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1 de novembro de 2018
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12:57

Preparemo-nos! (5) – Com fé e esperança

Por
Sul 21
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Preparemo-nos! (5) – Com fé e esperança
Preparemo-nos! (5) – Com fé e esperança
Foto: Joana Berwanger/Sul21

Selvino Heck (*)

Não é fácil, a poucos dias da eleição, (tentar) entender tudo que aconteceu, e projetar o que vem ou pode vir pela frente. Há uma conjuntura subterrânea que ainda precisa, ou será com o tempo, desvendada e descoberta. À luz do que se pode ver agora, a poucos dias da eleição, arrisco algumas considerações iniciais.

A última semana de campanha vai para a História. As multidões nas ruas, especialmente mulheres e jovens, o debate político, a militância acesa, a esperança em crescimento, marcarão época. Talvez por isso, o choro da derrota tenha sido menos dolorido que o normal. E na segunda-feira pós eleição foi possível ver manifestações inacreditáveis, lindas de morrer, em muitas escolas, como em Fortaleza, como em colégios particulares de ponta no Rio Grande do Sul, na UNB e tantos outros lugares. O tempo e a história talvez ainda vão celebrar em algum momento este tempo de vida e ressurreição.

Sem ilusões, contudo. Desde março, depois do Fórum Social Mundial em Salvador venho escrevendo sucessivos PREPAREMO-NOS! E dizendo que era hora de parar de se iludir. A direita chegou lá pela primeira vez depois da ditadura. Basta ver os presidentes anteriores e comparar com o que foi eleito agora. Pior, muito pior que Collor ou FHC. Então, seja em 1989, seja em 1994, era a direita civilizada, ou a centro-direita, ou a social-democracia envergonhada que chegava ao poder. Agora, é a direita mesmo, ou a ultra-direita, ancorada em Donald Trump e outros semelhantes. Simbólica a primeira fala do presidente eleito depois do anúncio da sua eleição. E que, seguramente, veio para ficar por bom tempo, não apenas quatro anos.

Disse o presidente eleito na noite de domingo, 28 de outubro de 2018: “Não poderíamos mais continuar flertando com comunismo, populismo e extremismo da esquerda. Todos nós sabíamos para onde o Brasil estava indo. O que mais quero e, seguindo ensinamentos de Deus, ao lado da Constituição, me inspirar em grandes líderes mundiais. E, com boa assessoria técnica, isenta de indicações políticas de praxe, começar a fazer um governo que possa colocar o nosso Brasil em lugar de destaque.”

Isto é, volta à Guerra Fria e ao discurso que justificou o golpe militar de 1964. Repressão a quem é oposição: cadeia ou exílio. O Estado deixa de ser laico. Serve aos crentes e antes vem Deus, ao lado a Constituição. A democracia, a lei não vêm ao caso.

O que fazer num momento absolutamente difícil, onde a democracia, já em risco, praticamente não mais existe, ainda que eleições tenham ocorrido, mas vencidas à base de Caixa 2, mentiras, Fake News? Onde movimentos sociais são taxados de terroristas, porque defendem os direitos dos mais pobres e do povo?

Há um processo de direitização mundial, onda na qual o Brasil acaba de embarcar definitivamente, depois do golpe de 2016. É preciso trabalhar no médio prazo – pelo menos cinco anos – e no longo prazo – mais de dez anos.

Urgência urgentíssima: 1. Constituir uma Frente Ampla pela Democracia, juntando todas e todos os democratas, todas e todos os que se ancoram na Constituição Cidadã, todas e todos que acreditam na liberdade. Construir os Comitês Populares pela Democracia, à frente a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo, com grandes mobilizações em defesa dos direitos de jovens, mulheres, negras e negros, quilombolas, indígenas, povo LGBTT, população em situação de rua, de políticas públicas como SUS, educação pública, políticas ambientais e agroecológicas, segurança para a maioria do povo.

2. Retomar o trabalho de base, especialmente nas periferias, e a formação política, principalmente com a juventude que, rebelde, foi para as ruas, e com as mulheres, que tornaram-se efetivamente força política, mostraram garra, militância e coragem.

3. Lutar pelos direitos a partir das necessidades concretas, especialmente dos mais pobres, dos trabalhadores e das trabalhadoras, como a água que falta no bairro, o posto de saúde que não funciona, a escola e seus problemas, ligando os problemas do cotidiano com as lutas globais por cidadania, por direitos, por igualdade, por democracia, por justiça, por soberania.

Com fé e esperança, a resistência vai acontecer. E ‘ninguém solta a mão de ninguém’. Como aconteceu na ditadura, que acabou derrotada depois de muita luta e a construção de movimentos populares fortes e consolidados e o protagonismo de trabalhadoras e trabalhadores.

(*)  Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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