Colunas>Ronald Augusto
|
13 de abril de 2015
|
11:37

Um poeta de essências e medulas: Adrian’dos Delima

Por
Sul 21
[email protected]

11118197_908331052540087_947340740_nPor Ronald Augusto

Consubstantdjetivos comuns de Adrian’dos Delima é um livro gestado sob o signo – ou através dos estilemas – das vanguardas históricas relativas à arte da poesia. O poeta não teme ter se aventurado em um experimento de linguagem (afinal, arte é risco) cujo apetite multissígnico se nutre, entre outros, de lances estético-informacionais de extração dada, de ruídos cubo-futuristas, do sonorismo transmental zaúm, da razão antropofágica oswaldiana e da mallarmaica poesia concreta e suas vertentes bastardas, sejam tropicalistas ou marginais. O chef pantagruélico, Adrian’dos Delima, oferece ao leitor curioso (leitor poundiano, por excelência), através desse Consubstantdjetivos comuns, sua nouvelle cuisine, sua panglossia transgressora que se presta a um maravilhoso guisado radical de repertórios da antitradição experimental.

Cada poema de Consubstantdjetivos comuns revela um modelo de procedimento através do qual esse mesmo poema consegue produzir um desvio das normas estatísticas da sua linguagem. Adrian’dos Delima propõe outras opções de informação nova, na medida em que instaura, em seus poemas, signos-limite que, em termos estatísticos, indicam uma baixa taxa de ocorrência de elementos redundantes e convencionais, ainda que, corajosa e paradoxalmente, o poeta opere nas margens do efeito de redundância. Assim, quanto mais estilo ou desvios da norma o poeta nos dá a fruir, mais conscientes ficamos da função poética e do estranhamento contidos em sua poesia.

Fruição e recepção poéticas estão tensionadas em dois tipos de mentes poéticas: uma apta a inventar poemas e outra disposta a crer neles. O poeta fingidor Adrian’dos Delima, criador experimental, precisa de um leitor igualmente experimental, leitor disposto à deriva semântica e à colaboração, leitor franqueado a uma obra aberta e em movimento. Esse leitor se alegrará por sentir que a inventiva poesia antipoética de Consubstantdjetivos comuns, ainda que clivada de radicalizações, graças às suas inusitadas qualidades estéticas pode comunicar-se antes que seja compreendida.

Ronald Augusto Poeta, músico, e crítico de poesia. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004) e No Assoalho Duro (2007). Despacha no blog www.poesia-pau.blogspot.com


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora