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10 de fevereiro de 2018
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10:57

Um fome zero contra a violência

Por
Sul 21
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Um fome zero contra a violência
Um fome zero contra a violência
Campanha será lançada na quarta-feira de cinzas, 13 de fevereiro. (Divulgação)

Selvino Heck (*)

A Campanha da Fraternidade/2018, que será lançada na quarta-feira de cinzas, 13 de fevereiro, pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), tem como tema “Fraternidade e superação da violência” e como lema “Vós sois todos irmãos” (Mt, 23,8). O tema escolhido vem em mais que boa hora, vem em hora urgente e necessária. Todas e todos, brasileiras e brasileiros, em todos os cantos do país, no campo e na cidade, sofrem os efeitos cotidianos da violência em suas casas, famílias, comunidades, têm histórias pessoais e coletivas de violência para contar, têm medo de sair de casa ou, mesmo sem sair de casa, estão sujeitos a variadas formas de violência.

O VER da Campanha da Fraternidade fala em múltiplas formas de violência: “Apesar de possuir menos de 3% da população mundial, nosso país responde por quase 13% dos assassinatos no planeta. Em 2014, o Brasil chegou ao topo do ranking, considerado o número absoluto de homicídios. Foram 59.627 mortes, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Os pesquisadores concluíram que, além de uma tragédia social, está em andamento uma tragédia econômica, em razão dos impactos causados no setor público, nas empresas e nas famílias.” São números de guerra,  não declarada, mas realmente existente. Segundo o Texto-Base da Campanha, há a experiência cotidiana da violência, a violência institucional, há uma cultura da violência, a violência como  sistema no Brasil, a violência fazendo parte da história do Brasil, a violência resultante da desigualdade econômica, a violência racial, a violência contra os jovens, a violência contra homens e mulheres, a violência doméstica, a exploração sexual e o tráfico humano, a violência contra os trabalhadores rurais e contra os povos tradicionais, a violência e o narcotráfico, a ineficiência do aparato judicial, polícia e violência, violência e direito à informação, religião e violência, violência no trânsito.

No JULGAR, diz o Texto-Base: “Novo Testamento: Jesus anuncia o Evangelho da reconciliação e da paz. O Filho vence a violência pelo amoroso dom de si. A Igreja convida a promover a cultura do diálogo”. E apresenta a Carta a todos de governos do mundo, de 24 de janeiro de 2002, com o Decálogo de Assis para a Paz: “No Decálogo estão presentes os grandes temas correlatos à superação da violência, à paz, como a justiça, a solidariedade, o perdão, a educação, o diálogo, o respeito, os direitos humanos, a atenção aos pobres e sofredores.”

O AGIR da Campanha da Fraternidade propõe pistas de ação concreta para superação da violência: 1. Pessoa, família e a superação da violência, com a construção de uma Cultura da Fraternidade: não somos adversários, somos irmãos. 2.  Comunidade e a superação da violência: conquistas e experiências da comunidade eclesial na superação da violência, as obras sociais da comunidade eclesial como caminho para a superação da violência e promoção eclesial de uma espiritualidade que desperte para a superação da violência. 3. A sociedade e a superação da violência, envolvendo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a violência doméstica e a Lei Maria da Penha, o sofrimento e o amor se transformando em ação, os setenta anos dos Direitos Humanos, a superação da violência gerada pela exploração sexual e pelo tráfico humano, violência e juventude, negros e negras e a superação da violência, superação da violência no campo, a superação da violência fruto do narcotráfico,, o Estatuto do Desarmamento, Defensoria Pública, a violência política, a violência religiosa e a superação da violência no trânsito.

O presidente Lula, ao lançar o Fome Zero como política pública para o Brasil e para o mundo, colocou o combate à fome como prioridade máxima de seu governo e de sua vida, dizendo que nenhum brasileiro e nenhuma brasileira podiam ficar sem tomar café, almoçar e jantar. Propôs e levou à prática um conjunto de ações emergenciais e estruturais de enfrentamento da fome e da miséria, que então estavam nos lares e nas bocas de dezenas de milhões de brasileiras e brasileiros. Resultado: em 2014, a ONU, através da FAO, tirou o Brasil do Mapa da Fome (embora o Brasil corra o risco de voltar ao Mapa da Fome em 2018; o governo golpista está acabando com todos os programas de combate à fome).

Frei Betto, Assessor Especial do Presidente Lula, disse: “É preciso matar a fome de pão, sim, mas é preciso também, junto e ao mesmo tempo, saciar a sede de beleza.” E propôs um verdadeiro mutirão envolvendo todos os governos e a sociedade no combate à fome e à miséria: comida na mesa e conscientização. Surgiram assim o Escolas-Irmãs, a Rede de Educação Cidadã (RECID) e um conjunto de iniciativas envolvendo o governo federal e a sociedade, através de suas organizações, dos movimentos sociais, das escolas, das igrejas, ONGS, pastorais, etc.

Para superar a violência, não há de ser diferente. O combate e a superação da violência precisam ser prioridade de todos os governos, estar em todos os programas eleitorais de 2018. Mas precisam também ser prioridade da sociedade, em mutirão de solidariedade, de justiça, de direitos, de igualdade, de dignidade, de paz. O engajamento geral é fundamental, urgente e necessário.

Vós sois todos irmãos, vós sois todas irmãs, diz a Campanha da Fraternidade nas palavras de Jesus. Nestes tempos sombrios, de intolerância, de desrespeito entre as pessoas, de preconceitos de todos os tipos, de falta de democracia, o chamado ao amor, à fraternidade é essencial, para que a sociedade seja justa e para que o Reino de Deus possa acontecer já a partir deste mundo.

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política. Em nove de fevereiro de dois mil e dezoito.


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