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19 de janeiro de 2018
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09:45

O dilema da direita

Por
Sul 21
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O dilema da direita
O dilema da direita
Juiz federal Sérgio Moro e o apresentador Luciano Huck. (Antonio Cruz/ Agência Brasil)

 Paulo Muzell (*)

Depois de onze anos de incessantes e furiosos ataques ao PT e a Lula a oligarquia brasileira finalmente conseguiu derrubar uma presidenta legitimamente eleita. Colocou em seu lugar Temer e sua camarilha. A Globo coordenou o processo, sendo coadjuvantes um legislativo controlado por um corrupto histórico – Eduardo Cunha –, que seguiu o script previamente definido e cumpriu o seu papel, endossando a farsa. Um poder judiciário cada vez mais desacreditado, politizado, partidarizado à direita também cumpriu o seu papel, foi peça importante como legitimadora do golpe, deu aparência de legalidade à farsa. Permitiu os desmandos e abusos cometidos por Moro e, num momento crucial da crise, impediu que Dilma nomeasse Lula ministro.

Uma direita ávida, desesperada, chegou ao poder por meios ilícitos. Em apenas um ano e meio, porém, chegou a um nível de desgaste e perda de credibilidade que indicam que os ventos da mudança vão começar a soprar. Várias são as causas. A primeira é que ruiu a velha desculpa do combate à corrupção. O golpe colocou no Planalto uma verdadeira quadrilha. Depois, a política neoliberal se apressou para mostrar suas garras, seus efeitos nocivos: arrocho fiscal, redução do salário mínimo, aumento da informalidade e do desemprego e ataques diretos aos direitos dos trabalhadores: reformas trabalhista e previdenciária. Uma oligarquia apátrida em curto espaço de tempo mostrou que não tem um projeto nem quadros políticos que possam sustentá-la no poder. Resta-lhe um FHC gagá, um quadro qualificado que trocou de lado e atrelou o país de forma submissa aos interesses externos. FHC só conseguiu preservar sua imagem porque foi beneficiado pela blindagem da grande mídia. Os escândalos do seu governo: negociatas e desvios bilionários das privatizações, as ilicitudes da CPI do Banestado e a farra das contas CC-5, dentre outras maracutaias, foram todas varridas para debaixo do tapete, ignoradas pelo ministério público e pelo poder judiciário.

O PSDB, principal partido da direita, que busca inutilmente dar ares de centro, não conseguiu formar novas lideranças para substituir FHC. Os três possíveis candidatos – Serra, Alckmin e Aécio – fracassaram e, pior, suas biografias foram marcadas por um sem número de denúncias de corrupção. Estão aí livres, leves e soltos protegidos pela grande mídia e pela escandalosa parcialidade do Supremo Tribunal Federal. O PSDB ficou acéfalo e desmoralizado ao manter Aécio na sua presidência. Sofre, ainda, o enorme desgaste de manter o apoio a Temer, um governante corrupto que tem contra si o repúdio de 95% da população brasileira.

As demais alternativas da direita não têm biografia política consistente, são figuras caricatas com pouco ou nenhum carisma. Bolsonaro se alinha na extrema a direita, é um fascista despreparado. Nunca exerceu um cargo no executivo é deputado federal há dezessete anos. O Partido Social Liberal (PSL), sua oitava opção partidária é nanico, não tem quadros políticos preparados para governar. Bolsonaro não é sequer aceito pela direita tradicional que o repudia, que prefere morrer abraçada ao PSDB. Por isso foi matéria recente da Folha de São Paulo que denunciou seu enriquecimento ilícito. Acabou virando marchinha do carnaval 2018: “Tem que ter QI de mico/pra ficar lambendo bota de milico/cérebro de periquito/ pra chamar este boçal de mito/memória de tanajura pra dizer/que nunca houve ditadura”.

As alternativas restantes da direita são inviáveis, até ridículas. João Dória, uma novidade na política, prefeito de São Paulo em pouco tempo mostrou sua inconsistência. Ausente como gestor optou por lances marketing tentando consolidar sua imagem no cenário nacional. Fracassou. Henrique Meireles, segundo se noticiou, também tem intenção de se candidatar. Ele é a própria cara do arrocho salarial, do desemprego, da crise econômica. Banqueiro tecnocrata, de cara fechada, só aparece para dar notícias ruins. Chance zero. Outro que se apresenta timidamente é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Ele tem o carimbo das reformas impopulares que apoiou, seu nome não está consolidado nacionalmente. Zero chance. A última alternativa já é uma prova do desespero da direita e da Globo.

Cansados de apoiar prepostos os Marinhos lançaram um balão de ensaio, a candidatura de um funcionário seu, Luciano Huck. Mesmo num país com baixo nível de politização parece difícil transformar um apresentador de programas de tevê em presidente da república. Os resultados desfavoráveis das pesquisas iniciais fizeram Huck recuar. Mais recentemente reiterou não ser candidato, mas, estranhamente, solicitou que o Ibope mantivesse seu nome nas pesquisas. A seguir participou com destaque no programa dominical de maior audiência da emissora. Onde há fumaça, há fogo, vamos aguardar. Lula num dos seus discursos disparou: “querem transformar o país no caldeirão do Huck”!

A farsa de condenar Lula sem provas tem crescente repercussão internacional; a parcialidade e o partidarismo do judiciário ficam mais evidentes a cada dia que passa. Lula lidera com larga margem as pesquisas de intenção de voto. Os ventos da mudança começam a soprar.

(*)


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