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4 de fevereiro de 2018
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09:52

Quase “tudo dominado”

Por
Sul 21
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Quase “tudo dominado”
Quase “tudo dominado”
“Há um ator que foge do controle. Sempre, ao fim e ao cabo, fugiu do controle ao longo da história”. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

Selvino Heck (*)

1. Lula será preso. Mídia, Poder Judiciário, Sistema de Justiça já o condenaram irreversivelmente. (E reiterando: o pior dos três Poderes é o Poder Judiciário, junto com todo Sistema de Justiça: antidemocrático, sem controle social, cheio de privilégios e mordomias.) O ‘script’ está pronto. Aliás, na prática Lula já está preso: não pode sair do Brasil. Cassaram seu passaporte e impediram sua viagem à África, onde falaria sobre combate à fome e desnutrição. Tempos atrás, Lula foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento, o que é uma forma explícita e ilegal de prisão, ainda que por algumas horas.

2. A Reforma da Previdência será aprovada, com tímidas mudanças e ajustes cosméticos, tornando-a mais palatável em relação à proposta que está sobre a mesa no momento.

3. A extrema direita, através de Jair Bolsonaro, vai crescer na bolsa eleitoral.

Comecei a escrever este artigo na segunda-feira, 28 de janeiro, com as três afirmações acima, que foram se confirmando durante a semana. 1. Todo mundo começou a falar e ter certeza que Lula seria preso. Seus advogados até entraram com medida cautelar contra a prisão no Superior Tribunal de Justiça, naturalmente negada. Agora, é uma questão de tempo. A Polícia Federal, sempre atenciosa com a grande imprensa, já divulgou suas preocupações e as formas de como realizar a prisão. 2. A Reforma da Previdência está no centro de todos os discursos, entrevistas, audiências do presidente e do governo golpistas nas últimas semanas. Não foi outra coisa que o presidente golpista foi ‘negociar’ em Davos no Fórum Econômico Mundial, ao dizer amém e obrigado ao capital financeiro e ao mercado por apoiarem o golpe, abraçando definitiva e publicamente o neoliberalismo, com entrega das riquezas nacionais como a água, o pré-sal e a Amazônia 3. Jair Bolsonaro, com a eventual ausência de Lula nas eleições de outubro, subiu na pesquisa Datafolha publicada esta semana.

Escrevi em ‘Não vamos nos iludir!’, em 24.11.17, há mais de dois meses: “Quem dá e sustenta um golpe como esse que está em curso é capaz de tudo para que a escandalosa desigualdade econômica e social existente no Brasil de 2017 não seja arranhada ou diminuída, como o foi nos governos Lula e Dilma. Para que direitos? Para que democracia? Para que Orçamento Participativo? Para que Fórum Social Mundial? Para que políticas públicas beneficiando os pobres e os excluídos? O tempo de se iludir passou.”

O que resta ao campo popular, democrático e progressista?

Por que não está ‘tudo dominado’, ainda que, contra minha vontade e desejo, as três afirmações iniciais se confirmem? Há um ator que foge do controle. Sempre, ao fim e ao cabo, fugiu do controle ao longo da história. O povo não está dominado, como demonstrou a pesquisa Datafolha da semana. O povo brasileiro demonstrou nos dias 23 e 24 de janeiro, na impressionante jornada de Porto Alegre, que não está dominado. E vai demonstrar a mesma insurgência e inconformidade em 19 de fevereiro, na mobilização nacional contra a Reforma da Previdência. E assim será no Fórum Social Mundial em Salvador, de 13 a 17 de março (Contato e informações: www.fsm2018.org). E vai demonstrar, apesar das Globos, RBSs, SBTs, Folhas, Estadões, Vejas, apesar das Bolsas e do Senhor Mercado, sua rebeldia e consciência nas eleições de outubro, se acontecerem, votando em Lula para presidente.

Sirvo-me das palavras e da análise contundente de Aldo Fornazieri, em ‘Condenação de Lula: Confronto ou Derrota histórica’ (Blog do Luís Nassif, 29.01.18): “É preciso entender que o Brasil está sendo governado por uma canalhocracia de terno e toga, onde os segundos protegem os interesses dos primeiros – os predadores do mercado – e onde os primeiros garantem ganhos extraordinários aos togados, aos procuradores e aos grandes escritórios de advocacia, que constituem um sistema jurídico mafioso.” A luta mais importante, diz Aldo, precisa ser travada nas ruas, com mobilizações, atos, caravanas, com bloqueios de rodovias e avenidas e construção de uma greve nacional. “Não existe outra saída: a força organizada precisa ser constituída no próprio processo de mobilização. É preciso ter direção e comando. Manter a candidatura Lula até o fim é a única forma de confrontar o golpe. É legítimo desobedecer juízes que violaram a lei. A desobediência civil à vontade arbitrária dos tiranetes do Judiciário se alicerça no pensamento liberal, desde John Locke.”

Na opinião de Aldo Fornazieri, que assumo, há duas lutas principais: “1. Continuar o combate ao governo iníquo, cínico e ilegítimo de Temer. 2. Lula, os progressistas e as esquerdas precisam definir propostas e ideias que representam um novo Brasil, um programa que represente uma revolução democrática.”

Finalmente, tomo emprestadas as palavras de frei Sérgio Görgen em “As batalhas de Porto Alegre”(www.sul21.com.br e luizmuller’s Blog, 29.01.18). Embora pareça que está quase tudo dominado, a História sempre pode apresentar surpresas, mais cedo ou mais tarde: “Usando agora a analogia de um famoso romance, talvez daqui a algum tempo possamos dizer do Golpe midiático-judicial: E o vento levou…. Para algum mau entendedor de analogias: O VENTO É O POVO!”

E vento, você sabe, nós sabemos, ‘eles’ sabem, ninguém segura!

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Em dois de fevereiro de dois mil e dezoito.


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