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19 de setembro de 2017
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19:00

A esperança mora ao lado

Por
Sul 21
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A esperança mora ao lado
A esperança mora ao lado
A pessoa deprimida muitas vezes não pede ajuda, porque não quer incomodar, não se sente merecedora, tem vergonha, acha que está atrapalhando, carrega o peso de culpas e de auto-recriminações que você nem imagina. Imagem: Edward Hooper, Pessoas ao sol (1963)

Montserrat Martins

Alguma pessoa já representou esperança para você, de apoio, abrir portas, enfim, uma pessoa aliada em caso de necessidade? Você também pode ser a esperança para alguém, sem que você tenha notado ainda. Um post do Facebook lembra que você não sabe o nome do Prêmio Nobel do ano passado, mas nunca vai esquecer alguém que lhe ajudou numa hora difícil. Uma ajuda pode salvar vidas inclusive, como num caso de depressão.

Um livro sensacionalista falava que “o perigo mora ao lado” pois seu vizinho pode ser um psicopata ameaçador, mas na verdade é muito mais frequente você ter um vizinho depressivo, ou um familiar, alguém que você nota que não está bem mas não sabe como ajudar. A pessoa deprimida muitas vezes não pede ajuda, porque não quer incomodar, não se sente merecedora, tem vergonha, acha que está atrapalhando, carrega o peso de culpas e de auto-recriminações que você nem imagina.

Não é fácil mesmo ajudar uma pessoa depressiva, a começar pelo fato de que ela pode ser arredia, desconfiada. Se você lembrar de algum momento de tristeza, vai identificar a  vontade de isolamento, o constrangimento de expor algo naquele momento, que você não resolveu no seu íntimo. Por aí consegue imaginar que não é fácil ao deprimido contar para alguém o que está vivenciando.

Depressão é diferente de mera tristeza. Na tristeza pode haver sofrimento, mas na depressão esse é mais intenso e pesado pois vem junto com sentimentos de culpa, de auto-reprovação, a pessoa se recrimina por coisas que pode ter responsabilidade mas até por coisas das quais não tem culpa, mas se sente culpada mesmo assim.

Há um exagero da autocrítica e do pessimismo que pode chegar ao “delírio de ruína”, a convicção de que tudo vai desmoronar na sua vida. Nas expectativas sobre o trabalho, negócios, família ou relacionamento, a pessoa deprimida acredita que tudo vai piorar até o ponto de ela perder tudo.

A desconfiança dificulta o diálogo pois a pessoa acha que você está com pena ao invés de ter um interesse real nela. Se você gosta, admira e elogia uma pessoa deprimida, ela acredita que isso é uma mentira movida a compaixão, não se acha merecedora de qualquer forma de apreço.

Enfim são muitas as barreiras que a depressão coloca, antes que você tenha acesso aos sentimentos e à vivência daquela pessoa. Se você tiver paciência e compreender que esses obstáculos fazem parte do quadro depressivo, pode conseguir através da empatia oferecer uma atenção muito útil. Que pode ser uma “ponte” para encaminhar a serviços e profissionais especializados –  CVV, AMA, psicólogos e médico psiquiatras. Empatia e antidepressivos bem indicados podem salvar vidas.

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Montserrat Martins é médico e bacharel em ciências jurídicas e sociais.


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