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21 de junho de 2017
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17:50

Algumas considerações de um torcedor xavante ao técnico Rogério Zimmermann

Por
Sul 21
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Eduardo Silveira de Menezes1

Eu tenho enorme respeito pela sua trajetória à frente da comissão técnica do Grêmio Esportivo Brasil, nos últimos anos, caro Rogério Zimmermann. É uma admiração quase tão grande quanto a que tenho por quem nos levou ainda mais longe, como Walmir Louruz, responsável por conduzir o xavante na histórica vitória diante do Flamengo de Zico, Mozer, Adílio, Andrade, Leandro e Fillol. Muito ouvi meu pai comentando sobre essa partida. No meu time de botão, quando guri, o comando de ataque era formado por Bira. Mas Andrezinho, Júnior Brasília e Zezinho também estavam escalados. Lá atrás, a segurança de Hélio e Silva. É engraçado lembrar disso. Foram vários os jogadores que passaram pelo clube e que, mesmo sem uma memória vivida ou recente – como a que tenho de Luizinho e Milar –, marcaram a minha infância.

Rogério Zimmermann | Foto: Divulgação

É aquele amor de pai pra filho que me tornou xavante, sabe? Mas não foi só isso. Não tenho outro clube, embora a propaganda sempre tenha sido forte para que optasse por um da capital. Cheguei a “torcer” para outros clubes, como qualquer moleque tentando se encontrar, mas confesso que esse coração xavante chegou em um momento, ainda jovem, de definição sobre qual clube estaria disposto a estar ao lado, em qualquer condição, e para sempre. O ano de 2004, quando estivesses pela primeira vez à frente do Brasil, foi marcante. Aquela minha opção pelo xavante acima de tudo, ganhava contornos de esperança em desbancar os considerados “grandes” do mercado da bola. Bastava retornar ao cenário nacional – eu pensava! Associei-me! Não faltei a jogos decisivos, em Pelotas e fora, mesmo morando em Porto Alegre durante dois anos.

Na verdade, Rogério, para nós, xavantes, nenhum outro clube é “maior” do que o Grêmio Esportivo Brasil. Não temos qualquer objetivo com o futebol que não seja o de ver o xavante jogando com vontade de vencer contra todos – incluindo os considerados “grandes da capital”. Os profissionais passam pelos clubes. Os enxergam como espaços de possível ascensão na carreira. Isso é “absolutamente normal” – como você mesmo costuma dizer. Mas nós, torcedores, ficamos. Estaremos ao lado do xavante em qualquer divisão. Mesmo quando a direção estabelece preços de ingressos que não condizem com a realidade financeira da maior parte da nossa torcida e tenta atribuir essa decisão à nós – sócios – nos esforçamos para tentar dissuadi-la dessa decisão e, diante do insucesso, seguimos ao lado do Brasil. Jogos distantes, arquibancadas móveis não liberadas, espremidos embaixo do pavilhão ou esmagados na tela. Nada importa. O que conta é poder participar de toda aquela mística que envolve uma partida do xavante.

Eu sei que você se irrita com alguns torcedores por quererem lhe dizer como treinar e escalar o Brasil. Eu mesmo faço isso. É o que fazemos. Discutimos como se comportam os nossos jogadores, os resultados, as escalações. Discordamos e concordamos o tempo inteiro quando o assunto é futebol. Críticas e elogios! Anota mais uma vez aí: “é absolutamente normal”. Só discordar ou concordar com tudo é que pode ser considerado fora da normalidade. Eu já gritei seu nome na tela. Mas também já sai te xingando. Você diz estar seguro de suas decisões, mas, quando vai para tela bater boca com um torcedor, demonstra justamente o contrário. Não aconteceu comigo. Mas já vi. Os critérios para a escalação do time são seus. Mas a camisa que eles vestem é nossa. O Brasil é da sua torcida. Divergindo e concordando uns com os outros o tempo inteiro. Elogiando, xingando, brincando, cantando, pulando… fazendo o que qualquer torcedor, de qualquer outro clube de futebol, com torcida e apelo popular, faz.

Nenhum acesso recente teria sido possível sem a participação da torcida. Você sabe disso. Clubes sem torcida até “cometem o crime” de ganhar alguma coisa, mas jamais terão a possibilidade de serem projetados para 5, 10 anos jogando as séries B ou A do Campeonato Brasileiro. O Brasil só pode fazer isso graças a torcida que tem. Somos nós que fazemos o clube. Corneteando, elogiando, comendo amendoim, cantando nas arquibancadas. Pedindo a sua permanência ou pedindo para que você vá embora. Pedindo que jogue A e que B “pegue o Penha e não volte nunca mais”. Pagando a mensalidade ou não sendo sócio. Torcendo pelo radinho ou assistindo no premiere. Cada um, ao seu modo, é torcedor do Brasil e precisa ser igualmente respeitado, desde que não se diga torcedor, mas coloque outro clube acima do Brasil. Enquanto estiveres à frente do clube, todo torcedor tem a obrigação de torcer pelo teu sucesso, mas isso só acontece porque torcemos, em primeiro lugar, pelo sucesso do nosso time. Deixa a vaidade e o ego no banco de reservas. Em campo, nós queremos apenas o que for melhor para o Grêmio Esportivo Brasil.

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1 Eduardo Silveira de Menezes é jornalista, mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos, doutorando em Letras pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e, acima de tudo, torcedor xavante. E-mail: [email protected].


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