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20 de janeiro de 2016
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10:30

Petrobras: símbolo do desafio brasileiro

Por
Sul 21
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Por Germano Rigotto

Os desafios do Brasil são múltiplos e complexos. Infelizmente, o país errou a mão na condução da política econômica nos últimos anos. E o preço, que começa a ser cobrado agora, é bem salgado. Colocamos em risco até mesmo uma das maiores conquistas que vieram junto com o Plano Real: a credibilidade interna e externa. E, como a economia se move em grande medida pelo ambiente, o pessimismo seguirá pairando no ar por um bom tempo. Nossa crise se compõe, pois, de fatos concretos e anímicos, que trazem consigo descrença e desconfiança.

O mercado de ações é o maior termômetro disso. A uma empresa não basta ser sólida em seu patrimônio. Também precisa manter a reputação. É por tudo isso que a Petrobras é hoje, muito provavelmente, a demonstração mais clara dos equívocos cometidos pelo país. A queda do preço de suas ações comprova tal constatação. O que já foi uma grande potência, símbolo da nação emergente que se lançava ao mundo, hoje é seu inverso. A gigante brasileira do petróleo periclita junto com o seu dono.

Veja-se que a dívida da estatal já ultrapassa os R$ 500 bilhões. O anúncio da do corte de US$ 32 bilhões em investimentos até 2019 concretiza a retração e a perda de capacidade financeira. Num setor com forte concorrência e grande evolução tecnológica, esse freio, embora inevitável, fará a empresa perder ainda mais capacidade competitiva.

Somado a tudo isso, um fator externo recente agrava a concorrência. Os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram, no último final de semana, que estão derrubando barreiras comerciais contra o Irã, que é grande produtor de petróleo. O aumento da participação iraniana inevitavelmente vai manter o preço do barril de petróleo no patamar baixo em que está. A Petrobras já sente fortemente esses efeitos.

Os desdobramentos da Operação Lava Jato tendem a fazer com que os problemas de credibilidade aumentem. Tudo indica que vêm mais escândalos por aí. E em alguns países, como os EUA, a estatal brasileira sofrerá multas pesadas da Justiça por ter lesado acionistas. Lá o rigor sobre o mercado de capitais é maior.

Enfim: ou a Petrobras passa por uma radical correção de rumos, ou seu futuro pode piorar ainda mais. A empresa precisa ser passada a limpo. Limpeza, aliás, que pode começar pelo fim do loteamento político que ocorreu nela nos últimos anos. Não é possível que uma organização tão técnica e competitiva seja fatiada para atender interesses partidários, sem qualquer critério de identidade com a área. A própria Lei do Petróleo precisará ser revista, em virtude da falta de recursos para investir. Antes uma espécie de ilha de excelência em gestão no setor público, hoje a organização é exemplo do contrário.

O grau de interferência do governo brasileiro não pode continuar em tal proporção. Nos últimos anos, a ingerência foi feita indevidamente tanto em prejuízo quanto em benefício da Petrobras. No primeiro caso, em dado momento o preço dos combustíveis foi congelado em função de interesses políticos. No segundo caso, que está em curso, o preço não cai, mesmo com a baixa internacional, para proteger a empresa em crise. O governo se mete em demasia e, como se vê, normalmente de maneira errada.

Não adianta culpar as circunstâncias, a crise internacional, as adversidades externas… Tal qual o Brasil, a Petrobras não fez o seu dever de casa. Descuidou de si mesma. E paga por erros que são seus – e de mais ninguém. Só sairá dessa situação se, primeiro, reconhecer a dimensão do problema e, segundo, agir de maneira proporcional à necessidade. Sem mais firulas, desvios e titubeios. Com mais transparência, profissionalismo, gestão e moralidade. Recuperar esses valores é o mínimo. É o primeiro passo para reconstruir a credibilidade.

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Ex-governador do Rio Grande do Sul e presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários (www.germanorigotto.com.br)


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