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19 de maio de 2018
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10:30

Tudo ao mesmo tempo agora

Por
Sul 21
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Tudo ao mesmo tempo agora
Tudo ao mesmo tempo agora
 Foto: Guilherme Santos/Sul21
 Foto: Guilherme Santos/Sul21

Selvino Heck (*)

“A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como são. A coragem, a mudá-las.”  Leonardo Boff, em Aula Pública “Em defesa da democracia, da soberania e dos direitos do povo brasileiro. Marielle vive! Lula livre!”, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, encerrou a Aula com esta frase de Santo Agostinho.

Voltamos em muitos aspectos ao final dos anos 1970, início dos 1980. As urgências eram muitas, eram todas: lutar pela democracia, organizar o povo, garantir eleições livres em todos os níveis, construir instrumentos de luta, fazer formação, exigir uma Constituinte livre, exclusiva e soberana. Estávamos nas pastorais e nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nas ocupações urbanas e rurais, nas Oposições Sindicais do sindicalismo combativo, na fundação do Partido dos Trabalhadores, da Central Única dos trabalhadores (CUT), da Central dos Movimentos Populares (CMP), do MST e MAB, nas Associações de Moradores. Trabalho de base, trabalho de base, trabalho de base. Formação, formação, formação. Não havia tempo para nada e havia tempo para tudo.

Era tudo ao mesmo tempo agora. Somavam-se como uma só, na mística da militância, a esperança, a indignação e a coragem.

Estamos nos tempos atuais, segunda década do século XXI, lutando de novo por democracia, organizando o Congresso do Povo para construir um projeto de Brasil. Diz a Cartilha para Formadores do Congresso: “Queremos que o Congresso do Povo se torne um grande processo pedagógico para as massas populares e que desafie o próprio povo a identificar as saídas e a se organizar para construí-las. Em maio e junho, os Congressos municipais. Em junho, os Congressos estaduais. Em julho, o Congresso nacional. (Contatos e informações: www.frentebrasilpopular.org.br).

Leonardo Boff, em ‘Concluir a refundação ou prolongar a dependência?’ (Ed. Vozes, 2018), seu último livro, escreve: “Para dar consistência ao projeto de refundação do Brasil, importa trabalhar sobre três eixos dialeticamente imbricados: a educação libertadora, a democracia integral  e a sociedade sustentável, que cria para si um desenvolvimento social a ela adequado. Resumidamente, mister se faz desenvolver uma educação libertadora que nos abra para uma democracia integral, capaz de produzir um tipo de sociedade sustentável (um modo sustentável de viver, segundo a Carta da Terra) com um desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente correto.”

Na utopia da refundação do Brasil, Leonardo Boff elenca três pilastras da refundação, que “deve se basear em algo tipicamente nosso, de tal forma que ganhe uma feição singular, a partir da qual incorporará contribuições vindas das trocas com outras fontes. 1. A natureza: aqui a natureza está ‘perpetuamente em festa’ – uma biocivilização – Brasil, mesa posta para a fome do mundo inteiro; a Amazônia, nem pulmão, nem celeiro, nem selvagem. 2. A cultura, nicho da refundação do Brasil: a variedade contraditória das culturas no Brasil. 3. O povo brasileiro em fazimento: a centralidade da vida em todas as suas formas; o perfil do povo brasileiro ‘in statu nascendi’; Brasil, a Roma dos trópicos?”

Os tempos são duros. Os tempos são difíceis. Há que juntar, nas palavras de Santo Agostinho, a esperança da utopia – um outro mundo possível, urgente e necessário -, a indignação dos que não se conformam com a mentira, a desigualdade e a injustiça, a coragem dos que lutam e sonham solidaria e coletivamente.

Leonardo Boff, na dedicatória do livro, escreve: “A todos os que sonharam com um outro Brasil, aos movimentos sociais populares e às suas lideranças, aos partidos que resistiram e lutaram contra as ditaduras e guardam em sua mente e corpo os sinais de sua coragem.”

E, mais que nunca, vale lembrar o que disse Dona Lindu para o jovem Lula, palavras difundidas nas redes sociais no Dia das Mães: “Levanta a cabeça, olha pra frente e teima, meu filho, teima. É só teimar.”

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Em dezoito de maio de dois mil e dezoito.

 


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