Sandra Djambolakdjian Torossian (*)
Para Renata
Contam que quando os jovens estudantes duvidavam sobre a correção dos seus escritos pelos professores, eles escreviam, no meio do texto, uma receita de bolo. Curiosa estratégia. Os estudantes não deveriam duvidar da ética dos seus professores.
Dizem que a mesma tática foi utilizada por vários editores e artistas para enfrentar diferentes momentos de censura no país. Momento de silenciar. Triste é também pensar nessa opção.
Ontem assisti a eleição à presidência do senado e minha alma foi habitada pela mesma tristeza. Assim como ninguém deveria duvidar da ética dos seus professores, um país não deveria duvidar da ética dos seus legisladores. Que lamentável visão, senadores trapaceando o voto. Anulação da eleição. Preenchimento da cédula desleixadamente, numa clara atitude de falta de respeito com o país.
Essa tristeza não é de agora, assim como não são de agora essas estratégias. Depois desse espetáculo legislativo, fui ao cinema assistir A Favorita. Minha alma não encontrou ali nenhum consolo, nem qualquer sossego. Um espetáculo da decadência nas relações de poder, num momento em que a Inglaterra vivia uma época de auge político, no reinado de Queen Anne. Relações de manipulação e dominação, entre as mulheres e entre os partidos. Um show de desfrute das fragilidades de todos é a tônica das cenas.
Outras cenas se fazem presentes, Brumadinho, Mariana, Boate Kiss, e tantas outras.
Hoje acordei com vontade de cozinhar. Talvez para alimentar a alma de outros ingredientes. Talvez para cozinhar o tempo que ainda virá. Minha receita, então:
Bolo de chocolate
Ingredientes
- 2 xícaras (chá) de farinha de trigo
- 12 xícara de chocolate em pó
- 3 colheres (sopa) margarina
- 3 ovos grandes
- 1 xícara (chá) leite gelado
- 1 xícara (chá) de açúcar refinado
- 1 colher sopa bem cheia de fermento em pó
Modo de preparo
Bata os ovos, o açúcar e a margarina até obter um creme fofo. Desligue a batedeira e acrescente o leite, mexa , acrescente a farinha e o chocolate, mexa, bata um pouco para misturar os ingredientes, desligue a batedeira e acrescente delicadamente o fermento. Assar a 180 graus por mais ou menos 35 minutos.
OBS: O segredo é acrescentar uma xícara de água quente no final da mistura.
E que o calor humano nos aqueça neste tempo.
(*) Psicanalista, membro da Appoa, professora do Instituto de Psicologia/UFRGS
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