Franklin Cunha (*)
“ Vivemos com medo, mas enquanto não pararmos de acreditar nos falsos profetas, de entendermos as razões do crime e elegermos quem apresente políticas públicas viáveis, o problema só vai aumentar”.
Sylvia Steiner, Juíza
No paleolítico eram as feras, na Idade Média as bruxas heréticas, no nazismo os judeus, agora são os metonímicos bandidos apontados os como causadores de todo o mal e usados pelo Poder para nos dominar pelo medo.
Trata-se, segundo Zizek, de manejar uma biopolítica a qual deixa para trás os velhos combates ideológicos para se concentrar na administração do Estado, o qual tem como o objetivo principal a regulação da segurança e das vidas humanas com a redução ao nível zero da ação política. Assim se explicam as campanhas contra a escola ideológica e a crença de que existem tecnologias apolíticas.
Quem assim pensa, ignora o que disse Brecht a respeito daqueles que convivem com uma espessa obtusidade política.
E a única maneira de introduzir emoção nessas campanhas e de mobilizar freneticamente as pessoas é através do medo. Por isso a biopolítica é uma política do medo que enfoca primitivamente a segurança, o assédio sexual, a invasão de nosso espaço pessoal e social por invasores externos e internos, estes as multidões miseráveis que nos rodeiam urbi et orbe.
E mais, temos medo do excesso do Estado, de sua carga tributária elevada, da catástrofe ecológica e até de alguns agentes repressores que brandem os códigos legais.
Enfim, uma política dessa natureza gerou uma multidão aterrorizada e paranoica que acabará, mais cedo ou mais tarde, trocando a liberdade pela segurança. Na Alemanha em 1933 foram liderados por um cabo do exército , aqui talvez nos sirva um capitão.
É a bufoneria farsesca da história que se repete a quem faz ouvidos moucos e não sabe que ao se desconhecer a história , corre-se o risco de repeti-la. (Apud Edmund Burke)
E com graves consequências para todos nós.
(*) Médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.