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20 de dezembro de 2018
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18:08

A intolerância bolsonarista nas diplomações

Por
Sul 21
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“Todos os representantes do PT e do PSOL foram vaiados, mas as mulheres foram muito mais”. (Reprodução/Facebook)

Samir Oliveira (*)

Esta semana o Brasil observou mais uma demonstração da intolerância bolsonarista. As cerimônias de diplomação de deputados, senadores e governadores eleitos foram palco de lamentáveis cenas da violência como método de fazer política adotada pelos apoiadores mais próximos ao presidente eleito.

Em São Paulo, o deputado federal eleito Alexandre Frota, do PSL, agrediu verbal e fisicamente Jesus dos Santos, militante do movimento negro e co-deputado eleito da Bancada Ativista pelo PSOL. Em Minas Gerais, deputados petistas foram censurados em suas manifestações e chegou a haver briga de fato. O deputado estadual Rogério Correia, do PT, segurava uma placa com os dizeres “Lula Livre” quando teve o cartaz arrancado abruptamente pelo colega Cabo Júnior Amaral, eleito pelo PSL. Ao reagir com uma bofetada, quase levou um soco. Seguranças precisaram intervir para separar a briga. Também em Minas a deputada estadual Andreia de Jesus, mulher negra eleita pelo PSOL, teve sua placa em homenagem a Marielle Franco covardemente censurada.

No Rio Grande do Sul não chegou a haver episódios de censura, mas o clima foi tenso do início ao fim. O bloco de apoiadores de Bolsonaro foi unido e articulado para a cerimônia de diplomação, que ocorreu no auditório da OSPA, no dia 19 de dezembro.

A antropóloga Rosana Pinheiro-Machado descreve com precisão o que se viu: “Surto coletivo, Reich tropical num caldeirão. Uma multidão gritando ‘Bolsonaro, Bolsonaro’ e depois ‘a nossa bandeira jamais será vermelha’.

É preciso registrar que a intolerância, a violência e a postura antidemocrática partiu do bolsonarismo. Em nenhum momento a esquerda se prestou a vaiar ostensivamente os adversários no auditório. Os insultos começaram quando Luciana Genro, deputada estadual eleita pelo PSOL, foi diplomada. O som das vaias tomou conta do auditório e aumentou quando Luciana estendeu uma faixa exigindo justiça para Marielle Franco – um gesto que marcou as diplomações de deputadas e deputados do PSOL no país inteiro.

Todos os representantes do PT e do PSOL foram vaiados, mas as mulheres foram muito mais. Maria do Rosário foi, sem dúvida alguma, a mais insultada de todas. Com um vestido vermelho e uma faixa de apoio a Lula, levou a plateia bolsonarista à loucura. Quem estava próximo aos apoiadores do presidente eleito relatou ter ouvido inclusive ameaças de morte à deputada federal petista.

Sofia Cavedon e Fernanda Melchionna – que também exibiu uma faixa com o nome de Marielle – foram brutalmente vaiadas. Todas manifestaram uma coragem inabalável diante de um público que espumava ódio.

Muito corajosos para vaiar mulheres de esquerda, os apoiadores de Bolsonaro iam ao êxtase quando os seus eram chamados a receber o diploma. O mais aplaudido foi o tenente-coronel Zucco, que estava fardado e ainda se prestou a bater continência para a plateia. Os demais deputados do PSL fizeram gestos que imitam uma arma em punho e também levaram seus apoiadores ao delírio.

O que se viu nas diplomações de eleitos em todo o Brasil não foi uma festa da democracia, mas sim um show de horrores. Embriagados pela vitória que deslocou o país à extrema-direita, os bolsonaristas parecem não ver limites para suas ações.

Mas a máscara do futuro governo já começa a cair antes mesmo da posse. As denúncias envolvendo a família Bolsonaro ainda não foram explicadas. O ministério composto por investigados e o silêncio servil de Sergio Moro já estão deixando muita gente decepcionada.

É preciso lembrar que o Brasil não possui 57 milhões de fascistas. É evidente que Bolsonaro expressa e defende posições fascistas. Seu núcleo duro de governo e os bolsões mais organizados de apoiadores também, Mas a imensa maioria da população, não. Há inclusive pesquisas que comprovam que os eleitores não votaram em Bolsonaro esperando uma ditadura e que não concordam com muitas de suas posições.

Esta sensação de poder ilimitado demonstrada pelos bolsonaristas nas diplomações está fadada a evaporar. A realidade irá se impor sobre os sonhos mais autoritários dos intolerantes. A resistência das forças democráticas será ferrenha. Os problemas internos do futuro governo se acumulam. As disputas dentro do próprio PSL envergonham o partido e as denúncias de corrupção corroem o capital político do presidente eleito.

Querem fazer a roda da história girar para trás, mas vão acabar sendo esmagados pelo peso das próprias ilusões.

(*) Samir Oliveira é jornalista e militante da Setorial LGBT do PSOL/RS.

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Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.


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