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7 de dezembro de 2018
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12:51

Esperançar: vozes proféticas

Por
Sul 21
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Esperançar: vozes proféticas
Esperançar: vozes proféticas
Foto: Guilherme Santos/Sul21

 Selvino Heck (*)

“Vem, vamos embora/ que esperar não é saber./ Quem sabe faz a hora,/ não espera acontecer.”

Nos tempos que correm, há que ter/ser vozes proféticas. Os profetas pregavam a verdade no deserto, muitas vezes, quase sempre, como voz solitária. Os profetas ouviam os clamores do povo, suas dores, seu sofrimento. Os profetas denunciavam os desmandos dos poderosos do tempo, as injustiças, a opressão. As multidões os ouviam e só com o tempo começavam a lhes dar atenção e a dar-se conta de que tudo o que os profetas diziam tinha razão de ser, tinha sentido, precisava ser levado a sério, seguido, praticado.

Há trinta anos, 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes era assassinado em Xapuri no Acre pela nascente UDR. Porque dizia a verdade, denunciava a exploração do povo, era líder dos seringueiros e queria preservar a floresta e suas belezas, a floresta e suas riquezas, a floresta e seu povo, que dela e nela vivia. Criou a União dos Povos da Floresta, a partir do primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros, em 1985, com a união de indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco e populações ribeirinhas.

Chico Mendes foi profeta.

“O Papa Francisco é o único que percebe quais são os males do mundo neste momento”, disse recentemente Mino Carta. É profeta da ecologia integral e da Casa Comum.

Ricardo Kotscho em ‘O que podemos esperar e como nos preparar para o Brasil de 2019’ (ver em www.balaiodokotscho.com.br): “Para quem não quer ver este filme de novo (referindo-se ‘às forças nem tão ocultas que se uniram e venceram em 1964, e nos afundaram de vez na longa noite do arbítrio’), só tem um jeito, além de rezar bastante: em primeiro lugar, vencer o medo, e, aos poucos, ir criando novas forças de organização digital dos algoritmos, para podermos lugar com as mesmas formas que decidiram as eleições de outubro. Vivemos um final de ciclo, em todas as áreas, e é nestes momentos que se revelam novos caminhos e lideranças capazes de nos unir novamente em torno do bem comum.”

Ou como escreve Kiko Nogueira em ‘Igreja holandesa faz culto há um mês para proteger refugiados’ (ver em www.diariodocentrodomundo.com.br): “O cristianismo quando exercido e praticado faz milagres.”

O décimo primeiro Encontro Nacional pelo Movimento Fé e Política (Contato e informações: www.fepolitica.org.br), a realizar-se de 12 a 14 de julho de 2019, em Natal, Rio Grande do Norte, tem como tema ‘DEMOCRACIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E ALTERNATIVAS SOCIAIS: SINAIS DOS TEMPOS NA CONSTRUÇÃO DO BEM VIVER’. Segue o caminho profético da Campanha da Fraternidade/2019, cujo tema é ‘Fraternidade e Políticas Públicas’, com o lema ‘Serás libertado pelo direito e pela justiça’ (Is 1,27).

Paulo Freire criou um verbo apropriado aos tempos: esperançar. Tem o sentido do hino de Geraldo Vandré dos anos 1970, ’Caminhando e Cantando’, em tempos de ditadura militar, hino que cantávamos a plenos pulmões no movimento estudantil, nos encontros da Pastoral da Juventude, nas ruas nos tempos escuros de ontem, e cantamos com fervor nos tempos escuros de hoje. “Vem, vamos embora,/ que esperar não é saber./ Quem sabe faz a hora./ Não espera acontecer.” Nada de esperar. Fazer acontecer. Agir.

Os tempos são de resistência, os tempos são de desobediência civil, os tempos são de dizer a verdade. Os tempos são de vozes proféticas. Os tempos são de esperançar.

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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