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25 de março de 2016
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10:06

Fortunati imita Sartori

Por
Sul 21
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Fortunati imita Sartori
Fortunati imita Sartori

Por Paulo Muzell

Foto: Ivo Gonçalves / PMPA
Foto: Ivo Gonçalves / PMPA

Há poucos dias atrás Fortunati concedeu uma longa entrevista veiculada aqui no Sul21. Mais uma vez, o vacilante prefeito tentou justificar as flagrantes omissões e debilidades de seu governo. Desta vez é a crise a grande vilã. Depois o PSOL que ao entrar com uma ação para sustar o abusivo aumento da tarifa dos ônibus, obrigou a Prefeitura a pagar às operadoras uma diferença tarifária de cinquenta centavos o que irá onerar os cofres públicos com uma despesa mensal adicional de 10 milhões de reais. “Menos dinheiro para a educação e para a saúde”. E mais, afirmou: “soma-se a isso a redução da receita municipal em decorrência da brutal crise econômica o que certamente nos obrigará a tomar uma medida extrema: parcelar o pagamento dos salários dos servidores já no início do segundo semestre”. O tíbio e hesitante prefeito imita o seu tíbio e hesitante governador.

Esta é a “conveniente” versão oficial. Vamos aos fatos. Primeiro: a crise não provocou significativa redução da receita municipal. Em 2014 e em 2015 Fortunati anunciou, triunfante, dois expressivos superávits orçamentários. Este ano a receita no primeiro bimestre foi de bilhão e onze milhões de reais, contra 929 milhões em igual período de 2015. Um crescimento nominal de 9%, muito próximo da inflação. Segundo: todo mundo sabe que a licitação para concessão do transporte coletivo por ônibus excluiu a única empresa não integrante da ATP, fato que trouxe fortes suspeitas da existência de um “jogo com cartas marcadas”. Além disso, a fixação no edital de uma tarifa de até 3,75 foi o passo inicial para o grande aumento contestado pelos usuários e que justificou a ação judicial do PSOL e a obrigação da Prefeitura de ressarcir os consórcios. Desde que iniciou a gestão Fogaça-Fortunati, em 1º de janeiro de 2005 a tarifa subiu 142% e a inflação medida pelo IPCA apenas 91%. Além disso, este último “tarifaço” de 15,3% sobrecarregou a população num momento de desemprego elevado e em alta.

Na sua prestação de contas Fortunati afirmou, também, que mais de 90% das metas estabelecidas foram integral ou parcialmente atingidas em 2015. Não é verdade. E o próprio prefeito começa dando um mau exemplo. Tem lotado no seu gabinete, o GP, 113 CCs na sua maioria recebendo bons e até polpudos salários. E dos 15 projetos e atividades finalísticas constantes no orçamento 2015 do GP, dez registraram execução zero, não foram sequer iniciados. Registre-se que a despesa total do GP em 2015 foi de 34 milhões de reais, o que, convenhamos, é um flagrante exagero.

Andando pelas ruas da cidade o porto-alegrense se depara com um cenário que nada tem a ver com a versão cor de rosa do Prefeito. As obras ou estão paralisadas ou andam a passos de cágado. A reforma do Pronto Socorro se arrasta há muitos e muitos anos. O BRT, anunciado há cinco anos dá seus primeiros passos, engatinha. Não estará em operação antes de 2020. Em obras viárias da SMOV de uma previsão de aplicar 356 milhões, foram investidos apenas 59 milhões, ou seja, 17%. Quatro projetos na área dos transportes o Monitoramento Eletrônico dos Corredores, o Qualificação do Sistema Semafórico, o de Transporte Cicloviário e o Programa de Transporte Hidroviário registram no Sistema de Despesa Orçamentária (SDO) da Prefeitura execução zero, nenhum real gasto. Dos 23 projetos e atividades previstas na SMAM, 19 não foram iniciados, registram execução zero, nenhum real aplicado. Dos 150 mais importantes projetos finalísticos da Prefeitura, mais da metade não foi iniciada em 2015. Um desastre.

Mas o pior da lamentável entrevista do prefeito ficou para o final. Solicitado a falar sobre o delicado momento político do país, não opinou, ficou em cima do muro. Afirmou que torce apenas pelo fim da crise, não importando se com o sem impeachment da Presidenta. Com essa declaração apenas confirmou o que aqueles que acompanham há mais tempo sua trajetória já sabiam. Trata-se de um político tíbio, sem ideologia, sem lado, um fisiológico típico. Trocou o PT pelo PDT e não será surpresa se amanhã migrar para a Rede, para onde já foi sua companheira Regina Maria Becker. A tragédia de Fortunati reside na impossibilidade de conciliar uma enorme ambição com um diminuto talento.

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Paulo Muzell é economista.


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