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15 de dezembro de 2017
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10:03

Ponto e contraponto

Por
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Ponto e contraponto
Ponto e contraponto
“Moro rasgou a toga e segue fazendo política”. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

 Paulo Muzell (*)

O JUDICIÁRIO AFUNDA

Lula é condenado sem provas com base em delações não comprovadas; malas e malas de dinheiro encontradas com a “turma de Temer” não são provas suficientes, o golpista continua livre, fazendo o “trabalho sujo”: entrega do patrimônio público e extermínio dos direitos dos trabalhadores. Depois de pego com a “boca na botija”, Aécio segue, livre leve e solto exercendo seu mandato de senador. Moro rasgou a toga e segue fazendo política. Nega à defesa de Lula o direito à oitiva de Rodrigo Tacla Duran, advogado que fez declarações gravíssimas envolvendo o compadre de Moro, Carlos Zucolotto, sócio de Rosangela, sua esposa. O presidente da República do Paraná continua no pleno exercício de suas funções, decidindo o destino do país.

NAZIFASCISMO ATACA UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Primeiro foi a brutal prisão do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, feita como sempre, de forma escandalosa, um show midiático previamente combinado entre as “autoridades” fascistas”, a Globo e veículos da grande mídia. A violência, a vergonha do linchamento público, levaram o reitor ao suicídio. Não satisfeitos os fascistas atacaram novamente, desta vez o alvo foi Universidade Federal de Minas Gerais. Invadiram de madrugada a residência do reitor, interromperam seu banho e o conduziram coercitivamente à sede da PF. Mais humilhação, linchamento público. O Ministério Público Federal considerou desnecessária e abusiva a prisão do reitor, urdida por delegados da PF e uma juíza federal de Belo Horizonte. Os bandidos de farda tiveram o mau gosto de chamar a operação de “Esperança Equilibrista”. João Bosco protestou, não empresta seu nome à uma operação nazifascista. As “SS” e a Gestapo ressurgem com o golpe.

UM SILÊNCIO CONSTRANGEDOR

Foi preciso que o Departamento de Justiça norte-americano investigasse para que fosse tornado público o que qualquer pessoa medianamente informada já sabia há muito tempo. Dirigentes da Fifa, da Conmebol e da CBF, entidades que dirigem o futebol mundial estão há décadas envolvidas em esquemas de recebimento de propinas na venda dos direitos e da exclusividade nas transmissões dos grandes torneios do futebol internacional: Copa do Mundo, Copa América, Libertadores da América, Copa Sul-Americana, dentre outros eventos esportivos. O empresário argentino Alexandre Burzaco depondo no processo Fifagate afirmou que diretor de Esportes da Globo, Marcelo Campos Pinto, pagou propina de 15 milhões de dólares para assegurar direitos de transmissão de jogos da Copa do Mundo. Mais recentemente José Maria Marin também foi acusado de receber de 5 milhões de reais da empresa J Hawilla, sócia da Globo. O Ministério Público Federal e a Justiça brasileira permanecem num silêncio constrangedor.

DOGDE SUBSTITUI JANOT

Foi a troca do 6 por meia dúzia, o Ministério Público Federal (MPF) se afasta cada vez mais das enormes responsabilidades que lhe foram atribuídas pela Constituição de 1988. A entrada de um grande número de jovens procuradores federais recentemente concursados trazia a esperança da renovação do velho aparato do sistema de justiça do país. Sangue novo, oxigenação. Infelizmente isso não aconteceu. O apoio da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) ao golpe contra Dilma não deixou nenhuma dúvida de que os interesses menores predominam, comprometendo o futuro da instituição. Na sua maioria os procuradores têm postura corporativa, de intransigente defesa de vantagens e aumentos salariais. Alguns imitam Moro, buscam a notoriedade, a fama, enveredam pela política. O MPF descuida do que lhe cumpre fazer: assegurar o cumprimento da Constituição, defender a democracia e os direitos da cidadania.

O FENÔMENO LULA

Ninguém foi mais atacado do que ele nas últimas duas décadas. A partir de 2005, com o início da Ação Penal 470, o país assistiu a um verdadeiro “massacre midiático” com a evidente intenção de desmoralizá-lo, condená-lo, prendê-lo, bani-lo da política. A partir de 2015 a Globo criou um novo “salvador do Brasil” atribuindo-lhe uma tripla tarefa: destruir Lula, o PT e depreciar para facilitar a privatização do maior patrimônio e orgulho do país, a Petrobras, símbolo da soberania nacional. As forças e os interesses que derrubaram Getúlio Vargas em 1954 ressurgiram seis décadas depois. Seu nome: Lava Jato, sua cara, Sérgio Moro. Milagrosamente o metalúrgico que se tornou a maior figura e liderança política do país no período pós ditadura militar sobreviveu a tudo e a todos. Não se deixou abater: percorre o país em caravanas, é aclamado por multidões. Carisma, trajetória e sobretudo uma enorme coragem moral mostram que ele é um fenômeno, um osso encravado na garganta da oligarquia nacional.

DESTRÓI A JATO

Não foi o PT, nem os demais partidos de oposição ou a imprensa nanica quem noticiou. Foi a Fundação Getúlio Vargas. A instituição calcula que as investigações da Operação Lava Jato reduziram o PIB do país em 142 bilhões e seiscentos milhões de reais. Os espetáculos policiais-jurídicos-midiáticos foram a causa principal deste enorme prejuízo. Se as investigações tivessem sido conduzidas de forma discreta, sem alarde, a quase totalidade do prejuízo seria evitado. Os responsáveis pela operação orgulham-se de terem restituído aos cofres públicos 650 milhões de reais, 0,4% do prejuízo que causaram.

EQUÍVOCOS DA DIREITA

Um balanço realizado hoje deveria, necessariamente, concluir que a nossa direita brucutu cometeu graves equívocos. Primeiro: proteger Aécio, um notório membro da Casa Grande. Com isso pôs por terra o frágil argumento que sustentava o golpe, o suposto combate à corrupção. Segundo: a grande mídia, desesperada, num verdadeiro delírio, anuncia a “retomada”, fala em “superação da crise”. Os trabalhadores que vivem a dura realidade da perda de seus direitos trabalhistas, a ameaça da reforma da previdência, o desemprego e a redução dos salários sentem no bolso que a mídia mente, percebem de que lado ela está.

(*) Paulo Muzell é economista.


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