Fernanda Melchionna (*)
O Carnaval brasileiro em 2020 foi extremamente politizado. Desde os blocos de rua que se proliferam por todo país até o desfile das Escolas na Marquês de Sapucaí, se podia ver alegria e protesto sambando juntos como se fossem Mestre Sala e Porta Bandeira.
Não é para menos, o país passa por uma situação gravíssima. Enquanto os ricos e seu governo comemoram uma suposta “recuperação” econômica, a grande maioria do povo carrega nas costas o peso da crise como os meninos que entregam iFood, desviando das dificuldades e correndo atrás “sem comer, sem lazer”.
A carne, o combustível, o gás de cozinha, o juro do cartão de crédito… tudo sobe, menos o salário que segue arrochado. O que os banqueiros chamam de aumento da “confiança dos mercados”, aparece para os pobres como endividamento das famílias. O percentual de famílias com dívidas alcançou 65,6% em 2019, maior índice desde 2010.
Porém, ao mesmo tempo em que o Carnaval liberou suas energias de liberdade e indignação popular, Bolsonaro incrementou sua sanha autoritária. O animal acuado ataca para se defender. Por meio de vídeos tão messiânicos quanto mentirosos, tenta mobilizar suas hordas contra o Congresso e as instituições. Como covarde que é, após declarações incompatíveis à condição que (ainda) ocupa de presidente do país e a indignação geral da nação, ameaça com o exército por meio de alguns generais que se prestam ao papel de defensores do indefensável.
A quarta-feira chegou, mas nossa gente não pode mais seguir “sofrendo normalmente”, como diz a canção de Chico. É preciso manter o bloco na rua. Frente às provocações das viúvas da ditadura, o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher precisa ser nosso segundo #EleNão. No dia 14 de março fará dois anos do assassinato político de Marielle e até hoje não foi revelado quem mandou matá-la. As mulheres estarão na comissão de frente contra qualquer retrocesso em nossa esquálida democracia, mas todo povo está chamado a lutar. Motivos não nos faltam. Bolsonaro e seu machistério não podem continuar.
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