Colunas>Samir Oliveira
|
28 de março de 2018
|
12:46

Heinze não: uma candidatura com tudo que não presta

Por
Sul 21
[email protected]
Heinze não: uma candidatura com tudo que não presta
Heinze não: uma candidatura com tudo que não presta
Deputado Luiz Carlos Heinze. Foto: Guilherme Santos/Sul21

 Samir Oliveira (*)

O Partido Progressista lançou no final de semana a pré-candidatura do deputado federal Luiz Carlos Heinze para o governo do Estado. Vocês lembram deste sujeito? Ele mesmo, que em novembro de 2013 declarou que gays, lésbicas, indígenas e quilombolas são “tudo o que não presta”.

Estes comentários renderam ao parlamentar o título de “Racista do ano”, conferido em 2014 pela ONG inglesa Survival. As posições de Luiz Carlos Heinze foram coerentes com o histórico de seu partido. Vale lembrar que o PP é o herdeiro legítimo da Arena, a sigla que dava sustentação ao regime militar. Trata-se de um partido conservador e umbilicalmente ligado ao ruralismo no Rio Grande do Sul – daí a militância anti-indígena e anti-quilombola.

Heinze é do mesmo partido que Paulo Maluf, o mais ilustre detento da Papuda. Durante muito tempo foi correligionário de Jair Bolsonaro. Essa é a turma do pré-candidato ao Piratini.

O PP foi a sigla que mais teve parlamentares envolvidos na Lava Jato. Dos 6 deputados federais gaúchos do partido, apenas um não foi citado pelas investigações. É uma espécie de PMDB menos importante, pois não possui ampla capilaridade nacional, mas tem a mesma facilidade para trocar seu apoio por cargos em governos. Os progressistas fizeram parte dos governos de FHC, Lula e Dilma. Em 2005 Lula demitiu Olívio Dutra do Ministério das Cidades para acomodar um indicado pelo PP. Isso para não falar na aliança dos Progressistas com a desastrosa gestão de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul. Estiveram também com Sartori e, em Porto Alegre, apoiaram Fogaça, Fortunati e, agora, Marchezan.

Além de tratar minorias historicamente marginalizadas como seres imprestáveis, Luiz Carlos Heinze é um (nem tão) envergonhado defensor do trabalho escravo. Votou contra a PEC do Trabalho Escravo em 2014. O projeto estipulava a desapropriação de terras de latifundiários que fossem flagrados submetendo seus trabalhadores a um regime análogo à escravidão. O deputado também foi um entusiasta da vergonhosa portaria do governo Temer que afrouxava os mecanismos de combate ao trabalho escravo. Uma medida que causou constrangimento internacional ao Brasil – a tal ponto que o Palácio do Planalto precisou recuar.

Eu gostaria de terminar este texto afirmando com toda certeza que o Rio Grande do Sul não irá eleger um governador racista e homofóbico. Que a vanguarda do atraso não tomará as rédeas do Piratini novamente. Mas são tempos surreais estes que vivemos. Mesmo após suas declarações criminosas – ou talvez justamente em função delas? – Heinze consagrou-se como o deputado federal mais votado do Estado. Nós, a esquerda de uma forma geral, ficamos repetindo nas ruas e nas redes sociais que racistas, machistas, homofóbicos e fascistas não passarão. E ainda assim eles seguem passando, como se este momento histórico lhes houvesse escancarado a porteira.

As conciliações com esta cambada que uma parte da esquerda lamentavelmente aceitou fazer contribuíram para nos colocar nesta situação. Não é possível dividir por 13 anos a mesa do poder com os inimigos de classe sem confundir-se com eles. Um retrato mais ou menos fiel destas tenebrosas transações foi eternizado por George Orwell em “A Revolução dos Bichos”: “As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco”.

(*) Samir Oliveira é jornalista e militante da Setorial LGBT do PSOL/RS.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora