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16 de novembro de 2017
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11:44

Feriado do quê, mesmo?

Por
Sul 21
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Feriado do quê, mesmo?
Feriado do quê, mesmo?
O Brasil ainda não resolveu seus vícios de colônia. (Proclamação da República, por Benedito Calixto, 1893)

Montserrat Martins

O Brasil tem um grande passado pela frente (Millôr Fernandes)

Tente explicar para os jovens o feriado de 15 de Novembro, Proclamação da República. Quem liga pra isso, num momento em que o Brasil está tão em baixa, tão desmoralizado?

Não resolvemos os problemas do passado – e não estamos falando de ditadura militar: o Brasil ainda não resolveu seus vícios de colônia. Nosso território foi ocupado no modelo Capitanias Hereditárias e nos últimos 500 anos apenas trocamos de donos. A cultura das concessões feitas pelo Reino aos amigos se enraizou por 400 anos, desde 1500, até o advento da República em 1889, vésperas de 1900.

Inaugurada há pouco mais de 100 anos, a República ainda não impôs em nossa cultura política o espírito da “res publica”, que deveria significar o governo em prol da “coisa pública”. O governo deveria servir ao Estado e este, servir à sociedade. Mas vemos o contrário, os governantes se apropriando do Estado para suas negociatas e o Estado sugando a sociedade.

Deveriam nossas riquezas, nosso vasto patrimônio natural, serem geridos em prol da sociedade. Por governos que tivessem um “Projeto de País”, ao invés de um projeto de poder. Aqui temos um capitalismo dependente do Estado e não foi a JBS quem inventou isso, ela apenas seguiu uma tradição colonial. Pior que a dependência, talvez até que a corrupção, é o imediatismo, a falta de visão, de projeto. Um projeto de Brasil que inclua sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Há décadas se diz, aqui e no mundo, que o Brasil é “o país do futuro”; quando se começou a dizer isso a Coreia do Sul era um país do terceiro mundo igual a nós. Hoje a Coreia tem a Hyundai e a Samsung e nós, brasileiros, seguimos com uma economia dependente de “commodities”, produtos primários, que outros países industrializam e nos revendem, como é o caso dos minérios para a indústria asiática, europeia, norte-americana. Não temos “valor agregado” nos nossos produtos, falta evolução tecnológica, mudança de perfil, que requer planejamento, visão estratégica. Que o espírito de República nos inspire, para irmos adiante.

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Montserrat Martins é médico e bacharel em ciências jurídicas e sociais.


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