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29 de maio de 2016
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10:07

Acessibilidade

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Acessibilidade
Acessibilidade

Lelei, jornalista: no dia em que se formou no Clássico levou o título de mehor aluna | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21 |Por Bernardo Jardim Ribeiro Por Nubia Silveira

Acessibilidade é tema da Lelei Teixeira em seu blog aqui no Sul21. Hoje vou me intrometer no assunto, entrar em seara alheia, mesmo que não tenha tanto conhecimento nem tanta capacidade quanto a Lelei para discorrer sobre a matéria. Falar sobre acessibilidade significa, sempre, criticar a falta dela. Como bem sabe a nossa blogueira, o mundo é inacessível não apenas para os que sofrem alguma deficiência grave, mas para todos que fogem das medidas consideradas normais. Tudo – locais públicos, meios de transporte, roupas – está voltado para os que exibem padrões semelhantes aos de modelos e atores. Gente de proporções maiores ou menores sofre com a falta de ofertas do mercado, só preocupado em propagandear as vantagens – na maioria das vezes enganosas – de produtos que ajudam a adquirir um corpo de modelo. O desrespeito é generalizado.

Nos últimos dias voei de Porto Alegre a Florianópolis e de lá para cá. Fazia muito tempo que não punha os pés num avião. Tenho preferido viajar de carro. No check in, fui surpreendida pela atendente. Ela me ofereceu um lugar mais confortável, com mais espaço. Imaginei, logicamente, uma poltrona em que coubessem, com tranquilidade, os meus mais de 100 quilos. Fiquei agradecida pela preocupação da moça. Aceitei e paguei R$ 19,00 pelo novo assento. O preço corresponde a um percurso pequeno, me explicou a funcionária da Gol, com toda a gentileza. À medida que a quilometragem aumenta, os reais também sobem.

Ao entrar no avião me deu vontade de rir de mim mesma. Da minha idiotice em acreditar que as companhias aéreas estejam preocupadas em oferecer acessibilidade para quem foge das medidas padrões. Precisei, como é o normal, fazer uma ginástica para entrar no banco. Graças aos céus, a poltrona ao meu lado estava vazia. Havia, sim, um pouco, muito pouco, mais espaço para as pernas. Um alívio – menor do que eu esperava – para os meus joelhos, que começam a reclamar. Precisei pedir ao comissário de bordo que aumentasse o cinto de segurança. Se os passageiros daqueles três lugares fossem todos do mesmo tamanho, a viagem teria sido insuportável. Mas o pior aconteceu na volta.

No embarque em Florianópolis, testemunhei o estresse da equipe da Gol com uma cadeirante. Ela deveria ter prioridade. No entanto, permanecia na fila. Os atendentes falavam entre si, pediam que ela e seu acompanhante esperassem um pouco mais. Iam e vinham sem uma solução rápida. Muitos passageiros já tinham embarcado quando a colocaram num equipamento especial para subi-la até o avião. A operação demorou a ser concluída. Fiquei pensando no medo, no desconforto e na humilhação que aquela senhora estava sentido. Dentro do avião ela teve de esperar por outra solução: remanejar outro passageiro para que ela pudesse ficar na primeira fila. Fico me perguntando, por que não há um lugar destinado a cadeirantes? Por que as equipes não são mais bem treinadas para tratar de pessoas impedidas de se locomover naturalmente? Os por ques são muitos. As respostas é que tardam a chegar, apesar das leis existentes. Por aqui, acessibilidade ainda é uma esperança.

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Nubia Silveira é jornalista.


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