Mogli Veiga
Dia 05/04 passado, reinaugurou o Bar do IAB – Instituto dos Arquitetos do Brasil. Veio resgatar o antigo bar do IAB, localizado sub subsolo da Praça Annes Dias, onde funcionava a também antiga sede do IAB e que, na década de 80, era um importante ponto de encontro de Porto Alegre.
Agora está de casa nova, um casarão restaurado na Rua General Câmara, no centro histórico da cidade. Só o tempo dirá se vai conseguir reviver aqueles anos. Vontade dos organizadores e do público, principalmente, aquele que conheceu o subsolo da Annes Dias não falta.
Na abertura teve um pocket show do Raul Ellwanger, músico assíduo do velho bar. Apesar dos pequenos problemas técnicos de som e da falta de respeito de parte do público presente, apresentou uma série de composições próprias que reafirma sua importância no cancioneiro gaúcho e brasileiro. Raul que viveu no Chile durante os anos de chumbo e teve a honra de se apresentar na Peña de los Parras, centro musical fundado pelos filhos de Violeta Parra, Isabel e Angel Parra.
Durante sua apresentação Raul lembrou que neste ano – 2017 fazem 50 anos da morte daquela que foi um marco na arte latino-americana e, para homenageá-la cantou “Volver a los 17”. Isto me faz retirar da gaveta texto a seguir, escrito no dia 05/02, data de sua morte.
Violeta
Quando nasceste te deram o nome de flor.
O solo sureño te deu a cor que coloriu teu mundo e daqueles que cercaram.
A vida te deu as garras de condor para percorrê-la com tua inata força.
O mundo te deu o caminho para divulgar tua arte.
O povo te deu a inspiração para a poesia e para o amor puro e concreto que sentia.
Teus genes te deram frutos para que tua voz nunca se calasse.
Mas da mesma forma que tinhas tudo isto, a vida foi, pouco a pouco, te tirando aquilo que amavas.
Primeiro o fruto do teu ventre, também a pequena flor Rosita, e tu cantastes,
“…Cuando se muere en la carne / El alma busca en la altura / La explicación de su vida / Cortada con tal premura / La explicación de su muerte / Prisionera en una tumba / Cuando se muere en la carne / El alma se queda oscura”. (Rin del Angelito).
Depois o homem a quem tu entregaste teu coração, e tu cantastes,
“…Run Run se fue pa’l norte, / ¡qué le vamos a hacer! / Así es la vida entonces, / espinas de Israel; / amor crucificado, / coronas del desdén, / los clavos del martirio, / el vinagre y la hiel. / ¡Ay, ay, ay, de mí!” (Run Run se fue pa´l norte).
Por fim tua própria vida, que já não era mais tua, mas de todos.
Há 50 anos partistes para o Céu, a encontrar teu angelito e teu próprio ser, e nós cantamos,
“Gracias a la vida por nos ha dado tanto”.
.oOo.
Mogli Veiga, engenheiro.