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20 de março de 2017
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10:00

Carta ao Leitor

Por
Sul 21
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Por Mogli Veiga

É uma tradição (palavra horrível), na imprensa ter uma seção de Opinião do Leitor, onde estes fazem seus comentários ou dão suas opiniões sobre os acontecimentos contemporâneos, normalmente notícias publicadas por estes veículos. Esses espaços ocupam, via de regra, pequenas colunas espremidas numa página interna do veículo. Teve até um grande jornal que instituiu a figura do ombudsman, mas este não podia criticar os editoriais do jornal em que trabalhava. Constatado o fato, inauguramos neste espaço livre, a cessão – Carta ao Leitor, nos moldes das palavras de Pepe Mujica: “se tentamos por anos fazer a coisa de um jeito que não funciona, devemos tentar de outra forma”. Não será uma cessão onde os leitores critiquem, opinem, etc., isto já é garantido em cada artigo pulicado, mas sim um espaço onde se publica cartas aos seus leitores (se houver), que certamente se sentirão lisonjeados por terem sidos agraciados com a iniciativa. Não serão cartas de elogios, mas de visões propositivas à sua conduta.

– – o o – –

Carta ao Vice-presidente

Prezado vice, vou tratá-lo assim, pois foi eleito apenas como vice e, o que aconteceu depois foi obra do acaso ou de algum demônio sem controle. Sempre digo: crea en las brujas. Ando preocupado com seu desempenho. Deve estar sendo muito duro tentar liderar um bando de interesses, nem sempre lícitos. Desta forma, por saber que no seu palácio tem uma sala de cinema particular, proponho que o senhor, no próximo fim de semana, reúna o seu bando, inclua os aliados de outros poderes para uma cessão de cinema. Convide também sua esposa, pois também deve estar cansada e estressada em desempenhar as tarefas de controlar os preços dos supermercados, dirigir os funcionários da casa na organização dos almoços e jantares que o senhor promove para praticar atividades de comércio de balcão. Faça diferente (outro jeito de fazer) do cotidiano. Mude seu conceito.

Isto me faz lembrar quando ainda guri, ia às matines do cinema da minha cidade para assistir os filmes de far-west (vulgarmente conhecidos como faroeste). As quadrilhas saiam para praticarem suas atividades comerciais: assaltar bancos, trens pagadores, matar proprietários de terra que não queriam vendê-las a preço vil, aos homens que traziam o “progresso”, além de outros negócios menores e, ao fim do trabalho voltavam aos seus ranchos adquiridos normalmente por grilagem. Ali encontravam a paz necessária e sempre havia à espera, uma senhora recatada e do lar, para servir-lhes um lauto jantar composto de prato único e alguma beberagem que os deixavam alegres.

Reunião de senhores ilustres

Como programa, recomendo o filme – Eu, Daniel Blake. Uma “comédia” passada na Inglaterra que retrata os serviços sociais naquele país. Tenho certeza que seu grupo dará grandes risadas com o tom profético da comédia, segundo as mudanças que pretendem fazer nas leis do País. Após a exibição, faça um intervalo para um breve lanche e comentários sobre o futuro que o filme mostra dos brasileiros. Mas, lhe sugiro não criar trabalho para sua esposa. Contrate um bufê. Aí no Planalto Central existem vários e de alta qualidade. Sai mais barato que o aluguel de uma lancha no carnaval.

Após o intervalo, continua a cessão de cinema, agora com um filme histórico. Assistam ao filme do Sam Peckinpah (1969) – Meu ódio será tua herança, cujo título original é Wild Bunch. Com certeza será uma noite inesquecível.

Tenho certeza que este evento proporcioná-los-á uma grande noite.

