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5 de junho de 2016
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11:36

Reencontros

Por
Sul 21
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PEDRO CHAVESPor Nubia Silveira

Reencontrar amigos é sempre uma alegria. Olhamos para o passado com um humor diferente daquele com que o vivemos quando era presente. Lembramos gafes e erros dolorosos com muitos risos e não mais choros. As dores adquirem uma cor mais amena. E as alegrias, um colorido de arco-íris. A memória, quando ainda está viva, é uma maravilha, mesmo que de vez em quando nos confunda ou nos traia. Nesta semana, estive com amigos de muito tempo e de experiências comuns para comemorar o livro de memórias lançado por Pedro Chaves, em abril. Por alguma razão, além da chuva e do frio daquele dia, não compareci ao lançamento. O encontro foi adiado por quase um mês, mas valeu a pena.

Um golpe sujo e outras histórias de jornalismo é uma produção independente. O autor fala sobre seu início no jornalismo gaúcho, no final dos anos 1960, apesar de ter se preparado para ser médico, e sobre o trabalho de repórter no Correio do Povo e em Zero Hora, em vários períodos, e nas assessorias de imprensa da capital gaúcha. Na Prefeitura, chefiou a Comunicação por 10 anos. Pedro tem muita história para contar. Nem todas estão no livro, que é de leitura fácil, fluida. Ao chegar ao fim, fica-se com aquele gostinho de quero mais. Relembramos épocas, pessoas, locais, fatos. Pedro ativou a minha memória. Recordei da minha época de foca (iniciante no jornalismo) em 1968, no Diário de Notícias, quando acreditava que poderia abraçar o mundo e mudá-lo para melhor.

Foi uma época de descobrimentos, de fazer novos amigos, de aprender que não adiantava chegar no horário para entrevistas coletivas. Nenhum entrevistado se atrevia a começar o encontro se o repórter do Correio do Povo não estivesse presente. Era duro ficar ali esperando pelo colega do maior jornal da época, tendo ainda de cumprir outras pautas. Recordei das visitas dos presidentes-generais ou generais-presidentes ao Rio Grande do Sul. Os seguranças mantinham os repórteres bem afastados. Uma vez ou outra conseguíamos furar o esquema. Foi o que fiz quando o presidente Costa e Silva visitou o maior colecionador de armas do Rio Grande do Sul, Arlindo Pedro Zatti (o nome foi lembrado por Jorge Waithers). O Hajimo Hirano, fotógrafo educado e super amigo, vindo do Japão, também tinha conseguido cruzar a fronteira. Esperávamos já no corredor a saída dos visitantes, quando Costa e Silva apareceu. Sentindo vontade de espirrar, o presidente puxou do bolso um enorme lenço branco. Hirano, um ótimo profissional, apontou a lente para fazer a foto que, certamente, seria um sucesso.

– Vocês só querem pegar a gente em situações desagradáveis, reclamou Costa e Silva.

– Ele está fazendo o trabalho dele e a foto é ótima, me intrometi, esquecendo o risco que poderia correr.

– Aqui no Rio Grande do Sul só tem mulher braba, retrucou o presidente, já rindo.

A partir deste diálogo, toda a vez que ele vinha a Porto Alegre e eu era designada para fazer a cobertura da visita, ele me cumprimentava como a repórter braba. Foi divertido.

Quem quiser saborear histórias deste tipo deve ler Um golpe sujo, que está à venda no Bistrô Cozinha de Afrodite, na João Telles esquina com a Henrique Dias. Tem também o e-book, que pode ser adquirido em aqui.

Um golpe sujo

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Nubia Silveira é jornalista.


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