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12 de março de 2015
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11:48

É hora de perder a paciência

Por
Sul 21
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É hora de perder a paciência
É hora de perder a paciência

Por Fernanda Melchionna

Estamos vivenciando o encontro de duas crises, a econômica e a política. Há muito tempo o Brasil não tinha a combinação explosiva de tal magnitude. Do ponto de vista econômico, o governo Dilma tem feito tudo que disse que Aécio e Marina iriam fazer: tarifaço na luz, na gasolina e aumento abusivo no custo dos alimentos. Da mesma forma, os governos estaduais têm dado duras demonstrações de que a política será a de repassar à crise econômica para as costas dos trabalhadores.

Dilma em seu pronunciamento no 08 de março pediu “paciência” e “calma” ao povo, pois será um ano de ajustes para recuperar a economia. Esqueceu-se de falar que enquanto o povo vê ruir seus salários e empregos, o Itaú mais uma vez comemora seus lucros recordes de 20 bilhões de reais em 2014. A paciência que o governo quer é dos de baixo, pois no andar de cima da elite a mesma estrutura tributária e política seguirá os beneficiando.

A indicação de Joaquim Levy para a Economia, Kátia Abreu para Agricultura e tantos outros paladinos da direita, dá o tom de quem vai ganhar ou perder. Exemplo: a crise da Petrobras significou a privatização de mais de R$ 13 bilhões dos ativos da empresa, tudo que o PSDB queria. As pessoas votaram em Dilma, mas ela aplica o programa de Aécio. O impeachment poderia mudar esse quadro? Não, pois assumiria o vice que é do PMDB e defende a mesma coisa.

Por outro lado, as investigações da Lava Jato mostram o apodrecimento do regime político no Brasil. Um dos maiores defensores da linha do impeachment e convocante do ato do dia 15 de março foi o partido mais atingido pela lista Janot. São 32 parlamentares do PP (Partido Progressista) acusados de receber “mesadas” mensais e financiados pela roubalheira na estatal. Aqui no Rio Grande do Sul, todos os deputados federais da sigla na última legislatura aparecem como beneficiários do esquemão. Incluindo, Luiz Carlos Heinze, inimigo das lutas por direitos civis e sociais.

Estão na lista ainda o presidente do Senado, recorrente envolvido em esquemas de corrupção, Renan Calheiros e o fundamentalista Eduardo Cunha, presidente da Câmara. O braço direito de Aécio Neves e ex-governador de Minas Gerais, Antônio Anastásia, políticos do PT e do PTB, incluindo Collor de Melo e seu antigo algoz Lindbergh Farias, ex-líder dos caras pintadas.

Seria cômico se não fosse trágico. Mas o impeachment do sujo nunca absolverá o mal lavado. Ao contrário, a capitulação do PT a este modus operandi do Balcão de Negócios é também a explicação para o crescimento da direita.

O que temos visto é que O PSDB bate, o PMDB assopra e o PT concede a ambos, mexendo no FGTS, no seguro-desemprego, cortando 30% das verbas das Universidades e demissões aumentando em toda parte. Conclusão? Só podemos contar com nossa própria luta, porque no andar de cima todos querem os ajustes contra o povo.

O que precisamos de verdade é um novo programa, de esquerda, construído com os movimentos sociais, que reivindique nossos direitos e rompa com os gigolôs do capital financeiro. São medidas de coragem, mas que aumentariam o controle popular sobre a política e a economia, fazendo com que os ricos paguem pela crise e não o povo trabalhador. O momento é de lutar, com coragem, por uma alternativa que passa pela auditoria da dívida, imposto sobre as grandes fortunas, congelamento dos preços, ampliação dos direitos civis, reforma urbana, agrária e política. Entretanto, a única forma de conquistar é a auto-organização dos trabalhadores e da juventude e a construção de um polo alternativo que combata o governismo e a direita. Nesse sentido, várias entidades estão construindo o dia 12 de março, um ato independente e classista com concentração às 11 horas na frente do Palácio Piratini. Só nossa luta poderá garantir um outro futuro.

Fernanda Melchionna é vereadora do PSOL em Porto Alegre e integrante da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal.


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