Para finalizar, vejo que sua popularidade anda em queda. Converse com seu marqueteiro e diga que quer mudar seu nome fantasia. Quem sabe se tornar conhecido por outro nome, como Lulia, o qual já possui, não precisando mudar seu registro civil. Penso que com esta decisão, aproveitando a popularidade de outra figura que já ocupou aquela casa onde o senhor diz que há fantasmas. Assim poderá confundir os eleitores, seus e dos demais componentes grupal. Nas próximas eleições seu grupo poderá utilizar como propaganda o cartaz abaixo.

Propaganda eleitoral para 2018 e relembre: crea en las brujas.

Mantenha-se firme para que o Pinkerton curitibano não saia no seu encalço.

– – o o – –

Carta a Donald Trump

Senhor Trump, confesso que fui contra a sua eleição. Como naqueles jogos de tabuleiro, onde uma jogada errada deve-se voltar algumas casas para trás e começar tudo de novo, acho que sua vitória nos faz voltar algumas casas, que são medidas em séculos, para o passado. Muito me indignou sua postura em relação aos imigrantes defendo a sua deportação. Também o muro na fronteira mexicana, ma faz lembrar que outros muros se transformaram em vergonhas mundiais, além de inócuos, como o muro de Berlim, o da fronteira israelense-palestina. Entretanto, quando a justiça (sempre ela, cega no símbolo, mas de olho bem abertos em reação às tradições – palavra horrível – que lhe interessa, teceu críticas à sua proposta, me fez, aqui do meu observatório no extremo sul da América, estabelecer uma profunda reflexão sobre o tema e acho que o senhor não está tão errado assim. Seus críticos não conseguiram ver a profundidade e os impactos na vida econômica das nações latino-americanas. Se não vejamos. Ao impedir a entrada de imigrantes no seu país, o que isto representa para o Brasil? A maioria que viaja e idolatra os Estados Unidos, não o fazem por suas belezas naturais, pela miscigenação cultural e étnica, mas sim para desfrutar dos out-lets da costa leste ou as ondas da costa oeste, com direito a uma passadinha na calçada da fama em Los Angeles e, quem sabe, pisar numa bosta de cachorro e ter seu pé impresso na seleta galeria hollywoodiana. Qual brasileiro que não gosta de uma comprinha básica? Mas são só US$ 20, no Brasil custa o triplo! Essas pessoas terão oportunidade de conhecer os bons shoppings, tipo aqueles malls abertos que vocês possuem. Aqui temos: a SAARA – Sociedade dos Amigos e das Adjacências da Rua da Alfândega, no Rio de Janeiro, da Rua 25 de Março em São Paulo, o Camelódromo em Porto Alegre, que pode trocar o nome para black-market shopping mall, etc. Quantas divisas deixariam de sair do Brasil, além de incrementar a economia local. Sempre terá alguém que dirá: “não quero etiqueta made in Paraguai proveniente de trabalho escravo, mas etiqueta made in China, in Vietnam, in Bangla Desh, mesmo que seja de trabalho escravo serve”.

Outra proposta interessante é a de taxar empresas estadunidenses de investirem no exterior, deixando de criar empregos na sua sede. Isto também terá grande impacto no Brasil, pois empresas de seu país não mais poderiam investir no pré-sal e assim, o governo brasileiro, que quer vender tudo, teria recursos para investir em educação, saúde, etc.

A questão da deportação de imigrantes também será muito boa para os Estados Unidos. Imagina a quantidade de empregos que isto irá gerar: empregados domésticos, baby sitters, serviços públicos de limpeza, de motoboys para delivery, de motoristas de táxi, dentre outros. Será uma grande revolução. Mas dentro das ideias propositivas, quem sabe, além de tomar todas as medidas anteriores, o senhor também poderia adotar outra de grande impacto mundial: proibir a saída de estadunidenses de seu país, sob qualquer hipótese. Com esta ação o senhor estará fazendo a transição da baixa idade média para a idade moderna, com reflexos para o mundo inteiro.

Só tenho dizer: “Vida longa à Vossa Majestade”.

.oOo.

Mogli Veiga, engenheiro.


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