleos de Base, sua prática democrática e sua proposta de transformação. Na Lomba do Pinheiro, bairro de muita mobilização, trabalho de base e formação, foi criado em 1980 o Núcleo do PT da Lomba do Pinheiro,  (re)fundado em 2017/2018 com o nome Núcleo de Reflexão Política da Lomba do Pinheiro. Naturalmente, e em consequência, a maioria das lideranças populares aderiram ao PT e  acrescentaram a política partidária ao seu cotidiano.

O PT surgiu mais como movimento que como instituição. Era instrumento, ferramenta das trabalhadoras e dos trabalhadores, do povo pobre, para não depender mais das elites e da classe dominante nos processos eleitorais, e avançar na redemocratização do Brasil e na transformação social e econômica. Compreendeu-se que não bastavam as Associações de Moradores, os sindicatos combativos, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e outros espaços fundamentais de organização e luta no período. Precisava-se de um partido que que fosse uma ferramenta de luta e que estivesse sob controle da base popular. Precisava-se de um partido que fizesse política com ética. Os recursos para a ação política e partidária vinham do próprio bolso ou de alguma rifa ou festa coletiva. A militância superava todos os obstáculos e dificuldades. E era necessário um partido que tivesse na sua raiz a mística, que já estava no centro das lutas e da organização de base.

Não era fácil ser do PT nestes tempos. Ou se era considerado excessivamente radical por muitos e pela mídia conservadora, ou era-se taxado perigoso aos valores dominantes ou comunista.

Mas, fruto de sua coerência, de seu programa de transformação, de seu trabalho e enraizamento na base popular, o PT cresceu. A Lomba do Pinheiro elegeu um deputado vinculado à sua história em 1986, dois vereadores em 1988, um por Porto Alegre, outro por Viamão. Foram eleitos governos populares, que instituíram o Orçamento Participativo, e finalmente o PT chegou à Presidência da República, em 2002.

Em 10 de fevereiro de 2019, PT completa 39 anos. O principal, no entanto, não é relembrar o passado, embora sirvam suas lições e o aprendizado, mas, sim, saber como enfrentar novos e grandes desafios que se colocam neste momento histórico, talvez mais difícil que os anos 1970 e o início dos anos 1980.

Em primeiro lugar, os tempos recolocam a urgência, exigem que o PT, nesta conjuntura, seja mais movimento e menos instituição. Isso significa ter trabalho de base, ter núcleos organizados por local de moradia e trabalho, pensar e propor um programa a partir da realidade, da experiência acumulada de lutadoras e lutadores, um programa que coloque a mudança social e econômica e política e cultura no horizonte, que traga esperança, que reavive a utopia de um novo homem e de uma nova mulher. A ética precisa estar no centro da atuação e das práticas políticas do PT no cotidiano, com radicalidade. E o PT precisa fazer política embebida de mística, a mística dos que lutam, a mística dos que se doam por uma causa, a mística dos que reconhecem a outra e o outro como companheiras/companheiros de ideais, de sonhos, de utopia, a mística das e dos que celebram e caminham juntas/juntos, porque ‘ninguém solta a mão de ninguém’.

O PT tem espaço e papel em 2019, tanto ou mais que em 1980. Os tempos atuais de descrédito da política, de ódio e intolerância, os valores dominantes do individualismo, da ganância e do lucro acima de tudo (vide Mariana e Brumadinho, para dar apenas dois exemplos), a urgência de enfrentar a desigualdade econômica e social crescentes no Brasil e no mundo, a perda de direitos em curso, as ameaças à democracia, chamam o Partido dos Trabalhadores a assumir seu papel de luta, organização política, formação da militância e ferramenta de transformação estrutural do Brasil.

O caminho será longo e não será fácil, como já sabiam os fundadores do PT há 39 anos atrás. Os tempos de hoje exigem um eixo aglutinador e unitário que envolva o campo popular, as esquerdas, como foram a luta pela anistia e contra a carestia, as Diretas-Já, a Constituinte, as eleições de 1989. O PT tem papel central, junto com os demais atores políticos e sociais, na defesa dos trabalhadores e das trabalhadoras, dos que sofrem, dos mais pobres, dos ofendidos e humilhados da história, na construção de um novo mundo possível, urgente e necessário.

Longa vida ao Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores. LULA LIVRE!

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990), presidente do PT/RS (1990-1993)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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