Colunas>Raul Ellwanger
|
29 de setembro de 2017
|
10:30

Canções de compromisso: La cuca del hombre

Por
Sul 21
[email protected]
Canções de compromisso: La cuca del hombre
Canções de compromisso: La cuca del hombre
Voltando eu a Buenos Aires pela primeira vez após a redemocratização (a deles, ainda antes da nossa), a instâncias de Raul Porchetto e León Gieco, o selo Abraxas produziu e editou o vinil La cuca del hombre. Raul, no meio, com Mercedes Sosa. Foto: Arquivo pessoal/Raul Ellwanger

Raul Ellwanger

Aqui está um caso, raro em minha carreira, de uma canção que não foi lançada em português. Teve sua primeira gravação direta em castelhano, deu nome a um disco editado na Argentina e terminou sendo muito conhecida naquele país. Voltando eu a Buenos Aires pela primeira vez após a redemocratização (a deles, ainda antes da nossa), a instâncias de Raul Porchetto e León Gieco, o selo Abraxas produziu e editou o vinil La cuca del hombre.

Canção que tem forma dentro do normal e levada pop bem corriqueira, o que realmente interessa no tema é sua letra, com dados de época e ironias políticas. Notícias de jornal, assombração de lobisomem, transtornos do clima e o caubói Reagan ameaçando a humanidade feito macaco com navalha ou elefante entre cristais, são contrastados com o prazer de dançar, namorar e escutar as vozes de Elis Regina e Rita Lee.

Quando se iniciou a produção, o pessoal de Abraxas me pediu para aprovar um orçamento surpreendente, onde apareciam duas rubricas gerais: produção e difusão. Diferente do Brasil, onde para tocar no rádio e na tevê há que pagar secretamente “por fora”, lá era parte normal do custo de produção uma verba especial para a mídia eletrônica, como se fossem anúncios comerciais. No fundo, era bem mais claro e honesto.

Na repetição do tema, como se faz com um menino malcriado, peço ao pessoal que cuide melhor de seu nariz, numa alusão à droga que naquele momento estava fazendo muito estrago no meio musical. Para o final, o texto fala da fome, da ameaça nuclear e culmina com o elogio do sonho, da vida, do roquenrol, do prazer.

Morando na região turística do litoral sul catarinense na década de ’90, nas temporadas de verão eu me divertia a cantarolar este tema para os turistas argentinos, que o conheciam e dele gostavam. Já em novo século, ao conhecer o deputado argentino Remo Carlotto, num evento de Direitos Humanos em Brasília, emocionei-me quando contou, também ele comovido, que em sua adolescência era fã desta canção e que ela ajudou bastante em seu feliz noivado!

 

 

La cuca del hombre

                               Raul Ellwanger – Versão León Gieco

La cuca del hombre parece que piró
Hay un lobison piloteando un metro
Misíl en Europa, calor em Alaska
Un caubói presidente, mono con navaja

Un dia el mundo hace clash, juicio final
Esta llegando el Day After del tiempo espacial
Pero una chica feliz besará al cantor
En ese disco de Elis una señal de amor

Baila un calipso pra gozar un poquito
Apocalipse después de un sarrinho
Danza conmigo samba guarani
Lambanza conmigo al son de Rita Lee

Quita guri el dedo de la herida
Cuida tu nariz, cuida bien de tu vida
Tenga la piel morena de un color ultra laite
No me hable en problema va vivir en una naice

Entre la cara del hambre y el hongo nuclear
Yo me quedo con el hombre que vino a soñar
Yo prefiero la vida que insiste en decir
Roquenrola conmigo con mucho placer

Baila un calipso pra gozar un poquito
Después de un sarrinho
Danza conmigo samba guarani
Lambanza conmigo al son de Rita Lee


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora