Colunas>Paulo Timm
|
1 de julho de 2017
|
10:00

O rei nu

Por
Sul 21
[email protected]

Paulo Timm

“O que causa mais indignação?

A. Que tenhamos um Presidente denunciado por crimes hediondos?

B. Que o Presidente denunciado sacrifique as reformas que tanto defendera para salvar a própria pele. Ou, de salvador da pátria a salvador da epiderme…?”

Monica De Bolle, Economista

Foi Camões quem proclamou; “O Rei fraco faz fraca a sua forte gente”.

Disso se trata, na quadra que o Brasil atravessa nesses dias: o povo, essa imensa massa de gentes espalhadas ao longo do território nacional, está enfraquecida, no desalento. (Salvo, claro, os eternos resistentes das bandeiras vermelhas). Nem tem vontade de se manifestar, de ir às ruas, de dizer BASTA! Está engolfada pelo mesmo sentimento daquela fração do mercado de trabalho, do tamanho dos desempregados, em torno de 14 milhões de pessoas, que nem procura mais emprego. Encolhe-se no desalento.

Desalento.

Que não é a mesma coisa que desamparo. Este é um estado de suspensão, movido pelo medo e pela esperança, que nos acompanham ao nascer, de desconhecimento do desconhecido. Mas há uma vitalidade latente neste momento mágico. O desalento tem outra motivação: è provocado pelo conhecimento do que já sabemos e não gostamos. Nos paralisa. Nos últimos meses os brasileiros conheceram os intestinos do sistema político, viu muitos de seus líderes emaranhados na teia fétida das delações da Lavajato e agora assiste aos malabarismos verbais de um Presidente moribundo, na tentativa de salvar a própria pele.

O que deseja Michel Temer? As honras do cargo? Teme a planície dos mortais? Quer a salvaguarda de uma prisão constrangedora? Já vimos um Governador, José Roberto Arruda, sair algemado do seu Gabinete, no Distrito Federal. Temerá o Presidente igual destino? Não obstante, continua de dedo em riste, pregando lições, ao estilo “magíster dixit”. Tudo em vão. Sua imagem se desfaz na impopularidade ímpar. Menos de um dígito. Seus dias estão tão ou mais cansados do que o oitavo ano de FHC , do sexto do Presidente Figueiredo, do quinto de Sarney. Como aguentamos…! O brasileiro é um forte. Não foge à luta. Mas está macambúzio. Dias sombrios, sem qualquer luminosidade, com exceção das luzes palacianas. Um governo, tipo o de Sigmaringen, criado por Hitler, ao final da II Guerra, para sediar os colaboracionistas franceses depois que os Aliados retomaram Paris. No coração encouraçado da Alemanha nazista Pétain e sua entourage viviam o delírio de despachos, decretos e outras servidões do poder, fingindo desconhecer a tragédia visível. Estavam nus. Temer está nu. E o pior: talvez fique desfilando sua nudez inconsequente e ridícula até o dia 31 de dezembro de 2018, oxalá limitada ao território nacional. O povo, porém, se enfraquece e se deprime na fibrilação não só da autoridade moral de seu Rei, mas do Governo.

Nesta semana a Polícia Federal avisa que acabou a verba para emitir passaportes. Acabou o papel! Falta tudo em todos os Ministérios. Até a insuspeita Míriam Leitão, em “O Globo”, avisa que acabou a ilusão de que havia um “dream team” na Economia, sob o comando de Henrique Meirelles: “ está (tudo) degringolando rapidamente e

cresce o risco de o governo não cumprir a meta fiscal do ano”. O ministério, já desqualificado, com metade dos titulares indiciados em falcatruas se desfaz em folhetins. Como diz outro jornalista, Aylê S. Quintão em memorável crônica deste novo baile da Ilha Fiscal – A “Pinguela” e o abandono das políticas públicas:

A máquina do Estado está parando. Que destino terão as políticas públicas? Programas e projetos nos campos da energia, da saúde, da água, da agricultura, dos transportes e da segurança definham, legando ao abandono populações inteiras, sobretudo as indígenas. Os ministérios e agências já não funcionam com regularidade”.

E todos brigam com todos. Aos berros: Renan, Jucá, Gleisi, Gilmar, Janot, Lula, Dilma, Dona Mariazinha e o guarda da esquina.

Em meio à toda escuridão, um fato positivo. A economia descola da política e faz seu voo solo. Aleluia! Novo tempo. Ligeiras perturbações como pequena queda da Bolsa e menor impacto sobre o dólar, mas nada catastrófico. A inflação cai por si mesma. Os juros seguem o mesmo curso. Os investimentos estrangeiros continuam em alta. PIB e emprego dão os primeiros sinais de recuperação. Ainda falta muito, mas é alentador. Talvez o que falte mesmo, é um novo Governo, com um novo Programa.

.oOo.

Paulo Timm é economista, pós-graduado CEPAL/ESCOLATINA – Prof. aposentado da UnB . Fundador do PDT.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora