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14 de novembro de 2017
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11:54

Os intelectuais e os influenciadores digitais

Por
Sul 21
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Os intelectuais e os influenciadores digitais
Os intelectuais e os influenciadores digitais
Agência Brasil/Arquivo.

Paulo Timm

Comunicação é uma arte de adereços bem administrados. Quem não produz um bom cinema, capricha no imediatismo da TV. Isso é o Brassiiillllll!” – Benício Schmidt – Cientista Político – PhD, Editor Verbena Ed. Brasília.

Se quisermos compreender o mundo de onde acabamos de emergir, temos de nos recordar do poder das ideias.” – Tony Judt – O Século XX esquecido, Edições 70, Portugal, 2014.

No dia 21 de outubro assisti ao Painel, Globonews, um dos “bons” programas de debates sobre Política e Economia, ancorado pelo jornalista William Waack, ao qual compareceram o Dr. José Eduardo Faria, jurisconsulto, Lourdes Sola, Cientista Política, e Christopher Garman, diretor da Eurásia Group. Discutiram sobre as perspectivas do Brasil frente às eleições, em 2018. Uma das conclusões foi o consenso de que a preocupação com a corrupção, pela população, ultrapassou, de longe, as tensões com a violência e até desemprego. Este seria o chão sobre o qual cresce o aventureirismo, alimentado pela descrença na democracia.

Pesquisas feitas em todo o continente latino-americano mostram, com efeito,  que o brasileiro é o mais desencantado com o regime de liberdades e duas pesquisas recentes apontam o avanço da preferência pelo autoritarismo. Estranho, também, que não tenham falado do mais importante: A rejeição do distinto público aos Partidos e também candidatos em 2018, como bem assinala o Prof. Benicio Schmidt, no, Facebook, no dia 19 setembro: “ Pesquisa CNT/MDA: todos candidatos mencionados têm rejeição acima de 50%… Amplo território a ser politicamente trabalhado, também indicando que sem grandes composições ninguém ganha… Ao final, claro, haverá um vencedor, porém minoritário diante do Congresso e frente à população. Mantidas as condições, grande abstenção e votos nulos e brancos pela horizonte!”

EDITORIAL – Preocupações dos brasileiros

Diante de uma situação de crise econômica, com o desemprego atingindo mais de 12 milhões de trabalhadores, o equivalente à população do município de São Paulo, o brasileiro tem no emprego a sua principal preocupação neste ano de 2017. Foi o que detectou a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira – Problemas e Prioridades, divulgada nesta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Segundo o levantamento, que ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios entre os dias 1º e 4 de dezembro do ano passado, o principal problema apontado pela população foi o desemprego, com 43% das menções. Empatados em segundo lugar, ambas com 32% das respostas, ficaram saúde e corrupção, dois pontos que também andam sacudindo o país e tirando o sono de muita gente.

Quando a questão levantada é prioridade, a melhoria dos serviços de saúde, com 38% das menções, foi a mais citada no levantamento, pela quarto ano consecutivo. A pesquisa mostra ainda que a medida é mais importante para as mulheres do que para os homens. Enquanto 44% das mulheres indicaram a saúde como uma de suas prioridades, a mesma importância foi dada por 32% dos homens.

Com o agravamento da crise econômica – o crescimento da economia previsto para este ano é ínfimo -, a criação de empregos, o combate à inflação e o aumento do salário mínimo tomaram o lugar de prioridades ligadas à segurança. A geração de emprego, por exemplo, subiu do sétimo lugar, em 2014, quando recebeu 18 das menções, para o segundo lugar neste ano, com 32% das menções. Já o combate à inflação, que no ano passado estava segundo lugar, caiu para o terceiro em 2017, mencionado por 28% dos entrevistados.

Um detalhe importante é sobre a corrupção, que também tem virado o país de cabeça para baixo e abalado definitivamente nosso moral. É a mais lembrada entre os mais jovens e pela população com maior grau de instrução. Enquanto 38% dos jovens de 16 a 24 anos apontam a corrupção como um dos principais problemas do país, esse percentual cai com a idade, chegando a 29% entre os que têm 55 anos ou mais. Entre os entrevistados com curso superior, 44% citaram a corrupção como um dos dois principais problemas do país. Esse percentual cai para 20% entre os que têm até a quarta série do ensino fundamental.

O levantamento mostra o grau de preocupação da sociedade brasileira e reflete esse momento delicado em que vivemos. As crises econômica, política, institucional, social e moral provocam profundas cicatrizes sociais que esperamos possam ser curadas algum dia.

Não obstante, entenderam os participantes do PAINEL que há um divórcio entre o que pensa a opinião pública sobre a corrupção, infectando a credibilidade sobre o Presidente Temer, instituições políticas e, sobretudo políticos – uma verdadeira sinistrose -, e aquilo que os especialistas avaliam sobre a conjuntura, sobre a qual se revelam deveras otimistas. Pensam: “O Brasil está avançando institucionalmente”. Para eles, mais importante do que a corrupção, ora revelada pelo complexo da Lava Jato, que não se resume ao Juiz Moro, mas a uma trama de órgãos, promotores e juízes de várias instâncias, é o combate à corrupção, levado a efeito pelos órgãos nela envolvidos e que apontam para um inequívoco amadurecimento do Estado. Para romper o divórcio entre o senso comum e o senso qualificado, os debatedores presentes reclamam de um aperfeiçoamento nos vasos comunicantes entre povo e elites pensantes, tradicionalmente realizados pelos Partidos, hoje estigmatizados e em decomposição. Não explicaram como fazer isso.

