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14 de janeiro de 2018
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19:38

Dos caras legais que detestam as feministas

Por
Sul 21
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Dos caras legais que detestam as feministas
Dos caras legais que detestam as feministas
Foto: Joana Berwanger/Sul21

 (*) Lélia Almeida

Já vivi algumas situações em público que me fizeram pensar nos caras legais que detestam as feministas. Alguns deles frequentam os meus saraus, outros fazem posts elogiosos aos meus textos e outros me escrevem no chat marcando um cafezinho eventual.

Um deles, numa conversa numa mesa de bar, comentava como a medicina tinha sido generosa com os homens de qualquer idade por conta da descoberta do viagra, e acrescentou ser uma pena que a lubrificação feminina ainda seja impossível de resolver e que isto faz com que as mulheres maduras perdessem a vez para as mais jovens.

Outro, sociólogo e historiador importante da Urguis, depois de ouvir uma palestra minha sobre como a literatura de autoria feminina têm sido libertadora para as mulheres, tentou encerrar a discussão dizendo que era uma pena que o feminismo não tinha, efetivamente, emancipado as mulheres. E outro, tomando exemplos da antropologia, explicava que as mulheres, desde sempre tinham sido e seriam responsáveis pela alimentação e nutrição da humanidade.

Conheço-os, sei quando se aproximam e o que vão dizer, a linguagem corporal e o olhar esxxperto os denunciam, chegam simpáticos e doutos, dão beijinho e dizem o quanto admiram meus textos, me cortejam. Depois vomitam este monte de merda com a mesma galanteria com que se aproximaram.

Perguntam porque não escrevo mais sobre sexo com olhar malicioso. Sei quando chegam e conheço o que vão dizer. Podíamos dar uma aula sobre a lubrificação das mulheres maduras, já que são estes senhores são grandes ignorantes sobre o tema, todos eles que jamais, e em situação nenhuma, brocharam e que vivem com o membro em riste seduzindo virgens desavisadas, ou dizer o tanto que o feminismo emancipou as mulheres, livrando-os da mesada para uma renca de filhos sem a luta pelos direitos reprodutivos, ou o tanto que as mulheres sonham em colocar estricnina em pelo menos uma das refeições do dia, ao longo de uma vida. Mas eu fico quieta, bem quietinha e exausta, vendo-os chafurdar na própria inveja e burrice, convicta de que não vou perder tempo em alfabetizar sociológica e emocionalmente estes camelos. Nem adiantaria tentar né.

(*) Lélia Almeida é escritora.


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