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12 de janeiro de 2018
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09:36

Tempos difíceis

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Tempos difíceis
Tempos difíceis
“O STF desrespeita a Constituição que, como seu guardião, lhe cabe zelar e fazer cumprir”. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

 Paulo Muzell

Fux, o engavetador

Nosso Supremo (STF) causa arrepios: desrespeita a Constituição que, como seu guardião, lhe cabe zelar e fazer cumprir. Apoiou este vergonhoso golpe que colocou Temer na presidência; seus ministros são argentários e nepotistas. Neste cenário de “horrores” destaca-se como indiscutível liderança o “homem das liminares salvadoras”, todas discutíveis, suspeitas. Por isso ele é chamado de Gilmar, o Libertador. Uma espécie da Simon Bolívar às avessas. Luiz Fux, um outro ministro, é conhecido como o engavetador. Em 2015 o Conselho Internacional dos Direitos Humanos (CIDH) apresentou ao STF dois recursos pedindo a revisão da anistia concedida a crimes hediondos praticados pela ditadura militar. Os recursos dormitam há mais de dois anos nas gavetas de Fux. Em 2013 o vereador Cássio Trogildo foi cassado por unanimidade pelo TRE/RS por comprovada prática de crimes eleitorais. Uma liminar de Fux suspendeu os efeitos da cassação e permitiu que Trogildo exercesse integralmente seu mandato e ocupasse o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre no biênio 2016/2017.

TRF-4, um escândalo de parcialidade

Primeiro, foi a declaração inicial do Presidente do Tribunal Federal da 4ª. Região, Carlos Eduardo Thompson Flores que, ao receber da Lava Jato o processo de Lula, se pronunciou fora dos autos, elogiando a sentença de Moro. Depois, foi o atropelo que transformou a ação de Lula num “processo a jato”. Pulando à frente de sete processos que haviam chegado antes, foi colocado na pauta de julgamento em menos de cinco meses, recorde histórico. Para completar o sinistro quadro, a Chefe de Gabinete do Presidente, Daniela Krauling postou nas redes sociais uma foto de Lula escrevendo ao lado: “o Brasil inteiro exige sua prisão”. Thompson Flores considerou ética e aceitável a atitude de sua colaboradora.

Marchezan, chacota nacional

Seu primeiro ano na Prefeitura não podia ter sido pior A cidade, que já estava mal cuidada, em 2017 piorou. Passou todo ano se lamentando das dificuldades sem encaminhar soluções. Terminou com o Orçamento Participativo, um símbolo de Porto Alegre. Brigou com tudo e com todos. Arrochou salários e não pagou em dia: os servidores municipais responderam com uma greve de 40 dias, a maior já enfrentada por um governo municipal. Criou uma tropa de choque na Guarda Municipal para bater em manifestantes e grevistas. Odeia a democracia, tenta proibir e criminalizar a livre manifestação, um direito constitucional. Brigou com seus secretários e assessores diretos, dezoito foram afastados ou se afastaram. Insultou os vereadores chamando-os de “cagões”, trocou seu líder na Câmara que se tornou seu inimigo. Marchezan era uma mediocridade local, restrita à província de São Pedro.

Não satisfeito, se esforçou e conseguiu notoriedade nacional. Primeiro escolheu uma numerosa equipe de assessores e foi passear em Paris, desperdiçando o dinheiro que, segundo ele, a Prefeitura não tem. De lá postou uma verdadeira pérola: encantado com os carregadores de celulares existentes nas paradas de ônibus da capital francesa, anunciou que traria para Porto Alegre a excelente iniciativa. Os celulares são o principal alvo dos furtos ocorridos na cidade. Só Marchezan não sabia. Neste início de janeiro enviou um ofício para o Presidente da República solicitando a presença da força nacional de segurança e de tropas do exército no dia 24, data marcada pelo TRF-4 para o julgamento de Lula. Alegou que a medida seria necessária para garantir a ordem pública. O que ele queria, na verdade, era transformar a cidade numa praça de guerra para intimidar os manifestantes que apoiam o ex-presidente. Bola fora: seu pedido foi desconsiderado porque não é competência do prefeito e sim do governador tratar de questões de segurança pública. Levou um puxão de orelhas e, mais uma vez, tornou pública sua postura fascista.

“Me chamo Cristiane Brasil, mas pode me chamar de Roberto Jeferson”

Ele é, sem qualquer dúvida, uma das figuras mais abjetas da política brasileira das últimas décadas. Em 2005 se auto imolou para viabilizar a abertura da Ação Penal 470, o começo do feroz ataque contra o governo Lula e o PT. Confessou ter recebido do PT quatro milhões de reais para o caixa dois do PTB em troca de apoio político – votos – necessários à aprovação de projetos de lei do governo Lula. No final de 2012 foi originalmente condenado a 10 anos de prisão em regime fechado. Beneficiado pela delação premiada, sua pena foi reduzida para 7 anos. Cumpriu menos de um terço da pena nos regimes semiaberto e aberto; no início de 2016 foi indultado. De 2003 até hoje ocupou por mais de uma década a presidência nacional do PTB, interrompida apenas durante período de cumprimento da sua pena (2013 a 2015). Como se vê foi bem tratado pelo Judiciário brasileiro que, sabidamente, premia aqueles que defendem os interesses da oligarquia e até se sacrificam por uma missão nobre: a de banir do poder partidos e políticos que se identifiquem minimamente com os interesses maiores da nação.

Roberto Jeferson e o PTB tiveram sempre uma clara postura política do “toma lá, dá cá”: vendem votos em troca de cargos e dinheiro. Por isso, desde o governo FHC e início do primeiro governo Lula tiveram a direção da Delegacia do Trabalho do Rio de Janeiro (DRT/RJ) sob o seu controle. Por vários anos Henrique Pinho e Silva, homem de confiança de Roberto Jeferson ocupou o cargo de superintendente da DRT do Rio. Em 2006 a operação Paralelo 251 apurou que na gestão de Henrique Pinho e Silva uma verdadeira quadrilha de mais de cinco dezenas servidores e de auditores fiscais do trabalho da Delegacia do Rio sumia com processos de multas de grandes devedores. Houve denúncias e forte indícios que parte das propinas recebidas iam para os cofres do PTB. Jeferson foi membro da “tropa de choque” de Collor e indiciado por receber de propina na CPI do Orçamento. Apesar de cassado em 2005 requereu e teve deferida uma gorda aposentadoria como parlamentar da Câmara Federal.

A justiça brasileira foi muito camarada com Roberto Jeferson, ele teve sua pena reduzida em mais de dois terços, não viu o “céu quadrado”. Mas somente agora, neste início de 2018 é que teve o reconhecimento oficial e foi premiado pelos relevantes serviços prestados: Temer indicou sua filha para ministra do Trabalho. O jornalista Marcelo Auler resumiu a escolha numa frase: “me chamo Cristiane Brasil, mas pode me chamar de Roberto Jeferson”.


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