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12 de junho de 2016
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10:06

Maiores de 60

Por
Sul 21
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Maiores de 60
Maiores de 60

grace-frankie-goodPor Nubia Silveira

Quando começamos a chegar perto dos 60 anos, a Iára Rech, grande amiga e jornalista, afirmou, seriamente, para nós, suas amigas mais próximas: “Primeiro, eu abria o jornal para ler sobre as festas de 15 anos, depois sobre casamentos e nascimentos. Agora, leio o necrológio”. Rimos da verdade que atinge a todos nós, maiores de 60. Se estivesse viva, Iára saberia que, atualmente, não precisamos esperar o outro dia para receber as más notícias. Elas chegam a galope. Numa tacada só, pelo whatsApp, soube de três delas: uma amiga querida está hospitalizada, em coma, o marido de nossa empregada foi internado com gripe A, que os médicos demoraram a diagnosticar, e outro amigo começa a dar sinais de Alzheimer, trazendo para o presente o que ficou no passado. Nessas horas sempre nos questionamos sobre o nosso futuro. Não há como prever. E nem é salutar ficar remoendo as tristezas.

Para combater a dor que insiste em tomar conta de mim, lembro dos amigos que já atingiram os 80 e estão saudáveis, alegres, com ótima memória e preservam o humor para rir dos incômodos que chegam com o passar dos anos. Dia destes encontrei três deles, no Centro de Porto Alegre. Foi uma alegria. Colocamos a conversa em dia. Propus marcar um almoço e convidar os demais dinossauros que andam por aí, trabalhando, participando ativamente de entidades de classe, usando a tecnologia como se tivessem nascido com ela. “Só se for num hospital”, disse com ironia um deles, o que exibia uma bengala. Fiquei pensando na proposta sarcástica. Ela só valia mesmo como uma boa piada. Nenhum dos nossos amigos da geração 8.0 tem frequentado hospitais. Ao contrário, andam pelas ruas, restaurantes, cinemas aproveitando a vida.

Os infortúnios acontecem em qualquer idade. Não é mais o tempo que determina o nosso fim, mas o modo como encaramos a vida e nos prevenimos contra os males que estão sempre à espreita. Podemos ser jovens e ativos aos 80. É o que mostra – e muito bem – uma série exibida pelo Netflix com ótimos atores: Jane Fonda, Lily Tomlin, Martin Sheen e Sam Waterston. Os septuagenários Grace, Frankie, Robert e Sol recomeçam suas vidas quando muitos estão prontos para vestir o pijama e ficar em casa. Exibem uma vitalidade que não fica nada a dever aos que têm menos de 60. São ativos sexualmente, encontram novos amores e nem sempre sabem como agir. Mas sabem como viver. Grace and Frankie não é uma série de correrias e tiroteios, de corrupção policial, investigações ou seres de outros mundos. Os episódios não chegam a ter meia hora, tempo suficiente para retratar os dias de quem ainda se sente e vive como jovem.

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Nubia Silveira é jornalista.


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