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15 de maio de 2016
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10:01

Geração mimimi

Por
Sul 21
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Geração mimimi
Geração mimimi

menina fofaPor Nubia Silveira

Em um dia friozinho desta semana, eu vertia água por todos os poros, puxando ferro na academia, quando resolvi prestar atenção na conversa dos personal trainers, reunidos próximo a mim, todos na faixa dos 20/30 anos. Alguns ainda na faculdade, outros recém-formados. Reclamavam dos mimimi. Jovens que, segundo eles, vivem se lamuriando, se queixando, protestando, sem querer fazer nada. “Estão sempre de mimimi, choramingando”, me esclareceram.

Na minha santa ignorância, nunca tinha ouvido falar de Geração Mimimi. Parei na Nem-Nem. Achei interessante ouvir jovens criticando jovens. Lembrei que em todas as gerações sempre houve um grupo que não está disposto a pegar o touro à unha, a enfrentar a vida de frente, esperando pelas benesses. Vivem na torcida para que tudo lhe caia do céu, feito o maná. Eles objetaram: “Não, esta geração mimimi é pior”. Fiquei com a imagem de guris e gurias que pretendem levar a vida sem muito esforço. Não sei se esta ideia corresponde à realidade.

O mais curioso de tudo, no entanto, foi escutá-los elogiando as gerações anteriores. “A dos meus pais – disse um deles – é que foi batalhadora. Enfrentou muitos problemas. Não tinha nada. Nem ar-condicionado, nem celular”. O outro rebateu: “Meus pais viviam no interior. Na cidade não tinha nem rua asfaltada”. Fiquei pensando em duas coisas: que os pais não devem saber do orgulho que os filhos têm deles e como vivíamos – e bem – sem toda a tecnologia que hoje nos torna dependentes. Cresci, trabalhei, viajei, conheci outras pessoas e outros mundos, sem ter celular ou desfrutar das maravilhas do ar-condicionado. Nada atrapalhou o meu crescimento e o de milhões de pessoas. Foi difícil? Não sei. Lembro que queríamos abraçar o mundo (desejo de todas as gerações), conhecer novas culturas, fazer amigos.

Olhando para trás vejo que a minha geração, apesar de todas as lutas, era mais feliz do que infeliz. Lembro de protestos, mas não de queixas, de lamúrias. Os obstáculos eram para ser vencidos. Quebramos tabus – andar sem sutiã, usar calças compridas, expor as pernas, pagar nossas contas – que hoje parecem ridículos. Cometemos erros. Fomos uma geração que viveu o presente, sem pensar em preparar o futuro. Mas não chegamos nem perto de ser Nem-Nem (Nem trabalham, nem estudam) ou Mimimi. Fico imaginando como a geração anterior à nossa nos via. Como loucos irresponsáveis, imagino. É a vida. Cada um achando a sua a melhor geração.

.oOo.

Nubia Silveira é jornalista.


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