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29 de agosto de 2017
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10:00

Distritão é o fim da renovação na política

Por
Sul 21
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Distritão é o fim da renovação na política
Distritão é o fim da renovação na política

Manuela d’Ávila

Em um dos momentos de maior indignação das pessoas com nosso sistema político, em que a população se sente muito pouco representada nos espaços de poder, está em discussão na Câmara dos Deputados o distritão. Mudança que favorecerá campanhas individuais, beneficiando àqueles candidatos com mais recursos financeiros, além de favorecer os mais conhecidos, como celebridades ou parlamentares que tentam a reeleição. A representatividade de gênero, tão desproporcional, terá ainda menos chances de ser corrigida.

Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

As mulheres, que são 52% da população (e 53% do eleitorado brasileiro) são apenas 9% na Câmara dos Deputados e 14% no Senado. Nas Assembleias estaduais essa média também se mantém. O Brasil ocupa uma das piores posições no ranking mundial de equidade de gênero no Parlamento, atrás de todos os países da América Latina. Até na Arábia Saudita, onde as mulheres andam de burca, a participação feminina é maior. As novas regras impostas pelo distritão, que encarecem ainda mais a campanha, vão toler ainda mais as mulheres, os negros, os pobres, aquelas pessoas mais desprovidas da sociedade.

Hoje, o percentual de renovação na Câmara dos Deputados é de 40%. Com o distritão, a expectativa é de que essa taxa caia para apenas 8%. Se ansiamos por mais mulheres e jovens na política, precisamos debater o distritão, combater o fim institucional dos partidos, mas precisamos ir além. Qual sistema pode favorecer a melhorar representação das pessoas na política? Este é o questionamento que as pessoas carregam junto com o sentimento de devastação da democracia, ferida pelo golpe que tirou uma presidente eleita e colocou um corrupto no poder, sustentado por um esquema profundo de corrupção dentro da Câmara dos Deputados.

Mesmo tendo sido a mais votada na eleição para vereadora e nas eleições para deputada federal e estadual, sou contra esta alteração. O distritão é mais do que a legitimação dos políticos corruptos que estão em Brasília, é mais do que burlar as novas lideranças: é o fim dos partidos. Individualmente, nunca seremos tão capazes quanto os coletivos podem ser. Falo como quem já ouviu que poderia ter feito ainda mais votos se estivesse em outro partido. Mesmo assim, defendo a coletividade.

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Manuela D’Ávila é deputada estadual pelo PCdoB.


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