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11 de setembro de 2016
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12:19

A primavera virá!

Por
Sul 21
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A primavera virá!
A primavera virá!
"No Brasil, neste momento histórico, a primavera se chama, em primeiro lugar, democracia, em segundo lugar, democracia, em terceiro lugar, também democracia". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“No Brasil, neste momento histórico, a primavera se chama, em primeiro lugar, democracia, em segundo lugar, democracia, em terceiro lugar, também democracia”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

 Selvino Heck (*)

Estes tempos no Rio Grande do Sul, agosto/setembro, do meio para o final de inverno, uma chuvinha fina e fria caindo dia e noite, temperaturas baixas, parecem não acabar mais. Para quem andou mais de dez anos em Brasília e neste período não tinha mais visto/vivido a geada, o vento entrando pelas costelas, não está nada fácil se reacostumar ao clima do Sul.

No meio do frio, quando sobra um tempinho nas atividades de rua da campanha eleitoral, ou quando chove muito forte, reaprendo a acender o fogão a lenha em casa de mamãe, cozinho um pinhão na chapa quente ou uma pipoca daquelas bem gostosas, enquanto a chuva mansa molha plantas, corpos e animais.

Tem gente que gosta do inverno. Não eu. Para quem trabalhou na roça, foi tirar leite das vacas às seis da manhã, ou cortou cana sob frio e chuva, foi para a escola, pés quase descalços, pisando a geada umedecendo a grama, ou o vento minuano, sabe bem o quanto é duro o inverno. É preciso duas ou três cobertas e ainda assim os pés continuam gelados, três ou quatro casacos e o vento assim mesmo atravessa as camadas de roupa e deixa o nariz todo vermelho. E haja resistência para escapar da gripe, do resfriado, senão doenças piores. O inverno é bom para turista que não tem o que fazer, ou melhor, está só passeando, pode tomar um chocolate quente ou um vinho dos melhores, e pode recolher-se à hora que mais lhe convém, não para quem trabalha e é obrigado a ir para a rua, porque a vida e a sobrevivência não esperam que amanheça ou que o sol e seus raios aqueçam a pele e o rosto.

Os mais antigos me dizem pra “guentar o tirão”, na expressão gaúcha: a primavera virá, com o calor, a claridade, o sol tépido lambendo a natureza, espalhando felicidade, deixando o coração quente e a vida a renascer em plena forma.

Não será diferente no Brasil. A democracia foi golpeada, uma presidenta foi afastada sem crime de responsabilidade. Mas os jovens e o povo estão nas ruas, gritam no desfile de 7 de setembro Fora Temer, não deixam o presidente golpista falar na abertura das Paraolimpíadas, exigem Diretas-Já, `nenhum direito a menos`, nenhum retrocesso, nenhum ataque à soberania.

As próprias eleições municipais trarão boas surpresas. As três semanas que faltam para o 2 de outubro serão de efervescência política e social, serão de intenso debate político, os trabalhadores sentindo os efeitos do golpe com a proposta de trabalhar diariamente até 12 horas e a aposentadoria só com 65 anos e reagindo à perda de direitos. Não haverá inverno, ou frio, ou chuva, ou vento minuano, para a militância, para os lutadores e as lutadoras, não haverá inverno impedindo de ir para a rua e protestar. O voto na urna será de consciência política, será de participação popular.

O tempo político, ao contrário das estações climáticas, é feito pelo homem e suas decisões e escolhas. O amanhã ou a primavera sempre acabam por vir, mais cedo ou mais tarde. Mas não se pode esperá-las indefinidamente. É preciso organizar sua chegada com todo cuidado do mundo, colocar-se à sua espera de coração aberto, ter fé e esperança, enquanto os rigores do inverno ficam para trás. A vida e seus mistérios nos cercam, mas estão sob nosso controle e responsabilidade.

No Brasil, neste momento histórico, a primavera se chama, em primeiro lugar, democracia, em segundo lugar, democracia, em terceiro lugar, também democracia.

Felizmente, o inverno está chegando ao fim no Rio Grande do Sul. Mais alguns dias, olha ela aí, a primavera e seu esplendor. Assim como a democracia voltará logo a brilhar, com o povo e os jovens na rua derrubando golpistas, denunciando mentiras, construindo o novo e o futuro.

O tempo é nosso. O tempo é do povo. A primavera e a democracia vencerão.

(*) Deputado estadual constituinte (1987-1990)


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