Cinco observações sobre o dito Programa:

  1. Não é certo que os intelectuais em bloco estejam de acordo com a ideia de aperfeiçoamento institucional no Brasil e antepostos ao senso comum da opinião pública. Eu, particularmente, desconfio disso. Participam do Programa Painel, com raríssimas exceções, especialistas de corte conservador, de inspiração neoliberal e isso explica sua posição;
  2. O divórcio apontado é muito mais efetivo entre uma opinião pública horrorizada não só pela corrupção, como pela perda sistemática de direitos que veem sendo empreendidas em nome, precisamente, da agenda neoliberal comandada pelo Presidente Temer;
  3. A opinião pública, embora um pouco intoxicada pela Mídia no tocante à escândalos e atos de violência cotidiana, vem sendo alimentada, hoje, por outros meios digitais, como as redes, ou meios tradicionais, como lideranças locais, regionais, aí localizando as sindicais e religiosas, estando muita próxima dos fatos;
  4. Apesar disso, é fato que ainda ficam fora do alcance digital uma grande fração das classes mais baixas de renda, uns 50 milhões de brasileiros, que ganham abaixo de um salário mínimo; além disso, como diz Benício Schmidt, Editor da Verbena Ed.: “Pois, afinal, 74% dos brasileiros nunca comprou um livro”.
  5. Não é certo, também que os Partidos traduzem às massas as brilhantes ideias dos especialistas. Este mito supõe um papel ativo, tanto dos intelectuais orgânicos frentes aos seus respectivos partidos, como da efetiva capacidade destes partidos de filtrarem as informações ao público. Isso mudou. Não existem mais nem intelectuais influentes sobre os respectivos Partidos, nem Partidos influentes sobre filiados e eleitores. Hoje vive-se um tempo de desintelectualização total da vida pública, senão até da vida social e o papel de informação, com o advento digital passou dos jornais e Partidos para os influenciadores digitais. No Brasil,  o recente Mapa do Jornalismo demonstra que 70 milhões  vivem à margem da própria  imprensa escrita, a qual, segundo Luiz Nassif em coluna recente não teme afirmar que “a mídia perdeu o controle absoluto sobre a criação de imagens públicas”-

“70 milhões de brasileiros vivem em deserto de notícias”, Pedro Varoni e Vitor Prado, em 06/11/2017 na edição 965.

Para concluir, me detenho sobre este fenômeno dos comunicadores digitais, um novo papel que está aposentando, tanto a velha imprensa, como a velha política, com suas instituições, inclusive Partidos. Os chamados influenciadores digitais, com milhões de fiéis seguidores, reiteram a desintelectualização vez que vêem pasteurizados pelo senso comum de baixa qualificação técnica.  É resultado da revolução tecnológica no processo de produção e difusão de imagens e ideias, aberto a quem assim o deseje, traduzindo-se  por uma infinidade de blogs, vlogs, redes, canais de youtube, todos muito bem elaborados, que tratam de temas cotidianos e são seguidas, principalmente por jovens e pessoas com baixo nível de leitura crítica. E seus protagonistas ganham não só fama mas muito dinheiro, ao se converterem em veículos de propaganda.

Entenda o que é um influenciador digital e qual o seu papel

Escrito por Ânima Educação

Em todas as épocas, existem pessoas que exercem influência sobre as demais. Elas são os chamados formadores de opinião. São celebridades ou profissionais de destaque em determinadas áreas – ou até mesmo dentro de uma empresa – que têm a capacidade de influenciar as escolhas e a opinião de outras pessoas.

Hoje, este papel pertence ao chamado digital influencer, ou influenciador digital. São personalidades da internet que têm um número grande de seguidores em redes sociais, blogs e diversos outros canais.

Através dessas redes, eles conseguem divulgar empresas, produtos e serviços com grande facilidade. Por isso, as grandes marcas têm investido cada vez mais em parcerias com personalidades da internet.

Recentemente, a firma Provokers para o Google e o Meio & Mensagem, em sua terceira edição divulgaram o relatório “Os influenciadores: Quem brilha mais no Brasil”: Whindersson Nunes, com 21 anos,  por exemplo, é dono do maior canal de YouTube do Brasil em número de inscritos, atualmente na casa dos 22 milhões. Seguem-lhe Flavia Calina, Julio Cocielo, Felipe Castanhari e Felipe Neto, na casa de outros milhões de seguidores.

O que é fato, contudo, é que o mundo mudou, a linguagem mudou, as ideias estão mudando rapidamente, os influenciadores da opinião pública são outros,  e a nossa democracia ainda opera em nível artesanal, sequer analógico, quando tudo já gira digitalmente em alta velocidade. Eis aí, sim, o solo do aventureirismo que se anunciará como baluarte de uma nova era. Olho!

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Paulo Timm é economista, pós-graduado CEPAL/ESCOLATINA – Prof. aposentado da UnB . Fundador do PDT. 


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