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23 de julho de 2015
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11:00

Redes para o bem

Por
Sul 21
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Redes para o bem
Redes para o bem

Por Germano Rigotto*

A comunicação digital é uma realidade posta, mas com a qual ainda não nos acostumamos completamente. Os indivíduos, sem maior questionamento, assimilaram essa tendência. Já os diferentes organismos sociais, dentre eles a academia, a política, a imprensa e as instituições, têm dificuldade de acompanhar e entender a mudança. E não é por má vontade, embora às vezes possa haver resistência. Trata-se de um obstáculo realmente difícil de superar, dada a sua inalcançável velocidade. Tudo muda, todos os dias, em todos os momentos, para todos os lados. É uma verdadeira metamorfose ambulante.

O Brasil, segundo estudos recentes divulgados pela consultoria Mediabox, tem mais de 112 milhões de internautas; 62 milhões acessam a internet todos os dias através do celular; 48 milhões usam três ou mais telas ao mesmo tempo; 88,4% dos internautas brasileiros visitam blogs, sites e portais de notícias todos os dias. O Facebook tem 89,2 milhões de usuários no país; o Twitter, 24,7 milhões; o Youtube, 19,6 milhões; o Instagram, 24,2 milhões; e o WhatsApp já chegou a 31,7 milhões – nasceu como mero aplicativo, mas já se transformou em uma poderosa rede social. Nossa nação, assim como já se caracteriza no contato presencial, gosta da interação, da convivência, da troca. Essa marcante característica cultural se transportou, de maneira automática, para o ambiente digital.

Ainda temos diversos problemas na propagação das redes digitais, bem como na prestação global de serviço por parte das operadoras. O acesso das camadas mais populares a esses bens de consumo ainda não está totalmente consolidado. Mesmo assim, a rede social é uma nova modalidade de comunicação entre os povos. Não está aí para ser combatida e superada, mas assimilada e direcionada para as boas práticas. Não é um fim em si mesmo, mas um instrumento que pode servir a propósitos alinhados para o bem ou para o mal. Tanto quanto na vida presencial, também precisará encontrar um equilíbrio civilizatório, uma regra básica de convivência. Enfim, um patamar mais adequado haverá de ser construído.

Basta navegar pelas redes ou pelos fóruns de interação para perceber o quanto os ânimos andam exaltados. Excessivamente exaltados. Seja no esporte, na política ou em pequenas pautas do cotidiano, as agressões e o ódio saltam aos olhos. E essa postura provém tanto de figuras ocultas em um personagem anônimo quanto de pessoas físicas com nome e sobrenome, que não se envergonham do que dizem, mas se protegem da distância que o universo digital permite. Não são poucos os que exercitam uma nova personalidade, mais violenta e agressiva, no ambiente das redes. Diante do teclado, se transformam em valentes patéticos de causas esdrúxulas, como se a ofensa, nesse meio, devesse ser relativizada.

Essa é a nossa luta, o nosso maior desafio: fazer com que o ambiente de redes não se transforme num palco de ódio. Não se bestialize. A ferramenta, como eu disse, deve servir ao bem. E estimular essa consciência é papel de todos os usuários e, especialmente, das organizações sociais. Mas algo é certo: isso não ocorrerá por imposição de qualquer espécie, nem mesmo legal, tampouco por censura proveniente da linguagem politicamente correta. O cidadão, por meio da internet, obteve mais do que a liberdade de opinião; obteve também a chance de fazer-se ouvir. E isso ninguém, sob qualquer pretexto, pode tirar ou mesmo diminuir. É uma conquista do nosso tempo. Basta fazer com que tamanha evolução não se perca nas conhecidas mazelas humanas. A comunicação digital deve servir ao bem, consciente e livremente.

oOo

*Germano Rigotto é ex-governador do Rio Grande do Sul e presidente do Instituto Germano Rigotto de Estudos Políticos e Tributários 


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