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10 de dezembro de 2018
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23:17

Crescimento econômico com Bolsonaro-Mourão

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Sul 21
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Crescimento econômico com Bolsonaro-Mourão
Crescimento econômico com Bolsonaro-Mourão
Foto: Alessandro Dantas/Fotos Públicas

Flavio Fligenspan (*)

No segundo mandato de Dilma, mesmo tendo feito a “barbeiragem” que fez com a recessão de 2015-2016, a equipe econômica sabia o quanto era importante retomar rapidamente o crescimento. E uma forma boa de fazer isto seria através dos gastos públicos, em parceria ou não com o setor privado, nas grandes obras de infraestrutura, visto que elas empregam muito e têm alto poder de multiplicação. Estima-se que cada unidade monetária gasta neste tipo de projeto possa gerar até 1,3 unidade adicional de PIB.

Temer também sabia de tudo isto, no entanto, ele e Dilma não conseguiram ultrapassar as muitas barreiras institucionais para avançar nesta área. São elas as dificuldades com licenciamento ambiental, contestação judicial dos vencedores de licitações, financiamento e fiscalização dos contratos e das obras por vários órgãos públicos, como Tribunal de Contas e órgãos reguladores de diversos setores.

Está claro, portanto, a importância dos investimentos em infraestrutura e onde “moram” os entraves. O Governo Bolsonaro-Mourão tem este diagnóstico mapeado e vai tentar ultrapassar as barreiras já conhecidas. Tudo indica que a intenção é atacar os problemas logo de saída e com força, tentando obter respostas rápidas, para, simultaneamente, mostrar que vai fazer mais e melhor que seus antecessores e obter os ganhos de um crescimento um pouco acima do dos últimos anos.

Passar a crescer mais que a média dos últimos anos vai ser fácil. Afinal, a base de comparação é muito pequena; 2015 e 2016 foram anos de recessão que acumularam uma queda do PIB de mais de 7% e o biênio 2017-2018 não avançou mais do que 2,5%. Lembre-se, Temer se orgulha de dizer que vai entregar uma economia melhor do que recebeu, com inflação controlada e dentro da meta; só esquece de explicar que a contrapartida disso foi segurar o crescimento e manter elevado o desemprego com taxas de juros que poderiam ter sido menores que as atuais.

Bolsonaro-Mourão terão uma situação econômica doméstica favorável ao crescimento. Juros que poderiam ser menores, mas estão num patamar baixo para o histórico nacional, contas externas em ordem, inflação baixa e controlada e folga de recursos, com alta ociosidade das empresas e muitos trabalhadores em busca de emprego. Isto quer dizer, é possível crescer sem causar pressões sobre os preços, sobre o mercado de trabalho e sobre o Balanço de Pagamentos. Basta conseguir dar os incentivos certos para a máquina “começar a rodar”.

Isto, é claro, não afasta os problemas que podem vir do front internacional: o previsível desaquecimento dos EUA e da China, um novo abalo financeiro mundial a partir do sistema de crédito dos EUA e os problemas derivados da geopolítica de líderes irresponsáveis, como Trump. E também não elide os problemas que podem derivar de um desacerto político interno, dada a composição heterogênea e aparentemente descontrolada do jogo de forças em torno de Bolsonaro. As notícias da última semana, sejam as das disputas internas de poder, sejam as denúncias de movimentação de recursos financeiros sem explicação envolvendo a família do Presidente eleito, deixam margem para se antever complicações.

Enfim, do ponto de vista estritamente técnico, estão postas as condições para uma retomada – até fácil – da atividade econômica. Resta saber se o cenário internacional não vai atrapalhar – há muitas apostas de que sim, haverá problemas nesta área – e se o Governo terá o mínimo de capacidade política para administrar as naturais tensões, especialmente no caso em que a liderança não tem experiência em arbitrar conflitos. Como a economia de um país não se resolve apenas com soluções “estritamente técnicas”, muitas surpresas podem estar por acontecer.

(*) Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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