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4 de dezembro de 2017
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11:34

O PIB do terceiro trimestre de 2017: segue a lenta recuperação

Por
Sul 21
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“A recuperação será lenta demais em comparação com a profundidade da crise do biênio 2015-2016”.
(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

 Flávio Fligenspan (*)

Na semana passada, o IBGE publicou os números relativos ao crescimento da economia brasileira no terceiro trimestre de 2017. Afora uma frustração de muitos que esperavam uma expansão do PIB um pouco maior do que a revelada (0,1% sobre o trimestre anterior, quando a expectativa era de 0,3%), não houve grandes surpresas e alguns números até foram positivos. Como já se discutiu outras vezes nesta coluna, depois de recuos ao longo de oito trimestres sucessivos, entre 2015 e 2016, nada mais natural que uma recuperação. Dito de outra forma, não havia mais espaço para cair e, pelo contrário, havia bastante espaço para políticas de estímulo à retomada, com a queda dos juros, por exemplo. A questão relevante não é esta, mas sim a qualidade e a velocidade de tal recuperação. E é aí que a situação se complica.

Vejamos os fatos positivos. O primeiro deles é a sequência de três trimestres consecutivos de crescimento, os três primeiros trimestres de 2017. São taxas raquíticas, é verdade (1,3% no primeiro trimestre, 0,7% e 0,1% nos seguintes); elas só servem para confirmar o final do período recessivo. As projeções para o ano completo de 2017 variam de 0,7% a 1%, muito pouco para quem perdeu cerca de 7% nos dois anos anteriores. No que se refere ao resultado global da economia brasileira, interessa dizer que a recuperação será lenta, bem diferente da saída de outras recessões, como a do início dos anos 1980 e a de Collor, de 1990 a 1992. Naqueles momentos ocorreram mudanças estruturais que ajudaram a formatar a retomada, muito além dos usuais instrumentos de política econômica.

Outro fato positivo, este até certo ponto surpreendente, foi a aparição de um crescimento dos Investimentos, 1,6% maiores que os do segundo trimestre do ano. Trata-se da primeira taxa maior que zero desde o final de 2013, quebrando uma sequência de 14 trimestres de taxas negativas. O resultado se deve principalmente ao desempenho da indústria de bens de capital e das importações de máquinas e equipamentos, já que a construção civil ainda “patina”, seja pela insegurança e restrição do crédito no setor de habitação, seja pelos efeitos dos escândalos de corrupção sobre as grandes empreiteiras, ou ainda pela paralisia dos gastos públicos em obras. A surpresa vem justamente da opção de algumas empresas de partirem para o investimento logo depois de um período tão ruim no qual se acumulou capacidade ociosa.

É claro que tal movimento de retomada da variável Investimento não pode ser generalizado para todos os setores de atividade, assim como não o pode a questão da ociosidade. Cada setor tem suas características e reage de uma forma diferente à crise e à retomada. O certo que é que se “queimou” muito capital na crise recente e algumas atividades estão renovando suas apostas, até mesmo mirando os necessários avanços tecnológicos exigidos para a competição.

Um terceiro aspecto positivo é a recuperação da Indústria de transformação; tal como o PIB total, este setor chegou à sua terceira expansão em sequência depois de perdas que se acumularam desde a metade de 2013. Vale aqui o mesmo que se afirmou anteriormente para o PIB, o crescimento atual é pífio, só tem o mérito de marcar o final do longo intervalo de quedas da produção. O setor de Serviços, por sua vez, foi o que menos sofreu com a recessão, até porque levou mais tempo para sentir os efeitos da queda de demanda, o que se explica pela resistência da estrutura salarial brasileira. Isto, por outro lado, também ajudou a explicar a defasagem de tempo entre a queda do PIB e sua esperada conseqüência sobre a inflação.

Por fim, há que se registrar o aumento das Exportações, igualmente com três trimestres seguidos de crescimento, acumulando mais de 11% de expansão no ano. E é importante notar que tal movimento não se explica apenas pelos preços favoráveis das commodities no mercado internacional; houve também exportações de bens produzidos pela Indústria de transformação que conseguiram acessar mercados como os da América Latina.

Registrados os aspectos positivos da suave retomada deste 2017, fica a certeza de que a recuperação será lenta demais em comparação com a profundidade da crise do biênio 2015-2016 e a concentração de seus efeitos negativos num período tão curto, de apenas dois anos. As experiências das recessões anteriores pelo menos diluíam seus impactos num período um pouco maior, se vale o consolo. As projeções para 2018 apontam no sentido da continuidade da conjuntura atual, com taxa de expansão do PIB de aproximadamente 2,5%, naturalmente travada pela campanha eleitoral e as incertezas que ela traz para o Consumo das famílias e para o Investimento. Claro que as Despesas do governo estão contidas pela situação fiscal e pela lei do teto. Que 2018 pelo menos sirva para discutirmos uma reorganização da economia e da sociedade brasileira no sentido de oferecer as condições para um crescimento mais pujante e menos oscilante.

(*) Flávio Fligenspan é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS.


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