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11 de abril de 2017
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10:30

A jovem alegria dos veteranos

Por
Sul 21
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Nubia Silveira

Tenho certeza de que quando se pensa em algo, alguma outra pessoa está pensando o mesmo. Não somos únicos em nada. Isso ficou provado quando, durante um cafezinho, após a perda de grandes amigos e jornalistas – Adroaldo Streck , Floriano Corrêa, o Florianão, Jayme Copstein e Sampaio –, sugeri ao Carlos Bastos reunir os amigos veteranos em um almoço. Ele abriu os olhos admirados e me disse: “Essa ideia é do Ibsen. Ele me falou disso ontem.” “Como assim?” foi a minha reação. “Venho pensando nisso há algum tempo, pois quero produzir um livro com testemunhos desta turma.” E acrescentei: “Então, vamos deixar o Ibsen promover o almoço”. Velho diplomata, acostumado a lidar com os egos que dominam as redações, Bastos propôs: “Vamos nos reunir os três”. Foi o que fez. Marcou uma reunião entre Ibsen, ele e eu. Foi ótimo. Dali já saiu a primeira lista dos veteranos que trabalharam na imprensa em Porto Alegre e que hoje estão com 80 anos (ou pertinho deles) e 90 anos. A lista crescia diariamente. Encontrar todos não foi fácil. Foi preciso recorrer aos amigos de menos idade que se sentiram rejeitados. Mas entenderam a proposta do encontro.

Conseguimos localizar mais de 60 oitentões e noventões. A maioria esbanjando saúde e com ótima memória. Alguns foram impedidos, por problemas de saúde, de participar do encontro, realizado no sábado, 8 de abril, no Restaurante Copacabana, ponto de encontro de jornalistas, juntamente com o Dona Maria, que fechou suas portas, assim como muitos dos jornais em que os veteranos trabalharam. Foi um almoço de grande emoção, mas sem as rosas vermelhas de Roberto Carlos. A cada um que chegava, aumentavam os decibéis. Parecia festa de aniversário infantil, mas sem choro. Só alegria. Todos felizes por reverem amigos de muitos anos, por poderem recordar tempos sem grana no bolso, em que passavam as noites conversando na Praça da Alfândega, que vivia em paz.

Poucos dos que confirmaram não foram. Em compensação, muitos que não tinha respondido sim à convocação, apareceram. Como era de esperar, surgiram também os bicões, que não se contentaram em ficar de fora de uma reunião feita de histórias e grandes experiências. Os cabelos brancos confirmavam os anos bem vividos. O mais velho de todos, Ib Kern, 98 anos, foi chefe de muitos dos de 80, como Carlos Bastos e Flavio Tavares. Na faixa dos 90, estiveram por lá também Lucídio Castelo Branco, diretor de redação por muitos anos da sucursal do Jornal do Brasil em Porto Alegre, Ari dos Santos, que chefiou redações em rádios como a Gaúcha e a Difusora, e Hugo Hammes, marcado pela sua atuação como assessor de imprensa do Consulado da Alemanha. As mulheres estiveram em menor número. Apenas duas: Fé Emma Xavier, que acaba de publicar um livro sobre sua vida pessoal e profissional, e Gladis Fichbein que, após trabalhar na Última Hora, trocou o jornalismo pela publicidade. E houve quem veio de longe para rever os velhos companheiros. Foi o caso de José Silveira, que saiu do Rio Grande do Sul para fazer jornalismo no Rio de Janeiro, onde durante muitos anos comandou a redação do Jornal do Brasil.

Foi lindo ver todos felizes, se abraçando, conversando sem parar, falando não apenas do passado, mas também do presente e olhando para o futuro. A memória guardou momentos importantes da História do Rio Grande do Sul e do Brasil. Os tempos eram outros. Os profissionais não precisavam de diploma para trabalhar (hoje voltou-se a não precisar), havia emprego (as vagas são raras na atualidade) e jornais para escolher: Diário de Notícias, Jornal do Dia, A Hora, Última Hora, Correio do Povo, Folha da Tarde e a Revista do Globo, além de semanários. A vida é outra, com computadores e celulares. Mas, estou certa, que o grupo que se reuniu no Copacabana ainda consegue fazer rádio e jornal como ninguém.

Algumas fotos do encontro:

Lucídio Castelo Branco cumprimenta Martha Azevedo sob o olhar do filho de Martha, também jornalista, Roberto Azevedo
Enéas de Souza, Floriano Soares e Gervásio Neves
Ibsen Pinheiro e Joseph Zukauskas
Caetano Brum e Fé Emma Xavier
José Silveira e Carlos Bastos
Ib Kern com Júlio Ribeiro à sua frente e Hiron Goidanich, o Goida, ao fundo à esquerda
Ib Kern, o decano, de 98 anos

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