Ronald Augusto (*)
na barbearia
Bolsonaro (em provocação irresponsável ao presidente da OAB) voltou a se manifestar em apoio à tortura durante a ditadura e causou indignação na sociedade civil organizada. E como ele reagiu às críticas? Gravou um vídeo, enquanto cortava o cabelo, comentando com desdém e sem nenhum rigor histórico suas afirmações sobre a morte do pai do presidente da OAB.
Alguns significados do episódio: 1. os canais institucionais de comunicação do atual governo foram para o saco; 2. Bolsonaro está se sentido acima de tudo e de todos; 3. a cena do corte de cabelo lembra um mafioso decidindo sobre a vida ou a morte de outrem, enquanto faz a coisa mais corriqueira do mundo; 4. a falência de nossa cultura democrática produziu um déspota provinciano.
seguidores
Alô, alô, bisonhos advogados que votaram no Bolsonaro, respondam para ele, por favor, “quem é essa OAB?”.
deu migué
Primeiro interditem o Miguel Reale Jr por ter desencadeado o impeachment da presidenta Dilma.
tendência
A mania da lacração (por substituição ao esforço de argumentação) que curtimos à larga, quem diria, acabou por justificar o estilo de governar de Bolsonaro.
coletiva
Goiás. Bolsonaro desce do carro presidencial e se posta junto ao microfone. Jornalistas e bolsonaretes o aguardam. Começa a entrevista. Bolsonaro não gosta da primeira pergunta (sobre o transporte de familiares em helicóptero da Força Aérea), diz que é uma pergunta idiota. Os bolsonaretes aplaudem e apupam o seu mito. Outro jornalista questiona a reação do Presidente. Ele encerra a coletiva e sai jogando as tranças.
Eis o problema: o aplauso, a concordância com a grosseria. Em razão disso Bolsonaro se sente autorizado a ser violento e refratário diante dos conflitos naturais em um regime a princípio democrático.
no fair play
A torcedora colorada com a faixa “inter antifascista”, sendo truculenta e intolerante com a torcedora gremista, é o instantâneo do jeitão brasileiro, explico o porquê com exemplos. Com freqüência denunciamos: “todos ao redor são racistas, só eu que não”; ou talvez afirmemos “não somos fascistas”, entretanto, colocamos na presidência um tipo que apresenta todos os predicados de um fascista.
A torcedora colorada foi de uma estupidez condizente com a mitificação da rivalidade grenal perpetrada pela incultura gaúcha.
mascarado
Vocês têm certeza que o Moro é paranaense? Porque nas últimas semanas ele parece um gaúcho desesperado na defesa ilícita de sua reputação.
a farsa
O caso dos hackers: fingimos ser um país sério; fingimos ter mídia e jornalismo isentos. O caso dos hackers: só estou esperando o powerpoint da Polícia Federal.
ciência
Por mais brasileiros como o diretor do INPE.
macaqueando o chefe
A imitação piorada do Trump. O maior imbecil a ocupar a presidência. O sul e o sudeste representados em sua mesquinharia. O pastor sem noção da bovina classe média. O bairrismo miliciano na esfera federal. A masculinidade tóxica como projeto de governo. A tesão enrustida pelo PT. A tesão pública pelos EUA. A imitação piorada do pior. A maior fraquejada de todos tempos cometida pelos brasileiros.
nas tamancas
É impressão minha ou o Bolsonaro, nos últimos dias, começou a assumir um estilo cala-boca-já-morreu-quem-manda-aqui-sou-eu?
feira de livro em território inimigo
O problema não era não poder garantir a segurança da Miriam Leitão na feira do livro de Jaraguá do Sul (óbvio que isso é terrível). O problema foi o fato desse ódio intimidador de uma parte da sociedade ter conseguido se sobrepor ao direito de pensar e à liberdade de ir e vir (garantias universais e democráticas); o problema é essa obtusidade fascista ter vencido sem grande esforço. O Brasil acabou.
sem saída
Esquerda sapatênis, o que é: cirismo sobranceiro; tabatismo traíra; e petismo palestrinha.
(*) Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Formado em Filosofia pela UFRGS. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), Decupagens Assim (2012), Empresto do Visitante (2013) e À Ipásia que o espera (2016). Dá expediente no blog www.poesia-pau.blogspot.com e é colunista do portal de notícias Sul21: http://www.sul21.com.br/editoria/colunas/ronald-augusto/
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