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24 de julho de 2017
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11:29

O único que não deixará o Brasil é o seu torcedor

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O único que não deixará o Brasil é o seu torcedor
O único que não deixará o Brasil é o seu torcedor

Por Eduardo Silveira de Menezes1

Rogério Zimmermann deixou o Grêmio Esportivo Brasil, após cinco anos de muitas conquistas. Não existe um único torcedor que não reconheça os serviços por ele prestados ao clube. Levar o xavante da divisão de acesso do Campeonato Gaúcho de volta à elite do estadual e, concomitantemente, para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro é um feito histórico. Isso é inegável! Mas, neste ano de 2017, as coisas não andavam bem. Depois de quase ser rebaixado, no Gauchão, o Brasil está tendo um começo nada animador no Brasileiro. Mais próximo da zona de rebaixamento do que da zona de classificação, em 15 rodadas, o time já havia sofrido quatro goleadas vexatórias. Era preciso trocar o comando.

Foto Ailton Cruz – Gazeta de Alagoas

A direção blindou o então treinador o quanto foi possível, mas ficou difícil justificar a péssima campanha com um resignado “normal” – palavra mais repetida nas entrevistas coletivas. Não, Rogério. Não havia nada de normal na Baixada. Não é possível tratar com normalidade o afastamento de dois jogadores por indisciplina, em um clássico contra o Internacional, e o retorno de um dos atletas, como capitão, na partida seguinte. Também não seria possível a torcida ver com naturalidade um banco de reservas composto apenas por um jogador de frente – o veterano Gustavo Papa –, sem que houvesse uma justificativa “normal” para os demais atletas não estarem no banco de reservas. A maioria dos jogadores poderiam, ainda, estar fechados com o ex-comandante. Não é possível afirmar nem que sim nem que não, mas também havia desentendimentos e descontentamentos. Isso era notório. Tanto que o então diretor de futebol, Cláudio Montanelli, resolveu deixar o cargo. Caía, assim, o principal atributo de Rogério: ter o controle do vestiário.

Durante esses cinco anos, sempre que faltou qualidade técnica, entendimento tático e individualidade, o Brasil se superou pela força e vontade de um grupo que aprendeu a correr pelo seu treinador. O desmonte da base da equipe, no final de 2016, mudou em definitivo essa relação. A torcida passou a se dividir. Rogério deixou de ouvir seu nome sendo reverenciado, nas arquibancadas, como em anos antes. Os desentendimentos com os torcedores aumentaram. Chegou ao ponto do então comandante rubro-negro criticar o comportamento dos torcedores que estavam insatisfeitos. Em parte, o presidente do clube também tem assumido uma postura semelhante. Parece que a atual gestão quer escolher o perfil do torcedor que deve frequentar o estádio. Algo inconcebível e despropositado. Rogério se foi. Foi bom para ele. Foi bom para a torcida. Foi bom para o clube. Mas a postura intransigente da direção permanece. À cobrança de ingressos e mensalidades que não condizem com a realidade financeira da torcida somam-se os recados desastrosos pelas rádios locais. Quando questionado sobre a influência da vontade da maioria dos torcedores na demissão de Rogério Zimmermann, o presidente Ricardo Fonseca disse que “a opinião da torcida em nada interfere nas suas decisões”.

Uma postura inadequada, que tem se refletido nas arquibancadas. Muitos estão deixando de ir ao estádio. Como dirigente máximo do clube, a atitude deveria ser diferente. Precisamos de todos. Sem distinções. Os que concordam com as escolhas dos treinadores e os que discordam. Os que concordam com as decisões tomadas pela direção e os que discordam. Os que estão na direção e os que estão nas arquibancadas. Todos somos Brasil. Ninguém é mais xavante do que ninguém. O que nos une e nos mantém fiéis ao clube é o amor que dividimos por ele.

Na última partida pela Série B, Clemer assumiu o comando técnico. Novamente, houve divergência de opiniões entre torcedores, conselheiros e dirigentes em relação à escolha. Já no primeiro jogo, com a nova comissão técnica, o xavante voltou a vencer. Pela 16º rodada, bateu por 2 x 1 o Paysandu, no Bento Freitas. Distanciou-se uma posição a mais da zona de rebaixamento. Ocupa, agora, o 15º lugar. Nesta terça-feira (25), enfrenta o ABC, fora de casa, ainda sem o tempo necessário para que Clemer possa implantar a sua metodologia de trabalho, mas com um grupo mais motivado, como foi possível perceber no jogo de estreia da nova comissão técnica.

Rogério saiu. Um dia poderá voltar. Basta compreender o seu papel dentro do clube. Ninguém, jamais, será maior do que a instituição Grêmio Esportivo Brasil. Um clube que, por sinal, só tem razão de ser – e existir – pelo respeito ao amor dedicado por sua torcida. A paixão do torcedor é inviolável. É o que há de sagrado. Não saber lidar com os arroubos de emoção dos torcedores xavantes e passar a tomá-los, em alguns casos, como adversários (ou inimigos pessoais) é de uma imaturidade que não condiz com o atual momento do clube. Crescer, dentro e fora do campo, é ter a humildade de evoluir, também, enquanto profissional. Os torcedores amam o Brasil. Isso faz com que eles admirem os profissionais que contribuem para as conquistas, mas não os coloca na mesma relação de amor que existe com o clube. Isso é impossível.

Jogadores, dirigentes e treinadores passam. Só o torcedor permanece. Ter uma foto, em um quadro, com destaque pela participação em alguma conquista torna essas pessoas uma parte importante da história do xavante, mas nunca colocará nenhuma delas em uma relação sequer de equivalência com o espaço que a instituição Grêmio Esportivo Brasil ocupa no imaginário do seu torcedor. Boa sorte, ao Clemer! Enquanto estiver à frente do time rubro-negro, torceremos pelo seu sucesso e, caso demonstre competência para nos levar além, gritaremos seu nome nas arquibancadas. Ele só precisa compreender que o seu maior aliado para crescer profissionalmente está nas arquibancadas. Toda atitude de crítica e elogio será resultado de uma manifestação de amor e, portanto, precisa ser encarada como tal.

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1 Eduardo Silveira de Menezes é jornalista, mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos, doutorando em Letras pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e, acima de tudo, torcedor xavante. E-mail: [email protected].


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